A outra (conto)
Essa é a nona história da segunda temporada da Novelinha <3
Se ainda não leu a oitava, "O visitante", clique aqui.
Eu ainda era nova quando ouvi pela primeira vez a expressão “amor
platônico”. Me chamou a atenção especialmente porque criei na minha cabeça toda
uma história, envolvendo alguém de nome Platão, provavelmente o filósofo, que
se apaixonava perdidamente por uma moça que não lhe correspondia. Sem querer, e
para fazer justiça, no mesmo instante inverti minha narrativa fantasiosa, que
em nada se aproxima da realidade, vale dizer, e fiz Platão ser o apaixonado do
rolê, dando à mulher a função de esnobar.
Viver num mundo machista e dominado por homens me faz priorizar as
mulheres, mesmo que apenas nos meus pensamentos – que, para mim, são muita
coisa. Eu penso muito, o tempo todo e sobre tudo. Um único pensamento é como se
fosse uma linha solta numa gigante colcha de retalhos; eu puxo a pontinha e vem
um novelo inteiro de assuntos que não necessariamente se combinam. Eles só vão
se emendando, sem muito critério. Nessas, já dediquei bastante tempo amarrando
minha sexualidade a este cenário em que vivemos. Jamais me interessei por
homens e consigo entender claramente o porquê.
Voltando à questão platônica, sou do tipo que desde cedo me interessei
por mim, pela minha história. Noutras palavras, os outros não protagonizam nada
em primeiro plano. Nada. A psicologia com certeza consegue traçar um perfil de
alguém assim, mas antecipo que não pertenço a esta área. Eu sou apenas eu,
vivendo a minha vida, me priorizando no centro do palco desta existência. E
quando soube de amores impossíveis, desejei isso para mim. Quem não gostaria de
ter admiradoras nutrindo sentimentos que alimentam bem o ego? Eu com certeza
quis!
Só que mesmo na torcida pelos finais felizes, na expectativa de ser uma
boa personagem, acabei tomando decisões que mudaram minha história. História
esta que ainda está em curso.
Gosto de ter a oportunidade de poder contar a minha versão sobre os
fatos. Julgo que seja pertinente, já que estou tão diretamente envolvida nesse
rolo todo, embora acredite que, no final, pode ser que você não fique ao meu
lado. Mas tudo bem, vale o registro. Não existem inocentes, afinal.
Preciso dizer que este é um relato que, embora possa ser perfeitamente acompanhado
por todas, só vai ser realmente compreendido por quem se diz apaixonada. Somente
quem se permite ser movida e ser nutrida pelo fogo da paixão vai conseguir me
entender, de fato. As demais irão apenas me julgar, mas como Pitty sabiamente
diria numa ocasião como essa, “quem não tem teto de vidro que atire a primeira
pedra”. Se porventura você contasse a sua história, pelo que te
julgariam?
Talvez seja válido dizer, já de antemão, logo de partida, que eu não sou
uma pessoa ruim, ainda que quem seja boa não se afirme assim. Mas já que você
vai construir uma imagem a partir da minha própria narrativa, então que isso ao
menos me beneficie, concorda?
Eu sou aquela do coração mole, que chora sem querer vendo post na
internet, que se emociona com histórias de bichinhos abandonados e depois
resgatados, sendo amados (aqueles vídeos, por exemplo, de soldados voltando
para casa, recepcionados por seus cães, mexem comigo! Choro litros sem querer).
Sempre fui sonhadora. Do tipo fantasiosa, que consome livros de romance,
que crê em juras de amor eterno, em amores construídos a partir de, quem sabe,
uma paixão à primeira vista, aquela coisa bem hollywoodiana, só que edificada
com o companheirismo da vida real, regado dia após dia. Passei a juventude sonhando
para a minha vida uma história de amor arrebatadora, cresci imaginando qual
seria a minha trama.
O problema é que quando mais nova eu era muito tímida. Introspectiva.
