A exceção – Raí (conto erótico)

   Essa é a segunda parte da terceira história da terceira temporada da Novelinha <3

Se ainda não leu a primeira, "Sabrina", clique aqui.


O bicho homem é definitivamente o ser mais exótico e proporcionalmente o mais tóxico que habita a face deste lindo planeta Terra. É um belo animal dito racional que não sabe voar, mal consegue nadar, se locomove em geral numa lentidão absurda e ainda assim nasce com alto poder de destruição – com relação a si mesmo, aos outros e ao próprio meio, que provavelmente é quem mais sofre com ações diárias, disparadas por metralhadoras invisíveis que vivem carregadas de cartuchos de maldade, dos mais variados tipos. Sim, porque infelizmente o que não falta neste mundo é gente de coração ruim; tanto que, na minha humilde opinião, “ganância e destruição” deveria ser o lema da nossa bandeira.

É curioso porque somos seres sociáveis que socializam mal – a começar por mim, que quanto mais observo o ser humano, menos contato quero ter. Se pudesse, me isolava de tudo e de todos e ia morar no meio do mato, que nem uma ermitã. Mas como não posso, no acumulado de 29 anos bem vividos aprendi a reconhecer a capacidade letal que cada pessoa carrega dentro de si.

Não falo essas coisas com base em dados científicos, ou me apoiando em estudos renomados que certamente existem; afirmo pura e simplesmente escorada na minha capacidade de observação e no poder de absorver o que vejo, as interações à minha volta. Hoje mesmo fiquei um tempo sentada na escadaria do metrô República, só vendo a massa humana ir e vir, parecendo uma artéria pulsando. Esta é uma experiência que gosto de ter, que poderia perfeitamente ser chamada de “trabalho de campo”, se eu fosse acadêmica, porque não deixa de ser uma grande análise antropológica, mas no meu caso é só tédio mesmo. Gosto de olhar as pessoas porque parece que é quando estamos distraídas que agimos de acordo com a nossa verdadeira essência – que pode ser boa ou ruim, convenhamos. Dá para tirar excelentes conclusões a partir dessas observações.

O que noto é que há pessoas naturalmente gentis, outras que forçam a gentileza por serem educadas e existem aquelas que são simplesmente brutas, quase selvagens, mesmo, que nem percebem que vivem submersas no lago do ego, do egoísmo. Ou percebem e não se importam – e este é sem dúvida o pior tipo. Esse comportamento é nítido nas pequenas ações do cotidiano que podem ou não acontecer, como deixar livre o lado esquerdo da escada rolante para quem tem mais pressa, pedir desculpa após um esbarrão acidental que sempre ocorre, lembrar da palavrinha mágica que abre portas (“com licença”), esse tipo de coisa. Vivendo em São Paulo, uma cidade grande e com alto índice populacional, o que não falta é oportunidade para observar o comportamento alheio. E julgar.

O interessante é que numa concentração qualquer de adultos, por exemplo, num terminal de ônibus, num shopping center de domingo ou em qualquer outra muvuca, facilmente dá para notar quem é ou não “gente grande”. De maneira discreta e obviamente sem que percebam, meu passatempo é apontar, dentre todos perto de mim, quem realmente amadureceu depois de crescer. É um hobby, entenda, não significa que seja feito enquanto estou sentada num pedestal cimentado com maturidade, ou que eu própria seja evoluída (até acho que sou, mas isso não vem ao caso agora).

É só que acredito que na vida adulta não somos nada mais do que já éramos na infância, embora numa “versão aprendiz”, como uma semente que cresce, pura e simplesmente; estamos dentro de nós do começo ao fim e há quem atravesse o portal da maioridade depois de um tempo, enquanto há também quem até hoje se atire no chão dos supermercados da vida fazendo birra, mesmo que a mamãe não esteja perto. A estes dou o nome de “bebê”, que parece fofo, mas na verdade é o nível mais rasteiro da escala que criei e que utilizo em minhas divagações.

Fica muito mais fácil compreender as ações do outro a partir do momento em que você o considera imaturo, literalmente. Bebês não sabem o que fazem, afinal, agem mais por instinto do que por qualquer outro motivo. Mas embora isso facilite, nem de longe faz com que uma interação social qualquer se torne um processo mais simples para mim. Sou um pouco intolerante, ao que parece.

O fato é que após anos de julgamento implacável, as principais conclusões que chego é que caráter não é hereditário, nem vem de berço; que embora soe místico, cada ser vivo tem consigo uma energia, que tende a ser mais ou menos positiva; e que, como dizem por aí, nem os dedos das mãos são iguais, por que nós seríamos? A diversidade faz parte, inclusive de caráter.

Claro que toda essa análise não tem, como mencionado, nenhum embasamento técnico, mas faz sentido para mim e isso basta. Só que não à toa não costumo compartilhar com os outros estas teorias – exceto com uma única mulher, que excepcionalmente nasceu com a capacidade de ler minha mente e até meu coração, que eu dizia não ter.

Ela é simplesmente a mulher mais incrível e inteligente que eu conheço, entende absolutamente tudo de gente e de mente, e faz cada uma das minhas teorias parecer só um grande emaranhado de tolices, construído com analogias absurdamente frágeis. É a única pessoa em quem confio verdadeiramente, de um jeito que não consigo explicar nem mesmo para mim, por mais que tente. Seu nome é Sabrina e no mundo inteiro só nós duas sabemos que ela é minha, e eu sou dela, em vários sentidos e em muitos níveis.

