A amante (conto erótico)

Este é o primeiro conto da primeira temporada da Novelinha.

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Da varanda do quinto andar de seu prédio, Miriá observa o desembarque de Célia, lá embaixo, depois de vê-la estacionar seu modelo importado do outro lado da rua. Ela atravessou toda elegante, com passos rápidos, no mesmo instante em que o carro piscou, o som do alarme chegando lá em cima. Miriá tragou o cigarro com força, causando um ruído do ar sugado junto com a fumaça, que deu uma pirueta nos lábios entreabertos, antes de ser inteiramente aspirada. Estava com o ombro apoiado no batente, bem próxima à sacada, e tinha os olhos contraídos, a cabeça atormentada por mil pensamentos. Ao soprar, emendando um suspiro profundo, não fez nenhum som. Por alguns segundos ficou com o rosto todo enevoado, com parte da fumaça saindo também pelo nariz, até que o movimento de levar o cigarro aos lábios novamente dispersasse a névoa, criando outro tipo de efeito, mais uma vez. Calculou mentalmente o tempo de subida do elevador e deu uma última tragada, forte, antes de apagar. O cigarro, todo quente, fumado só até metade, ficou amassado no cinzeiro perto do gradil, com uma fumaça insistente ainda escapando pela ponta.

Quando olhou para o relógio, na sala, fez o movimento por hábito, pois sabia que não devia ser muito além das sete. Célia nunca chegava antes desse horário e o pensamento a fez suspirar mais uma vez, profundamente, a cabeça se inclinando para baixo diante do que o pensamento despertava. Se chateava porque aquela era a única coisa rotineira entre elas; só naquilo Célia era previsível. Por isso sua feição parecia de raiva, mas envolvia mais coisas e o conjunto transformava parcialmente seu rosto.

Sua vontade era fazer um escândalo assim que a mulher girasse a maçaneta da porta. Eram tantas acusações coçando a ponta da língua que se sentia como uma metralhadora carregada, com potencial de causar bastante estrago. Era sempre assim. Miriá era sempre invadida por um desejo absurdo de expor suas questões, de cobrar atenção, de mostrar que também tinha sentimentos, que era humana e passível de se machucar, e que merecia ser amada, especialmente. Mas desistia porque seu juízo a convencia de que, na vida real, o sexo sempre vem antes do drama. E depois em geral se sentia tão satisfeita, com o corpo tão saciado, que o que menos sentia vontade era de brigar com Célia.

Os ponteiros vermelhos confirmaram sua tese: 19h07. Ainda tinha alguns segundos para se recompor. Passou a mão na testa, checando se ainda havia alguma ruga a marcando, a mão subindo no gesto e ajeitando os cabelos, a franja se enroscando nos outros fios, caindo em cascata pelo lado esquerdo da cabeça e emoldurando o rosto.

Vestia uma camisa listrada de botões, que estavam abertos na frente, deixando à mostra um dos seios e parte da barriga, apenas metade do umbigo de fora. Seu cabelo castanho repousava em cima do ombro encoberto, com as pontas na altura do mamilo, endurecido debaixo do tecido. Mordeu a ponta do dedo num gesto nervoso, esticando as pernas da calça do pijama, de cetim, que pareciam amassadas. Levantou o olhar assim que Célia abriu a porta.

— Uau, olá! – a mulher falou. Encarou Miriá de cima a baixo, com um sorriso malicioso no canto da boca, os olhos pervertidos varrendo seu corpo – Se arrumou assim para me receber?

— Talvez – Miriá levantou levemente uma das sobrancelhas, provocativa – Talvez só esteja pronta para deitar.

— Às sete da noite? Sei... – Célia apoia a bolsa no sofá azul e caminha em direção à mulher. Antes de encostar seu corpo no dela, a puxou pela nuca, dando-lhe um beijo molhado na boca, a outra mão a enlaçando pela cintura, por debaixo da camisa, os dedos, gentis, se comprimindo contra a sua pele, enquanto deslizavam em direção às costas.

Miriá suspirou no abraço, o cheiro de Célia sempre fazia seu baixo ventre latejar, seu corpo todo se entregando àquele beijo, como sob efeito de um forte sedativo, que afetava também a sua mente, turvava seu discernimento. Por isso era tão difícil ser racional com aquela mulher; Célia simplesmente a tirava dos eixos, do prumo, e nem precisava de muito. Bastava um beijo, uma pegada do jeito certo, seu cheiro inebriante, e pronto: lá estava Miriá se oferecendo, de quatro, quase implorando para ser tocada, pedindo para ser comida. Como sempre.