Recatada, mas não do lar porque desde muito nova meu projeto de vida sempre incluiu
sair de onde eu morava: um lar tóxico comandado por um pai ausente e uma mãe
manipuladora. Minha rotina logo cedo fluiu naturalmente para a literatura
porque nos livros eu sempre fui feliz. Mesmo quando a personagem principal não era
exatamente a mocinha. Na verdade, confesso que tenho uma quedinha pelas vilãs.
Hoje reconheço, quando observo minha vida assim, nessa perspectiva de
linha do tempo, que eu sou a mais clichê das clichês: sou literalmente o
resultado das minhas escolhas, a somatória dos meus dias, guiados por alguém
mais ou menos vigilante, mais ou menos atenta às microdecisões que acontecem o
tempo todo. Culpo, em partes, o universo dos livros por isso, por me fazer tão
imaginativa, sinto que o tempo todo vivo com a cabeça no mundo da lua... E a
ficção foi também a responsável por me fazer idealizar histórias de faz de
conta, onde o amor verdadeiro é possível e a personagem principal sempre tem um
final feliz.
Mas, veja bem, sou do time das leitoras. Minha vida, do meu ponto de
vista, sempre foi sem graça. No meu entender, jamais haveria um motivo para se
escrever sobre mim, não considero minha história digna de estampar algum conto,
por menor que seja. Tanto é que até hoje o máximo que escrevi sobre mim foi num
diário e só até descobrir que minha mãe lia minhas confissões. Na época, meus
dramas pessoais giravam em torno dos meus problemas, típicos de adolescente.
Eu, uma menina retraída, sem querer acabava na lista que os meninos do Ensino Médio
faziam, elencando os atributos das meninas da escola. Em vez de me envaidecer,
isso me acanhava, num ostracismo. “Beleza não se põe à mesa”, minha mãe dizia,
e eu não entendia o porquê.
Não posso dizer exatamente que o fato de ter um rosto bonito fez com que as
portas tenham sido abertas alguma vez, ao longo desta minha jornada, mas
reconheço que nenhuma também jamais se fechou. O que parece é que as pessoas não
conseguem ser hostis comigo, mesmo que eu não fale nada – às vezes, me parece
que é justamente por isso. Já ouvi mais de uma vez sobre uma tal “aura
misteriosa”, que carrego sem saber. Dizem que combinam comigo, com meu rostinho
simétrico. Para mim, honestamente tanto faz. Especialmente porque nunca fui diferente.
“As aparências enganam”, minha mãe diria, mas eu não ouviria porque
conquistei o poder de bloquear o que ela diz. E sinceramente não consigo
estabelecer uma relação entre beleza e caráter.
Uma professora do colégio foi quem sugeriu que eu fizesse Direito. Poderia
ter cursado Administração de Empresas, Letras ou qualquer outra coisa, exceto na
área da Saúde, que acho medonha. Professora Cândice, querida, dava aulas de Português.
Uma frustrada que se perdeu na Pedagogia quando seu sonho mesmo era ter tido uma
vida tipo Lei e Ordem. Mas a sugestão fez sentido, eu gostava de ler, de
estudar, era uma profissão que envolvia um certo glamour. “Combina com você”,
ela disse, em seu argumento final, convencendo o júri – que no caso era eu,
porque jamais fui ré, nem de mentirinha. A bolsa na faculdade foi conquistada antes
do vestibular, inteiramente graças aos meus atributos intelectuais, muito
obrigada.
Até esse momento, minha vida girava 100% em torno de mim. Eu não era do
tipo que me relacionava (não sou ainda, eu acho). Meu foco era sair de casa,
era ter minha casa, ter meu dinheiro. Tudo que não dissesse respeito a mim
acabava sendo descartado, quase no automático. Namoro não era algo que fazia
falta, mas só entendi como fui capaz de me desviar do amor quando o senti, pela
primeira vez.