Não temos exatamente um relacionamento, propriamente dito, embora tenhamos, há muitos anos. É uma relação de confiança e até mesmo de amor, porque nada sem amor tende a durar, concorda?

Somente com Sabrina sinto que posso ser eu mesma, daquele jeito que nem sempre é possível, ao menos não com qualquer uma. Quando estamos juntas não me sinto no dever de ter que disfarçar minhas angústias, ou meus receios, ou ainda de precisar calar meus julgamentos incessantes e automáticos. Não porque ela própria não julgue (acho até que faz isso melhor que eu!), mas especialmente porque seus retornos não me machucam – no sentido mais profundo da palavra! – e nem me incomodam. Pelo contrário, gosto de tudo que vem dela. Tudo. Tenho a sensação de que ela vive um passo à minha frente, como se de alguma forma soubesse dos meus desejos mais secretos, muito mais do que eu sozinha seria capaz de descobrir.

Para ilustrar: a segurança que tenho com Sabrina é tão integral que me entrego plenamente em suas mãos e às suas vontades, de corpo e alma, sem moderação, inclusive permitindo que ela venda meus olhos e tampe minha boca, me amarre e me prenda de todas as formas, pelo tempo e motivo que bem entender, ao seu bel prazer. Nossa relação prevê várias trocas e posso garantir que é bastante aprazível para nós duas; há recompensas para minha submissão, muito embora eu me satisfaça unicamente em atendê-la, em satisfazê-la.

É óbvio que nem todo mundo consegue entender dessas coisas e por este motivo não falo com ninguém, de modo algum, também sobre isso. Gosto é algo muito particular e acho que o meu se enquadra na categoria dos mais excêntricos; desconheço quem mais se excite apenas com a possibilidade de ser útil, como ocorre comigo.  

Eu a-do-ro ter serventia na vida de Sabrina. Por isso costumo ir regularmente até a sua casa, só pelo prazer de cuidar (dela e das coisas dela), deixar tudo bem limpinho, brilhando, perfumado. É também uma forma singela de retribuir tudo de bom que só ela consegue me proporcionar de verdade.

Termino sempre muito exausta, realmente esgotada, porque não há canto que deixe de ser varrido e lavado, esfregado e passado, e porque meu serviço é sempre completo, engloba também ao final me doar por algumas horas, sem contestar, à criatividade infinita de Sabrina, que caminha sempre ao largo da previsibilidade – bem longe, nossa! Isso tudo me exaure de formas que nem consigo listar.

Mas vale a pena – ô se vale!, tanto que volto! Depois à noite gosto de ficar imaginando-a sozinha, andando toda imponente pelo apartamento impecavelmente limpo por mim, deslizando com seus pés descalços por um piso que, de tão brilhante, qualquer uma pode simplesmente se ajoelhar ou se deitar inteiramente nua, onde bem entender – ou onde ela bem mandar, que é o que condiz mais com a realidade. Aí me pego pensando que essas faxinas feitas por puro prazer não deixam de ser uma forma de eu me manter presente na rotina da dona do meu tesão, mesmo quando estou longe.

Dona Sabrina, inclusive, é um perfeito exemplo de como as pessoas são únicas neste universo tão vasto e sortido: ela tem uma irmã gêmea completamente diferente dela, ainda que sua aparência seja assustadoramente igual (com exceção de cinco detalhes singulares). Por serem tão distintas é que preferi aguardá-las saírem, depois de mais de 15 dias sem vê-la, quando cheguei ao oitavo andar do prédio onde moravam e me deparei com as duas no hall do elevador, em frente ao apartamento da Dona.

Já pretendia mesmo ficar alguns segundos por ali recuperando o fôlego, porque subir oito andares de escada é bem cansativo... Então o que fiz foi prolongar a pausa até que fossem para o andar de cima, onde a outra morava. Foi o melhor a fazer porque enquanto Sabrina me oferece conforto, de Giovana, a gêmea, o que vem é só uma energia esquisita. Ela não é má pessoa, é só... sei lá. Estranha.

“Tão iguais e tão diferentes!”, penso, girando a maçaneta da sala assim que a luz do painel no corredor indica que o elevador parou no andar de cima. Ao entrar no apartamento imediatamente sinto o cheiro inebriante de Sabrina, que preenche cada cômodo e me faz fechar os olhos em puro deleite, sem que eu perceba. Mas desta vez nem pude me deliciar direito, como era de praxe e de costume, porque minha satisfação foi repentinamente interrompida quando percebi que não estava sozinha.

– Ei, o que você está fazendo aqui? – questiono, assim que a figura entra em meu campo de visão. Se fosse uma ladra, era do tipo mais estranha porque ao invés de roubar estava na cozinha, com metade do corpo enfiado dentro da geladeira – Quem é você?

– Ué, eu é que pergunto! – ela revida, abrindo uma garrafa de água e bebendo direto no gargalo. Me olhou de canto como se tivesse sido interpelada por algum cão de guarda, mas isso não me ofendeu.

– Quem quer que seja, nada te dá o direito de invadir assim a cozinha da Dona Sabrina – rebato, fechando a porta da geladeira, enquanto ela bebia metade do conteúdo da garrafa de vidro, em goles sedentos.