Às vezes, só um olhar já era suficiente. Miriá apreciava bastante a audiência de Célia, se excitava só de ter aqueles olhos intensos e sérios exclusivamente em sua direção. Se sentia importante, quase especial; envaidecida, sem dúvida. Por isso se exibia para ela, o máximo que conseguia e sempre que podia. Quanto mais Célia a olhasse, melhor. Se deleitava com o magnetismo gerado entre seu corpo e os olhos famintos da mulher.

Seus encontros eram pontuais, em dias certos da semana, sempre com um horário para começar e outro para terminar. Era preciso criatividade para aproveitar bem aqueles minutos em que, obviamente, ela deveria ser integralmente o centro das atenções. Todo o foco de Célia deveria estar em Miriá, apenas nela e em nada mais. Era não apenas a cereja do bolo, mas igualmente o bolo e também a cobertura – ofertado à Célia para que ela a saboreasse sem pudor, como quando se lambe as colheres da receita, enfiando os dedos no fundo da cumbuca, se lambuzando. Para isso, Miriá desenvolvia pequenas performances, sempre interpretando um papel que acreditava que lhe cabia bem.

Sabia, por exemplo, que Célia apreciava bastante os seus seios, empinados, tão insolentes quanto ela, com o piercing de argolinha atravessando o mamilo mais desinibido. Então sempre se vestia de um jeito provocativo que o deixava em destaque. Era uma armadilha, à mostra, bastante óbvia e explícita, e muito eficiente.

 — Se arrumou desse jeito para mim? – Célia insiste, desgrudando suas bocas apenas para falar, a voz saindo rouca de tesão.

Deu uma puxada no cabelo de Miriá diante do silêncio, com a mão que se mantinha em sua nuca. O gesto a fez sorrir, fugindo de propósito da resposta. Seus olhos esbarraram nos dela por um instante, e pareciam queimar de desejo. Logo no final da frase, Célia já estava a beijando mais uma vez, os lábios percorrendo também a lateral do rosto e a curva cheirosa do pescoço de Miriá.  

– Me responde – Célia ordena, parando novamente de beijá-la, a encarando com os olhos parecendo brasa. Apertou seu corpo contra o dela, a mão direita percorrendo o cós da calça leve do pijama, da lateral até a parte de trás. Seu dedo médio invadiu o elástico, deslizando pela bunda de Miriá, que se empinou com o toque, embora enlaçasse suas pernas nas de Célia, na tentativa de mantê-las com as cinturas próximas. Piscou quando a ponta do dedo encostou onde Célia adorava tocar, sentindo uma leve pressão, provocativa. Sorriu quando a mulher sorriu e sentiu o cu piscar de novo, sem querer, demonstrando que seu corpo apreciava aquele toque.

Mais prazeroso do que receber o olhar e o ibope de Célia, só mesmo as carícias de suas mãos experientes.

— Uhum – foi tudo o que respondeu, num chiado, a cabeça pendendo para trás, meio de lado, para receber os beijos dela, agora na altura do seu colo descoberto, cada vez mais perto do mamilo rijo, quase doendo diante da necessidade de também ser beijado.

Cada estalo molhado da boca de Célia provocava em Miriá um novo gemido, e ela a puxava com os braços em volta de sua cintura, o corpo se inclinando, encostando os púbis o máximo que conseguia. Rebolava para se manter na mão de Célia, dentro de sua calcinha, encaixada no períneo, de um jeito que a fazia se sentir deliciosamente submissa.

Aquele era um contato carregado de intimidade, que deixava as duas molhadas por prazeres distintos, mas complementares, e que só acontecia ali, na privacidade garantida de sua casa. As paredes eram testemunhas de diversas cenas de amor entre as duas mulheres, muitas começando exatamente desta maneira, com beijos ardentes. Célia a tinha de um jeito que mais ninguém a possuía, e se entregar assim era o que mais excitava Miriá.

Havia também o tesão pelo proibido, o desejo latejante sendo satisfeito às escondidas, na surdina, com o risco presente de serem descobertas, de tudo vir à tona com o flagrante e o casamento de Célia desabar por causa disso, por causa delas. Miriá se imaginava acendendo um cigarro no incêndio que aquilo causaria. Não era algo que desejava, mas caso acontecesse...