Que forte, chamar de amor um primeiro encontro! Mas foi, ué. Igual nos
livros. Naquelas histórias bem “mamão com açúcar” onde a mocinha encontra o
mocinho e a mão sua, o coração dispara, a emoção se dá de um jeito todo
teatral, acompanhando um arrepio que percorre a espinha, uma sensação diferente
logo abaixo do umbigo. Mas neste meu caso, eu não era nenhuma mocinha; era só
uma universitária que estudava numa faculdade de elite. Uma bolsista que sabia
combinar roupas escolhidas a dedo em brechós com valor acessível. E o mocinho da
minha história tampouco era um mocinho. A começar que ela é uma mulher.
Não vou começar a descrição dizendo que ela é linda. Ela é, mas não da
maneira tradicional. Eu a acho bonita por conta da sua postura imponente, de
quem sabe se impor, se impostar. Tem uma presença marcante, não é do tipo que
passa despercebida nos lugares. É elegantíssima – nos trajes, nos gestos, nas
colocações que faz, de um jeito solene, quase pedante. Mas cativante!
Interessante.
Posso afirmar, hoje, sem a menor sombra de dúvidas, que esta dama mudou
minha história. Mas, claro, quando a conheci eu ainda não sabia e nem tinha
como prever que aquela mulher seria capaz de me afetar tanto, como afetou. Aconteceu
que nem nas histórias de amor: primeiro me encantei pela pessoa que idealizei
que ela fosse. Com o tempo, e nem precisou de muito!, notei quem ela era de
fato.
Nos conhecemos numa roda de conversa, promovida pela faculdade, no meu
primeiro ano de curso. Foi durante uma semana de palestras sobre diversos
assuntos que eu nem fazia questão de assistir; aproveitava a ausência de aulas
para estudar na biblioteca, mas naquele dia, por algum motivo, decidi ir. O auditório
estava lotado, o tema era empreendedorismo feminino, empoderamento nos
negócios, algo assim.
Ela era uma entre as convidadas para palestrar. De longe, a que tinha a
melhor postura. Usava óculos de armação preta e quadrada, e seu cabelo preto e curto
foi a primeira coisa a me chamar a atenção. A segunda foi a maneira como mexia
as mãos, pontuando sua fala. Ela sabia prender a atenção de todo mundo. A achei
super elegante, fez despertar em mim um desejo lésbico inédito, juro! Mil
pensamentos libidinosos me invadiram e me fizeram passar a noite inteira olhando
para ela, a admirando. Se quer saber, me senti quase hipnotizada, extática.
A mulher era a manda-chuva de uma empresa foda que eu não consegui
prestar atenção. Digo, me foquei integralmente ao que ela dizia com sua voz
firme, carregada do conhecimento que transpassava pelo microfone pendurado na
lapela do seu elegante terninho grafite. Mas não absorvi nada porque seu timbre
soava como uma melodia secreta, um “canto da sereia” que destravou alguma coisa
dentro de mim. Me senti sua e mal sabia seu nome.
Antes mesmo do fim daquele evento, decidi que precisava me aproximar dela.
Não importava quem fosse, e nem de que jeito eu faria isso. Ainda estava no
auditório quando pesquisei sobre ela no Google e descobri onde trabalhava, o
que fazia e no mesmo instante tracei meu plano. Fui criada me alimentando de
romances, lembra? A esta altura já me sentia até um pouco paranoica, porque
pareceu que eu vivia o começo de um filme. Um filme bom!, filme de amor.
O primeiro sinal de que eu estava errada, e que foi ignorado solene e
imediatamente, foi o fato de que ela e a minha mãe têm o mesmo nome. Com um
relacionamento materno tão conturbado como o meu, isso jamais poderia ser um
bom indício. Mas deixei para lá, acreditando ser só uma coincidência.
Nota: nunca é só uma coincidência.