– Eu fui convidada para vir aqui e você?, foi? – a mulher finalmente me encara, tomando ar antes de beber o restante da água. Estava vestida como se tivesse sido raptada no meio de uma corrida num parque – Não foi dito nada quanto à sua presença aqui hoje, então já sabemos quem é que vai ter que ir embora, não é mesmo?

– Com certeza não será eu! – grito, porque ela saiu andando, o que me forçou a ter que falar mais alto. Fui a seguindo pelo corredor, ela caminhando rebolativa como se fosse uma exímia conhecedora daquele espaço, cheia de intimidades.

– Ei, não vem gritar comigo, não – ela berra, ao entrar no quarto.

– Não vem você me dizer o que eu tenho que fazer! – rebato, ainda mais alto, a seguindo logo atrás.

Não pude falar mais nada porque Dona Sabrina chegou nem sei de onde já impondo ordem, mas nominalmente falando comigo! Isso me enfureceu muito mais do que flagrar uma estranha dentro da casa dela, sem sequer ter sido avisada de que teríamos visita. Quando a luz do quarto se acendeu, depois que ela bateu com força a mão no interruptor, só não a encarei com os olhos carregados de um visceral aborrecimento porque não sou biruta e, antes que ela me olhasse, foquei no chão.

Ela não pareceu surpresa com a presença da outra mulher em seu quarto; pareceu, para mim, que tinha é se esquecido de que eu estaria por ali também. Igualmente não senti nenhum espanto por parte dela, ou perturbação, quando a mulher só desviou o olhar após ser intimada, finalmente. Petulante! De relance, vi que parecia quase tão brava quanto eu, enquanto Dona Sabrina, por sua vez, só dava mostras de estar frustrada por ter que apartar briga, mas não aparentava estar exatamente zangada.

                Com duas ou três palavras, em vez de expulsar a estranha o que ela fez foi mandá-la para o banho! No seu banheiro! Nem eu tomava banho ali! Isso me deixou tão mais brava que respondi atravessado quando ela falou comigo depois que ficamos a sós, porque pareceu que a convidada a se retirar seria eu! Eu!

                A esta altura você deve estar pensando “ah, mas que bebezona, depois de todo aquele discurso...”. Não julgo, eu pensaria o mesmo se me contassem tudo isso e o que me irrita é que na hora foi exatamente como me senti! Infantil! Ainda mais quando fiquei sozinha no quarto, depois que a Dona saiu batendo o pé, mostrando que naquele momento também me considerava uma menina birrenta.

                No instante em que o chuveiro foi ligado pela mulher que eu ainda nem sabia o nome (e nem fazia questão de saber!), fui atrás de Sabrina para de alguma forma tentar me redimir por toda a cena e o consecutivo climão que veio de carona. Nada disso estava previsto para o nosso reencontro, era meu dever consertar as coisas! Cheguei perto dela já puxando na área de serviço o balde de dentro do tanque, os produtos de limpeza e o esfregão, deixando claro qual era meu intuito naquele fim de dia, mas ela me abordou antes de se sentar na cadeira onde costumava fumar e puxou da minha mão o que eu carregava, dizendo que não faria faxina nenhuma. Ainda não havia brabeza em seu rosto e não entendi o que ela queria de verdade.

Ao meu redor vi a cozinha bagunçada, com um monte de coisa fora do lugar, vários chás espalhados pela bancada... Aí aproveitei que ela não estava zangada e usei meu poder de sedução, mesmo depois que ela me mandou de volta para o quarto. Só que desta vez, pela primeira vez!, meu corpo colado no dela não surtiu o efeito esperado, nem mesmo quando me esfreguei em sua coxa, do jeito que ela gostava. Seu tom todo seco como resposta só não me murchou diante das minhas próprias expectativas porque, por algum motivo, aquela entonação me excitou. Não me senti em nenhum momento rejeitada, talvez por isso. Percebi que eu fazia parte da festa dela.

Não parecia certo pular o jantar direto para a sobremesa, como ela pretendia fazer, nem era justo participar uma sessão junto de outra pessoa sem antes não ter sido minimamente consultada, como nas vezes anteriores, mas juro que serei a última pessoa deste mundo a um dia contrariar Dona Sabrina. Assim como ela, conheço bem o nosso histórico, de várias formas é notável que ocupo uma posição privilegiada em sua escala hierárquica, e se a convidada era especial o suficiente para desfrutar com a gente de um momento íntimo, me esforçaria para pelo menos tentar entender o porquê.   

Meu dever é satisfazer Dona Sabrina, mesmo que não compreenda o que a leva à satisfação – e talvez este fosse o caso! Por isso, ao retornar para o quarto depois de ela me mandar de volta para lá eu já me sentia completamente desarmada e disposta a dar uma chance para a estranha. Mas em contrapartida ela tinha a obrigação de entender quem era quem na fila deste pão!

Me ajoelhei ao lado da cama instantes antes da mulher sair do banheiro, usando duas das toalhas da Dona e nada mais. Nem de longe aparentava sentir algum desconforto pelo ocorrido, mas seu olhar ao menos parecia mais amigável quando falou comigo.