— Exibida! — Célia diz, roçando os dentes e lambendo o pescoço de Miriá, que gemeu de novo, como se miasse — Gostosa! — complementou, voltando a beijar sua boca, um beijo agora mais urgente que o anterior. Com a ponta dos dedos, tateou até descobrir o ombro que ainda estava vestido, a camisa escorregando lentamente em direção ao chão. Deslizou pelo braço até o punho, e subiu, provocando arrepios no caminho percorrido por seus dedos. Depositou um beijo sobre a pele nua, deixando no ombro a marca de sua língua, que voltou a subir pelo pescoço, chegando novamente sedenta à boca de Miriá. A outra mão ainda apertava forte sua bunda.

— Sua! — Miriá deixou escapar entre os dentes, talvez esquecida do que aquele tipo de pronome podia provocar. Ou quem sabe tenha dito justamente porque sabia do potencial inflamável que palavras aparentemente inocentes como aquela carregavam. Mordeu o lábio, divertida, um sorriso se anunciando, quando os olhos fulminantes de Célia pairaram sobre os seus. Era agradável provocá-la, e muito fácil também.

                Célia estava séria quando se afastou alguns centímetros do seu rosto, o suficiente para observá-la, cerca de dois palmos acima dela. Aquele era um terreno perigoso, sabia muito bem; qualquer passo em falso poderia desembocar em sexo ou em discussão. Era uma linha tênue que Miriá adorava riscar e sapatear em cima.

— Minha puta! — Célia diz, e dá um tapa no rosto de Miriá, que ergue o queixo e a sobrancelha, de maneira atrevida — Minha puta, exclusiva — completou, antes de bater do outro lado, com a mesma mão — É isso que você é, Miriá. Meu brinquedo.

                A mulher sorriu com o comentário, e com os tapas, e manteve o sorriso, como se a desafiasse, demonstrando que gostava do tratamento. Célia manteve os olhos nela e desceu as mãos pela lateral de seu corpo, puxando a calça com os indicadores até os pés. Sua boca foi produzindo uma trilha molhada ventre abaixo, até os ossos do quadril, que receberam dois beijos demorados, acompanhados por um som de satisfação que ela sempre fazia. Quando subiu, percorrendo com a boca partes do corpo de Miriá retesadas de prazer, passou a mão em uma das virilhas, os dedos relando nos pelos, enquanto segurou o seio com a outra, mais acima. Lambeu o mamilo no instante em que roçou de leve no clitóris de Miriá, que gemeu mais alto que das outras vezes ao receber a carícia tão bem-vinda. E de novo, quando os dedos de Célia se afundaram na carne quente, decididos e determinados, encontrando sua fonte de prazer toda encharcada.

                Célia puxou Miriá nua pela sala, apoiando suas costas na parte de trás do sofá, de frente para ela, com as pernas abertas. Se ajoelhou abaixo dela e com as mãos abriu sua buceta, fazendo-a gemer de novo com o gesto, mais alto, o clitóris latejando só de sentir a respiração de Célia tão perto. Pendeu a cabeça para trás enquanto um som de prazer genuíno ecoava por todo o ambiente, ricocheteando no teto e nas paredes. Célia gostava de gemidos, e sorriu antes de lamber bem no meio, mantendo Miriá toda exposta. Começou embaixo, com a língua subindo áspera e sem pressa até o grelo. Se demorou mais sobre ele, a ponta dura e molhada provocando sensações que as excitavam, e por isso Célia também gemia.

                Miriá se escorou no sofá e abriu mais as pernas, se oferecendo para a mulher agachada ali no chão, empenhada num beijo que simulava o mesmo que seus lábios tinham recebido há pouco. Sentiu dois dedos a invadirem, sem se anunciarem, donos de sua vontade como eram, deslizando com familiaridade dentro dela, que se contraiu para mantê-los presos ali. Suspirou quando Célia os puxou para fora e gemeu longamente quando a viu lá de cima se deliciar os lambendo, a língua rosa se esfregando no interior dos dedos melados.

— Você é muito gostosa — Célia diz, voltando a entrar em Miriá, chupando seu clitóris novamente. Com a outra mão, segurou um lado de sua bunda, mantendo a ponta do indicador pressionando o cu.