E não parou aí, infelizmente. Os sinais eram bem claros, quase explícitos
de tão nítidos, e logo de cara já tive uma decepção. Foi a primeira,
oficial/real, quando descobri que a tal mulher era casada. Só que por ainda
estar envolta naquela atmosfera da ficção típica das comédias românticas, achei
que ela poderia ter um relacionamento aberto. Podia ser, mas não era o caso. Amor
platônico, sabe como é... Me convenci então de que as reviravoltas são
importantes para as histórias, um bom romance geralmente tem uma dificuldade
sendo superada para que a mágica aconteça de verdade.
Determinada, no dia seguinte, bem cedo, estava eu batendo na porta da
coordenadora do meu curso. Me vali dos meus créditos, minhas boas notas e toda
a diplomacia que tenho para conquistar uma carta de recomendação, timbrada, que
levei impressa, em mãos, até o saguão do lugar em que a mulher trabalhava. Quem
faz isso, em pleno século 21?
Eu fiz. E deu certo! O lugar é luxuosíssimo, já no saguão da entrada
decidi que iria trabalhar lá só por isso. Imagine um local todo iluminado, com
um porcelanato impecavelmente limpo e um cheiro extremamente agradável. É um
aroma de poder, de riqueza, de status. Propício para uma alpinista social como eu
já era naquela ocasião (não tenho culpa! A gente se convence a ter tudo do bom
e do melhor já no primeiro semestre de curso, é algo ensinado nas entrelinhas
que eu soube captar perfeitamente).
Na semana seguinte fui chamada para uma entrevista de estágio. Sorte? Bom,
não exatamente. Antes de levar a carta de recomendação, por acaso eu descobri
que a menina que trabalhava como estagiária do Jurídico da empresa era
conhecida de uma colega minha. Como quem não quer nada, descobri que o sonho da
tal garota era trabalhar em outro ramo, ela nem gostava de cursar Direito!
Viver na era digital tem essas vantagens: além de fornecer valiosas
informações, que muitos dão de graça, dá para conectar certas pessoas a
determinados lugares com apenas alguns cliques. E nem precisa ser hacker! Hoje
em dia com o número de celular, que muita gente cadastra o PIX, dá para
descobrir CPF, nome completo e fazer pesquisas simples no Jusbrasil. Não
precisa ser advogado para saber se a pessoa tem o nome sujo ou responde algum
processo.
Depois de algumas horas de pesquisa, encontrei uma vaga de emprego que a
menina certamente ia se interessar. Enviei para ela, me fazendo de amiguinha. Desta
forma, minha carta timbrada chegou ao RH no momento mais apropriado do ano. Me
disseram na entrevista que precisavam de mim, sem imaginar o quanto eu
precisava deles.
Fala aí se não é coisa de ficção!
Aí, como uma boa trama, cheia de emoção e surpresa, logo veio minha
segunda decepção com a tal mulher, num momento em que eu já não tinha mais como
voltar atrás ou desistir do meu plano de conquista – decidi até ir trabalhar
perto dela!, desistir jamais foi uma possibilidade. No mesmo dia em que fui
contratada descobri que ela já tinha comido metade da empresa, e era uma
companhia gigante! Passava o rodo sem pudor, escondido da esposa, uma corna
mansa.
Rapidamente transformei isso ao meu favor, é claro. A consciência pesa
menos se outras já fizeram aquilo antes de você. Mas determinei que, comigo, a
banda ia tocar de outro jeito. Afinal de contas, me valorizo, não sou mulher de
ser apenas um caso e nada mais. Muito menos tenho cara de quem estava atrás só de
uma rapidinha em horário de expediente, não faço o tipo objeto sexual. Ainda
que até aquele momento eu contasse com uma total falta de experiência, depressa
descobri que gosto é de exclusividade. Tem coisa que funciona como instinto.
E se você chegou até aqui no meu relato é porque quer saber o que
aconteceu. Sem muitas delongas, te conto que o plano deu certo. Claro. Meus
caprichos foram atendidos e virei a amante oficial dela. E exclusiva, óbvio, porque
as demais dançaram. Elas não sabiam de mim, mas conquistei o poder de saber
quem era cada uma delas, e fiz questão de eliminá-las, uma por uma. Bando de
fura-olhos!