– Desculpa, não sabia que você estaria aqui – ela diz, puxando um pufe para perto, desorganizando a arrumação do quarto. Me analisou ali ajoelhada, mas não questionou o motivo. Sua voz deu a impressão de que hasteava uma bandeira de paz – Vamos tentar de novo. Amigas? – pergunta, estendendo a mão para mim – Seu nome é Raiana, né?

– Raí – resmungo, antes de apertar sua mão – Devo te chamar de Vira-lata? – indago, ciente de que era um nome que eu jamais tinha ouvido!

– Me chamo Luana – ela responde, cerrando um pouco o cenho.

Por algum motivo Luana tirou e recolocou a toalha pequena em volta do cabelo molhado, prendendo a pontinha na nuca. Sem dizer nada, num movimento rápido puxou a caixinha de som de cima da mesa, a jogando em cima da cama depois de ligá-la, trazendo o celular para perto. Seus movimentos se davam numa frequência agitada; ela toda era meio enérgica, irrequieta. Sem querer imaginei como é que Dona Sabrina a dominava e imediatamente supus ser este o motivo para ela não ter ficado brava com a afronta de mais cedo. Não manter os olhos presos no chão é falta grave, afinal de contas, mas pode ser relevado se a submissa for hiperativa, pensei.

– Qual a senha do wi-fi? – Luana pergunta de supetão. Balançou o celular como se aquilo reforçasse de alguma forma o que queria saber – Vou pôr uma musiquinha para a gente ouvir.

– “Terapia em dia”. Tudo junto, em caixa baixa – respondo, erguendo os ombros como complemento à informação – Coisa de Dona Sabrina...  

– Tá certo – ela ri, deixando à mostra duas covinhas nas bochechas.

                Luana era cheia de atitude, toda segura de si, exalando autoconfiança. Provavelmente isso chamava a atenção da Dona, que gosta do espontâneo, do natural. Enquanto ela pareava as tecnologias, fiquei pensando que mesmo tendo liberdade eu nunca tinha tido a iniciativa de escolher alguma música para tocar enquanto estava ali.

Nesse primeiro contato mais próximo reconheci que era muito bonita, primorosa de um jeito que jamais havia visto – decerto por conta do favorecimento de sua combinação genética. Depois eu viria a saber que as origens de Luana, que trabalhava como redatora publicitária numa agência famosinha, eram uma mistura de japoneses foragidos da guerra com índios nativos que fugiam de outros horrores. Uma combinação rara com um ótimo resultado, admiti.

A primeira música a tocar foi uma mistura de funk e eletrônico, que provocou uma dancinha voluntária em Luana, que rebolou ao tirar o pufe do meio do quarto, empurrando-o para perto da janela. Quando voltou a sentar, ainda próximo de mim, só que de costas para a porta, pareceu estar sensualizando, mas não sei se de fato fez isso ou se foi só uma impressão minha, considerando que logo depois ela começou a cantarolar junto com o refrão, que se repetiu algumas vezes até Sabrina finalmente voltar para o quarto, depois de vários e longos minutos. Meus joelhos já começavam a doer em cima daquele tapete e vê-la foi um sinal de que metade do tempo já tinha passado.

– Olha, não me interessa como vão fazer para se entender, mas quero que se resolvam – Dona Sabrina fala, puxando uma toalha cor-de-rosa do guarda-roupa ao lado da cama, olhando primeiro para mim, depois para Luana – Vocês têm 15 minutos – complementa, sem dar tempo de respondermos algo.

– Nossa, como essa mulher é brava! Que delícia, adoro! – Luana diz, baixinho, quando a porta do banheiro se fecha. O comentário veio junto de um risinho malicioso – Nunca participei de sessão com mais gente e você? Já? – ela emenda as perguntas, depois que fico quieta.

– Já, algumas vezes... – murmuro, porque ela ficou me encarando.

– No plural?! – Luana pareceu extasiada com a resposta. Aí ficou um tempo quieta, notavelmente distraída com o entretenimento que sua mente lhe fornecia, com um meio sorriso mantido no rosto.

– Geralmente é algo previamente combinado – comento, porque seu silêncio pareceu se prolongar por tempo demais. Quando me olhou, deu a impressão de já estar pensando em outra coisa – Sabe como a Dona Sabrina é, gosta de tudo certinho, bem acordado.

– Sei sim, no nosso primeiro contato já me fez assinar um contrato – ela ri – Pera, então hoje é uma exceção? Uma exceção às regras de Dona Sabrina? Como somos transgressoras!

– Eu não fui comunicada de nada – falo, mas ela não parece me ouvir.

– Nem eu! – Luana rebate, demonstrando estar antenada na conversa – Para ser sincera, não estava nem esperando por uma sessão hoje, faz dias que a Dona anda sumida, minha última mensagem nem foi lida, ela adora fazer isso... – a mulher volta a divagar.

– É porque a irmã dela estava por aqui – explico, me segurando na borda da cama para me ajeitar na posição.

– Sim...

– Por causa da cirurgia – complemento, para mostrar que detinha todas as informações.

– Sim! – Luana responde com mais ênfase, socando a palma da mão esquerda com a mão direita – Mulher, e eu não encontrei com essas duas no parque mais cedo? Sem nunca ninguém ter me dito que a Dona Sabrina tinha uma irmã? – ela cochicha, com a mão em concha.

– Mentira – eu rio, mas um pouco de nervoso, ao me imaginar protagonizando a cena – Você as confundiu?