                Ainda que fosse grande a tentação de fechar os olhos e se entregar ao prazer que aquele beijo provocava, Miriá se esforçou para se manter bem desperta, observando a cena linda que era ver Célia ajoelhada no chão de sua sala, toda vestida com sua roupa de trabalho, a chupando com tanta satisfação e vontade. Se sentia mesmo um objeto sexual nessas horas.

— Me beija — ela pede, e vê Célia interromper a chupada no mesmo instante. Sentia muito tesão, mas tinha outras necessidades para serem saciadas antes de gozar.

                Célia beijou todo o dorso de Miriá enquanto subia, a mão inteira abrigando sua buceta molhada, pulsante. Quando chegou à boca, o beijo tinha o gosto do seu prazer, a língua toda amaciada pelo sexo oral. Miriá abraçou a mulher com urgência daquilo, o quadril se movendo devagar para frente e para trás, molhando a palma da mão e os dedos de Célia com a fricção e o contato. Desejou estar molhada o suficiente para impregnar a aliança dela com o seu cheiro.

                Enfiou a mão dentro da calça de Célia, os dedos desbravando o tecido fino da calcinha até chegar em sua buceta, toda molhada debaixo daquela roupa de mulher séria e casada. Movimentou os dedos ágeis de um jeito específico, até que ela gemesse, repetindo o movimento para que gemesse mais.

— Vou tirar minha roupa — Célia resmungou, mas Miriá voltou a puxá-la, desta vez pela cintura da calça. Manteve a mão onde estava, ainda fazendo os movimentos que sabia que a deixavam molhada. Era a maneira como ela geralmente gozava.

— Não, logo já dá sua hora. Você vai gozar vestida — Miriá respondeu, no ouvido de Célia, a deixando arrepiada. Gostava dessa breve invertida de papéis — Não queremos que sua mulher desconfie de nada, não é mesmo?

— Sua puta... — Célia gemeu, abraçando Miriá com o braço desocupado, mantendo a mão firme em sua buceta molhada. Não disse mais nada porque ficava sempre muito passiva quando Miriá a tocava daquela maneira. E também porque tinha razão.

                Era um jogo baixo, as duas sabiam, mas tratava-se de uma verdade e ambas reconheciam que tirar a roupa só a faria ter que se vestir, alguns minutos depois, que poderiam ser aproveitados de outro jeito. Por exemplo, com as duas gozando. E acostumadas àqueles movimentos, cada qual com um conhecimento próprio sobre o corpo da outra, cronometraram seus orgasmos para praticamente o mesmo instante. Miriá gozou um pouco antes, e o gemido que sempre vinha do fundo de sua garganta nessas horas foi o que fez Célia gozar também.

— Você podia ficar um dia para dormir — Miriá comenta, ainda arfando de tesão, a cabeça apoiada no ombro de Célia. Tirou a mão melada de dentro de sua calça, a fazendo gemer de uma maneira diferente.

— De novo essa conversa, Miriá... – Célia suspira, apoiando a mão entre as pernas por cima da calça social, se sentindo latejar. Era uma sensação que contrastava com o aborrecimento que o comentário tinha despertado.

— É só uma ideia — Miriá se abaixa para pegar a calça do pijama e a camisa no chão. Se sentia escorrendo, quase um conflito entre seu corpo e seu coração. Jogou a roupa no sofá, como desistindo de se vestir, e acendeu um cigarro. Sabia que Célia não gostava, mas foda-se.

— Bom, parece que terminamos por aqui — Célia abana a fumaça do cigarro, visivelmente incomodada, e pega a bolsa no sofá, depois de ajeitar a camisa para dentro da calça — Não sei se eu consigo vir na semana que vem — complementa, e vê Miriá levantar os ombros, tragando o cigarro de um jeito impertinente. Cruzou os braços sobre o peito, ao soprar a fumaça, numa postura nitidamente defensiva — Se der, eu venho.

                Miriá a viu sair, depois de mandar um beijo no ar, da mesma maneira como chegou: em silêncio e sem cerimônia. Tragou forte o cigarro, irritada e frustrada, se encostando no batente da varanda, observando-a atravessar a rua lá embaixo. Se prometeu de que, na próxima, o drama viria antes do sexo, como acontece na ficção.  

 

Este conto é dedicado a uma pessoa especial, que não posso dizer o nome senão a mulher dela descobre.

 

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