Para a minha sorte, o mundo corporativo se assemelha a um grande jogo de
tabuleiro, onde a melhor estratégia te leva mais longe. Minha meta era me
livrar da concorrência, aparando qualquer foco de distração da mulher que eu desejava.
Então me aproximei da responsável pelo RH da empresa, Suzy, uma chatinha,
metida, de voz irritante. Virei “amiga”, só para fazer a mente dela. Passei a
persuadia-la diariamente, nos almoços, principalmente, com diversas conversas
disfarçadas de interesse pelos negócios.
Se fala muito em sororidade, mas não podemos fechar os olhos para a
rivalidade feminina. Que existe, forte, especialmente no ambiente de trabalho,
e foi minha arma para conseguir a demissão de todos os alvos, cada uma sob uma
acusação diferente. Sou especialista em leis, logo, sou especialista em delitos
também. Existe uma vasta bibliografia abordando crimes empresariais, não é muito
complicado forjar algumas provas. Nada grave, mas o suficiente para convencer
Suzy, que levou todo o crédito pela renovação ética do quadro de funcionários.
“No fim, tudo se resume à contenção de danos”, ela passou a dizer, depois que
conversamos a respeito, tomando para si um discurso que eu implantei dentro
dela.
Enquanto isso, até finalmente chegar perto da mulher que eu desejava e conseguir
ser notada por ela foram alguns meses, porque me faltaram oportunidades e
porque eu estava muito ocupada, preparando o
terreno.
Eu faço o tipo dela, que podem ser vários, mas o meu a agrada. Sou cobra
criada nos livros de amor, aprendi a seduzir com as melhores protagonistas dos romances
e também dos suspenses, despertar o interesse dela não foi exatamente uma
tarefa muito difícil. Em partes porque ela me dava muita brecha. Ficou mais
fácil quando perdeu todas as distrações que tinha.
Se interessar por mim partiu dela, ficar comigo foi mérito meu. Do meu
poder de sedução, sem dúvida, mas também devido a uma chantagenzinha que
infelizmente precisei cometer. “Pau que nasce torto”, já dizia minha mãe... Mas
em minha defesa, eu nem tinha a pretensão de endireitá-la. Só queria mesmo é
que ela me respeitasse enquanto estivéssemos juntas. Já me bastava o fato de ser
casada, que era o máximo de tolerância que eu conseguia admitir entre nós. Eu não
almejava tê-la como a minha própria esposa, que fique claro, porque se quisesse
a teria assim também. Sou sagaz, consigo tudo o que desejo, jamais duvide de
mim. Ainda que na base da chantagem, que foi o que aconteceu.
Precisei ameaçá-la de contar tudo o que eu sabia para a esposa dela, para
tê-la só para mim. Cada caso, cada amante, cada escapada até o estacionamento,
cada “reunião” que percebi que ela marcava na verdade em motéis distintos, em
horário de trabalho. Sou eficiente em reunir provas, com certeza teria arrasado
nos tribunais se não tivesse me desvirtuado tanto.
Meu bônus por isso foi trabalhar diretamente com ela, ainda no primeiro
ano de estágio. Porque ela me chamou!, veja: sempre ela é quem toma a
iniciativa! Porque sei manipulá-la, mas parece que a decisão parte sempre dela.
É o que ela inclusive acredita! Não é bonito falar isso, mas também não é nada
muito belo o que tenho para contar, então...
Ficamos três anos nessa. É mais tempo que muito relacionamento estável,
fala aí! E sei que fui a única nesse período inteiro porque meu cerco sempre
foi fechado, em cima, não dei bobeira um dia sequer. Meu trabalho, posso dizer,
basicamente era mantê-la presa na minha rede. O resto do serviço acabava sobrando
para as outras pessoas do escritório. Que ganhavam bem para isso, não é
necessário que se penalize.