– Claro! As duas são idênticas! – ela se justifica. Levantou os olhos antes de um suspiro pesaroso, acompanhado de uma balançada frustrada de cabeça.

Quase idênticas!

– É, agora uma tem silicone. Soube hoje também – Luana retruca, sem se atentar ao que eu dizia de fato.

– Você confundiu as duas e mesmo assim foi convidada para vir para cá? Que façanha! Como foi que conseguiu isso? – questiono, mas Luana só levanta os ombros em resposta – Elas detestam ser confundidas. A Giovana muito mais do que a Dona, mas não deixa de ser um baita motivo para te desconvidar.

– Eu percebi que este é um campo bem espinhoso, sim – ela volta a rir, agora parecendo despreocupada – Não sei dizer porque estou aqui, Raí. O convite veio depois que a Dona me esclareceu tudo, nem eu imaginei esse desfecho. Provavelmente ela me trouxe até sua casa para dar as chicotadas que eu pedi para a irmã errada aplicar – Luana fala, parecendo sincera, seus pensamentos desvendando o mistério ao vivo, também para ela.

– Você... – eu tampo a boca com a mão para evitar que minha risada faça muito barulho – ... pediu para a Giovana te bater? – o riso acaba escapando por entre os dedos, atropelando minhas palavras – Com certeza é por isso! – agora gargalho, porque de tudo o que tinha imaginado para a sua presença no apartamento esta noite, nada chegou nem perto do verdadeiro motivo.

– É, agora preciso reparar meu erro. Alguma sugestão? – ela pergunta, voltando a dançar sem perceber – O primeiro passo é sermos amigas, pelo que entendi.

– Se a gente não brigar já vai ser um bom começo... – resmungo, ciente de que “amizade” era um objetivo meio inalcançável – Te sugeriria um strip-tease, mas você já está nua – falo, apontando para a toalha que tampava parte de seu corpo cheio de disposição de se mexer.

– Boa ideia – Luana rói a unha do dedo médio, parecendo nervosa, mas o gesto foi espantosamente breve – E quanto ao meu erro no parque? Tem algum conselho para me dar?

– Ah, gata, quanto a isso... – levanto as mãos quando as palavras me escapam – ...só prepara tua bundinha.

                Luana não diz mais nada e eu a observo se perder em seus pensamentos de novo. Distraída, mordeu a unha como se a roesse mais uma vez, novamente um movimento muito rápido, revelando se tratar de um tique nervoso.

Ela seguiu minha sugestão e começou a dançar de maneira provocativa assim que percebeu a presença da Dona de volta ao quarto, deliciosamente perfumada de banho, coberta apenas com um roupão atoalhado. Sedutora, seus movimentos fizeram com que Dona Sabrina se sentasse na cama perto de mim apenas para apreciá-la, instigadora, se esfregar com cadência no assento do pufe.

Evitei olhá-la, mantendo os olhos perto de onde estavam meus joelhos, rente ao chão, mas uma carícia em meu cabelo foi um sinal para que eu a admirasse dançar junto de minha Dona Sabrina. E me senti parte da plateia quando Luana passou a me olhar também, nas viradinhas que dava para nos encarar por cima do ombro descoberto, exibindo a lateral da cabeça raspada. Não a conhecia direito, mas era notável o quanto estava apreciando nossa audiência.

                Esta realmente era uma sessão atípica, pensei. Dona Sabrina sorria descontraída, parecendo satisfeita por ter nós duas num mesmo ambiente, embora não seja exatamente  o tipo de pessoa que promove encontros. Ela quase aplaudiu quando Luana se pôs a engatinhar de quatro pelo quarto, vibrante, fingindo morder uma guia que não existia, ao prender na boca a correntinha de seus óculos escuros, bem submissa. Embalada pela música, que se emendava, ela exalava um tesão genuíno, ao ponto de me fazer pensar que passaria o resto da noite só olhando para aquele espetáculo privativo e particular onde eu, quem diria, era a verdadeira convidada de honra – não ela.

                Mas como se pudesse ler meus pensamentos, Luana parou de repente na minha frente, seus olhos faiscando por breves segundos, do mesmo jeito que estavam quando a flagrei na cozinha mais cedo. O som que emitiu pareceu um ronronado, mas ela rosnou, tenho certeza, ao se erguer sobre os joelhos, instantes antes de me beijar, sem nenhuma cerimônia, numa familiaridade que só não me surpreendeu mais porque não tive muito tempo para pensar no que estava acontecendo; quando me vi, já estava toda envolvida num beijo inesperado junto de uma mulher completamente nua. E quente! A pele de Luana estava fervendo quando se encostou em mim, me abraçando pela cintura, me envolvendo toda. Senti-la assim me deu vontade de lambê-la inteira, para tentar pelo menos aplacar uma parte de todo aquele fogo.

Não houve nenhuma contestação por parte da Dona diante do beijo, pelo contrário, ela suspirava com deleite apreciando a cena toda. Isso sem dúvida me fez imediatamente baixar a guarda e me deixar ser envolvida pela mulher com quem havia discutido há pouco. Deslizei as duas mãos em seu corpo desnudo, que tinha um cheiro gostoso, de cima a baixo, pelas laterais, sentindo a textura de sua pele macia se arrepiar. Pareceu que dançávamos juntas, ritmadas, mesmo depois que a música mudou. 

Dona Sabrina foi quem tirou minha camiseta, me livrando dos entraves de tecido que me impediam de sentir a energia de Luana com meu próprio corpo, por inteiro. Esperei seu olhar de aprovação antes de voltar para o beijo e tirei a calça um pouco impaciente, ansiosa para encostar meu quadril nu no púbis de Luana, que aguardou que eu me despisse me olhando com uma cara linda de tarada, sentada em cima dos calcanhares, o corpo inteiro vibrando, excitado.

Quando voltamos a nos beijar havia mais pressa, mais urgência e muito mais luxúria, e desejei secretamente ter Dona Sabrina nessa festa também, não apenas como espectadora.

– Na posição, as duas – ela então ordena, estalando os dedos uma vez só, sua voz tocando como melodia para meus ouvidos. Aquele era o comando que fazia o meu próprio corpo vibrar, repleto das melhores e mais extasiantes expectativas.

                Não sou fã de todas as siglas do BDSM, mas entendo que faz parte do jogo eventualmente ser dominada também de forma física, que é muito mais impositiva que a simples dominação mental ou sexual. Mas confio na minha dona, que sabe bem do que gosto, do que não gosto, do que mereço e do que preciso, e por isso a obedeci de imediato, tendo tempo de ver um certo vacilo no rosto de Luana, antes de ela me seguir e deitar também com a cabeça colada no colchão.

                Ficamos as duas com o rosto voltado para o centro da cama, nos encarando, as costas esticadas num ângulo que mantinha nossas bundas bem para o alto, na direção de Sabrina que se posicionou atrás de nós em silêncio, provavelmente admirando o que via. Havia sempre uma enorme expectativa em torno dessa posição, que antecedia todo e qualquer ato que envolvia uma sessão com a Dona. Mesmo assim, foi sem querer que deixei escapar um gemido ao sentir a generosa porção de lubrificante gelado ser espalhada na parte mais vulnerável do meu corpo, a esta altura completamente exposto. As carícias que recebi na sequência, com uma pressão conhecida, foram para me agradar, mas sei que minha dona gosta muito mais. Fetiche é mesmo que nem cu.

Por isso me esfreguei em seu antebraço, aproveitando seu calor e sua presença tão perto do meu centro pulsante, após sentir entrar de uma só vez o plug que imitava a cauda de raposa, que ela adorava. Luana por algum motivo levou um tapa, daqueles bem sonoros, que deixam a marca de todos os dedos, e pareceu gostar da punição porque soltou um gemidinho e sorriu para mim. Ficou me encarando, inclusive enquanto Dona Sabrina inseria nela um plug normal, que a fez gemer de um jeito gostoso, diferente, me fazendo contrair os músculos em volta dos olhos sem querer.

Além de linda, Luana era muito gostosa e fazia uns sons melodiosos, agradáveis de se ouvir. Confesso que é meu ponto fraco, gemido de mulher. Nas surras que eventualmente Dona Sabrina acha necessário aplicar, só não reluto mais diante da proposta porque nessas horas sempre produzo uma sinfonia que só toca nessas horas – e ela sabe disso. É som de dor, mas é principalmente um som de tesão. Meu mais sincero tesão.

Dona Sabrina se levantou e sem pressa foi até o baú aos pés da cama, onde ficavam seus objetos eróticos. Não se demorou a escolher.

Eu não disse nada, ora essa, quem sou eu para dizer alguma coisa nessas horas, mas duas coisas imediatamente me chamaram a atenção. A primeira foi que a Dona não tampou meus olhos, nem me amordaçou, como gostava de fazer. A segunda foi que eu juro que não sabia que o vibrador com estimulador de clitóris, aquele, com controle remoto, era roxo! Roxo!

Nem tive tempo de pensar a respeito porque meu corpo todo, bastante sensível, concentrou todas as atenções do meu cérebro entre minhas pernas, quando o vibrador emborrachado passeou nas duas beiradas das virilhas, deu uma lambidinha no meu grelo e entrou, me preenchendo toda. Gemi, porque foi gostosa a forma como o acessório se encaixou direitinho dentro de mim, e também porque Dona Sabrina aprecia meus gemidos nessas horas.

Ela então me ajudou a me levantar, nós duas observadas por Luana, que se manteve na posição, bem obediente, e só ao ficar em pé e ver o que tinha em cima da cama é que consegui entender o que ia acontecer, e de que maneira. Fiquei satisfatoriamente grata por não estar com os olhos tampados; adorava ver a Dona empunhando seu chicote de couro marrom, ficava lindíssima, toda empoderada.

Antes de Luana ser levantada, reparei no plug com joia vermelha que ela usava, elegante, como tudo que era de Dona Sabrina, que tinha muito bom gosto, e foi inevitável não notar como era convidativa a pele de sua bunda, bem lisinha. Gravei mentalmente como ela estava para depois da sessão poder traçar um comparativo de como ficava marcada.

Ao ser puxada, Luana foi interrogada pela Dona, com práticas de asfixia, que disse tê-la visto olhando mais cedo para o decote de sua irmã gêmea, agora turbinada. Aquele era um assunto que com certeza eu recorreria mais tarde, porque merecia uma análise mais apurada.

Por ora, me foquei no que estava rolando ali no quarto porque, muito embora a punição desta sessão especial fosse exclusiva de Luana (que merecia mesmo!, até mais do que dez chicotadas, que era a média por instrumento), eu fazia parte do castigo dela. E de imediato compreendi que, para mim, tudo nesta noite era na verdade uma recompensa, pois não apenas não seria penalizada como ainda teria o bônus de assistir tudo, no melhor dos camarotes.

Dona Sabrina desfez alguns novelos da corda preta que usava para amarrar e antes de nos posicionar como gostaria que ficássemos, acionou o controle remoto do vibrador dentro de mim na primeira potência. O gesto foi feito enquanto me olhava, uma das sobrancelhas levemente arqueada, belíssima. No mesmo instante o estimulador externo que ela deixou bem rente ao meu grelo começou a vibrar. Minhas pernas só não se amoleceram por inteiro porque fiquei escorada na cama da Dona, que era alta.

Ela nos posicionou de frente uma para a outra, nossos braços cruzados como se nos abraçássemos. Mesmo eu sendo alguns centímetros menor, Dona Sabrina tomou o cuidado de deixar nossas cinturas bem próximas e nos amarrou de forma que o corpo de Luana mantivesse o estimulador onde ela queria que ficasse.

Dona Sabrina tinha bons conhecimentos de bondage, conhecia diversas técnicas de amarração, mas pareceu que parte das cordas era só para que ela depois admirasse – nós duas nuas e presas, primeiramente, mas também depois, vendo os sulcos que cada uma das amarras deixava na pele. Uma das cordas circundou nossas virilhas, ou seja, sem utilidade nenhuma, estava ali por puro capricho dela.

Lembrei brevemente de uma fotógrafa que ela conhecia, que certamente teria adorado nos ver assim. Seu nome era Senhoritinha alguma coisa.

Ao terminar de nos prender, de um jeito que não dava para nos mexer nem mesmo um único milímetro sequer, a Dona aumentou a potência do vibrador pela segunda vez. Naquela posição, além do estimulador externo, o que estava dentro também começou a mexer, arrancando de mim gemidos espontâneos e incontidos, me deixando com uma vontade louca de esfregar a buceta em Luana, amarrada tão perto de mim que eu sentia seu coração acelerado batendo junto com o meu. 

Então Dona Sabrina ampliou nossa percepção sensorial em seu quarto, ao pegar de cima da cama seu chicote marrom de cabo refinado e, com dois movimentos, o fez primeiro cortar o ar e depois estalar com força no chão, num som típico e prazerosamente familiar. Luana, que se mantinha de costas para ela, portanto sem vê-la, gemeu ao escutar aquilo.

– Não goza – Dona Sabrina fala e eu mal tenho tempo de pensar em algo para dizer porque Luana gemeu mais uma vez, como antevendo o que estava por vir.

                Pudera ter visto tudo em câmera lenta porque o movimento na verdade foi muito rápido. Com a mão esquerda a Dona girou o punho e o chicote estalou no ar meio de lado, atingindo na sequência a bunda de Luana, que gemeu, agora infinitamente mais alto que das outras vezes, um gemido rouco que brotou do fundo de sua garganta, a fazendo levantar a cabeça, soltando um “ai, ai” ao abaixá-la, muito sexy. Muito gostosa!

– Dona... – resmungo, porque a ordem para não gozar era difícil de cumprir.

– Eu disse “não goza” – Dona Sabrina volta a ordenar, girando o punho novamente e o chicote estalando mais uma vez na bunda de Luana.

                Desta vez o gemido foi ainda mais longo, pareceu mais sentido, e por instinto fez Luana querer sair de onde estava, como se fosse possível. Estávamos bem presas, amarradas inclusive aos pés da cama, mas o movimento a fez pressionar ainda mais o estimulador no meu clitóris, me fazendo gemer junto com ela, por outros motivos, ainda que complementares. Uma completa tortura, diga-se de passagem. Não que eu esteja reclamando.

                Na tentativa de contê-la, embora não desse e eu nem quisesse de verdade, apertei meus dedos trançados às suas costas e isso a fez olhar para mim. Em vez de dor, o que vi em seus olhos foi lascívia, luxúria, pura libidinagem. Luana provavelmente era quem mais estava gostando de tudo aquilo.

– Conta – a Dona ordena.

– Três, ai – Luana conta, murmurando, me fazendo gemer com ela porque senti minhas pernas amolecerem.

Aparentemente Dona Sabrina se animou com os sons que fazíamos e aumentou de novo a potência do meu vibrador, que passou a tremer mais rápido nas minhas partes. Vi que sorria antes de girar o punho mais uma vez.

– Hum, quatro – Luana seguiu contando. Nem metade ainda e eu já com os pés começando a formigar, querendo gozar. Olhei para ela em sinal de desespero – Cinco, ai, minha dona...

– Ô, Dona... – eu a chamo, porque na empolgação Dona Sabrina aumentou a velocidade do vibrador de novo. E mais uma vez, até o máximo – Dona, por favor, já estou implorando... – suplico, mas só parte das palavras é de fato proferida.

– Seis – Luana conta, com um gemido mais alto que os anteriores.

– Ah... – eu resmungo. Na minha cabeça, um discurso inteiro foi gritado em tom de urgência.

– Raiana – Dona Sabrina me chama, talvez porque conhecia bem meus gemidos e os sons que faço quando estou perto de gozar.

– Sete, ai Dona... – Luana pareceu miar e empinou a bunda, nos limites das cordas que nos amarravam. Seus “ais” não eram de incômodo.

– Posso, Dona? Me deixa gozar, por favor, está quase vindo, por favor, por favor – imploro, agora em voz alta, com os olhos fechando num quase desespero.

– Oooito... – Luana geme, contando. Oito ainda, socorro!

– Você vai gozar só quando eu mandar. Ainda não – Dona Sabrina balança a cabeça em negativa para mim, apesar de toda a minha súplica silenciosa. Girou desta vez o pulso da mão direita, aplicando mais um golpe na bunda de Luana, um pouco mais forte.

– Ai, Dona, nove... Por favor... – ela pede, ofegante. Pareceu que ia dizer sua palavra de segurança, mas se calou.

– Dona... – reclamo, a chamando mais uma vez, meus braços apertando mais ainda Luana, que não reclamou. Meu corpo inteiro estava vibrando de tesão e ainda não tinha recebido a permissão – Dona, eu não vou aguentar, por favor, me deixa gozar...

                Ela não me liberou verbalmente, mas eu estava atenta aos seus movimentos e vi seu aceno me dando finalmente a permissão, junto com a décima e última chicotada, que fez Luana gemer junto comigo, excitada porque sua punição chegava ao fim e porque acho que gostou de me ouvir tendo um orgasmo. “Acho”, não, ela com certeza adorou porque imediatamente começou a se esfregar no estimulador preso em mim e por pouco não gozei de novo.

                Dona Sabrina nos deixou ainda ali, amarradas no meio do quarto por mais alguns minutos, até finalmente desativar o vibrador. O tempo pareceu uma eternidade, mas foi suficiente apenas para que nossas respirações se acalmassem. Honestamente, achei que ficaríamos daquele jeito até o dia seguinte, mas ela nos soltou para que lhe déssemos o prazer que era mais do que merecido que recebesse de nós.

                Com as pernas moles, Luana e eu nos acocoramos em cima do colchão perfumado da Dona, que abriu seu roupão atoalhado ao se deitar apoiada nos travesseiros, revelando seu corpo igualmente nu, suado pelo esforço em manipular o chicote. Luana se demorou em seus seios, numa forma de se reparar pela gafe de horas atrás, se fartando em seu colo, com milhões de carícias estaladas, antes de descer e me acompanhar, num beijo coordenado agora com os gemidos que Dona Sabrina liberava em direção ao teto, única testemunha de nossos atos, sempre.

De todos os sons que aprecio, por exemplo, de chicote, de uma palmada, de um gemido arrancado numa sessão, meu preferido no mundo é o som do orgasmo da minha Dona Sabrina. Tem uma cadência e um compasso característicos, me molha toda vez que escuto.

Muito mais do que o prazer de cuidar dela, ou de sua casa e suas coisas, meu tesão é dar prazer à minha Dona Sabrina. E assumo que sou interesseira: faço isso esperando algo em troca, sim, e sempre recebo: uma fartura de gemidos únicos, que valem cada esforço.

Eu nem sabia, mas passei a noite muito bem acompanhada, bem gozada e molhada. E ainda com o bônus de contemplar até a manhã seguinte a arte feita pela Dona no corpo de Luana, que pegava bem algumas marcas, por exemplo, de corda encerada e chicote de couro.

Mais tarde, enquanto esperávamos pela pizza que seria nossa janta, deitei aos pés da cama, onde gostava de ficar, como o pet de Dona Sabrina que admito ser, e fui ver as novidades no meu celular, que estava estranhamente cheio de notificação. Só no grupo do trabalho eram quase cem mensagens, falando de um casamento desfeito bem no dia da festa. Sorte que os arranjos todos já estavam pagos porque os vídeos, que obviamente viralizaram, pareciam cenas de guerra em que as bombas eram vasos de flor.

Luana deitou comigo para assistir (e rir!, ela achou tudo muito engraçado, apesar de a noiva aparecer chorando) e aí começou a me contar de um rolo que tinha acontecido numa festa da firma dela, um babado também, mas outro tipo de bafão. Eu não conhecia nenhuma das envolvidas naquela história, mas prestei atenção porque Luana falava de um jeito que dava gosto de ouvir. Pela cara da Dona, eu não era a única a achar isso.

Horas mais tarde, já perto de dormir, Dona Sabrina se distraiu com seu celular, que a fez pular da cama atrás de sua agenda. Sozinhas, Luana e eu conversamos em tom de confidências. Fiz questão de dizer o quanto tinha gostado da nossa sessão juntas.

– Sabe que quando a Dona me contou sobre você eu morri de vontade de te conhecer? – ela pergunta, sussurrando.

– E a Dona fala de mim? – rebato, surpresa.

– Não diretamente, mas sim – Luana ri – Eu quis saber quem foi que a iniciou... Me excitou saber que era alguém que até hoje existia, e ainda sendo a iniciada das coisas –  comenta, fazendo uma pausa antes de continuar – É você quem testa os instrumentos de tortura dela, não é? Pois então, que delícia – complementa, antes que eu diga algo – Adorei conhecer o prelúdio dessa história toda! – ela diz e me beija. 


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