Quando terminei a faculdade e passei na prova da Ordem, fui convidada
para ser assistente dela. Foi uma espécie de presente de formatura, pode-se
dizer. O cargo nem estava vago, mas fiz ficar. Espionagem industrial pode ser
motivo de justa causa, sabia?
Devo dizer que tudo parecia perfeito para nós duas. Tudo se encaixava:
nossas rotinas, nossos corpos, até a nossa energia! Tinha dias que parecia que ela,
sei lá, até se separaria da esposa mosca morta. Nada exatamente era dito, não em
palavras, mas ficava subentendido. Digo, parecia que ela largaria tudo só para
ficar comigo. Eu parecia ter esse poder sobre ela.
“Parecia” porque tudo acabou ficando só na aparência, depois de um tempo.
As coisas em realidade degringolaram de um jeito meio absurdo, eu diria que até
um pouco inesperado. Babi era o nome dela. Nos conhecemos na fila da
impressora, no corredor do andar em que eu trabalhava.
Babi tinha o corpo bem torneado, se vestia de acordo com o dress code
da empresa, mas seus braços davam sempre a impressão de estarem desnudos
demais, como se ela fosse uma transgressora gostosa da etiqueta corporativa. Ficava
linda em roupas sociais que, embora tivessem um tom sóbrio, provocavam calores
em mim sempre que nos encontrávamos – às vezes no café e armei alguns encontros
no fumódromo, quando sabia que ela ia fumar.
A gente se pegava quase sempre no banheiro do quinto andar, da
presidência, que é o mais vazio e reservado da empresa. No começo não
chegávamos a transar, mas ficávamos numa esfregação gostosa enquanto nos
beijávamos que me deixava molhada o dia inteiro, passava o resto da tarde
sambando dentro da calcinha. Uma delícia, mas me deixava com aquele tesão que
até dói, sabe?
Fomos forçadas a evoluir na relação porque ela se sentia assim também.
Babi, impecavelmente vestida com sua saia abaixo do joelho combinando com os
saltos altos, ia trabalhar às vezes sem calcinha, só para me provocar. Quem é
que resiste a uma mulher gostosa, cheia de tesão e sem calcinha? Eu não
consegui resistir.
Honestamente, não quis me envolver com a Babi. Tanto que quando nos
conhecemos até evitava conversar muito para não parecer que estava dando algum tipo
de mole... Mas ela soube ser cativante, é espirituosa, uma ótima piadista, me
fazia rir mesmo às oito da manhã de uma segunda-feira, ou às oito da noite de
uma sexta. Como diz o meme, o perigo disso é que, inevitavelmente, quando você vê
já está pelada na cama dela (e cheguei mesmo lá umas duas ou três vezes).
Aconteceu comigo, certeza que aconteceu com muitas outras e com relação a
isso tenho um total de zero arrependimento, porque foi uma delícia. Até agora,
quando me lembro, fico com tesão. O problema foi só que isso gerou um surto na
outra!
Não, não que ela tenha sabido de tudo que rolou. Não soube, eu jamais
contei e nunca que contaria porque aí sim seria ver o circo pegar fogo! Mas ela
nos viu algumas vezes na impressora (que virou nosso ponto de encontro), viu outras
no café. Teve uma vez que ela teve a audácia de me seguir até lá embaixo, onde
a Babi fumava. Quis flagrar algo, mas só se frustrou porque às vistas dos
outros nós não fazíamos nada. Mas quer saber? Eu adorei vê-la com ciúmes.
Foram raras as vezes em que me senti poderosa na vida e esta certamente foi
a principal. Cheguei naquele ponto em que ela faria simplesmente qualquer coisa
que eu pedisse, só para me agradar. Para você ter uma ideia, passou a dizer o
meu nome em seus orgasmos. Me senti com muito poder e eu o tinha, de fato.
Provavelmente porque soube manter a discrição com a Babi, que era uma fonte de
inspiração sem fim ao mesmo tempo em que servia como uma carta que eu tinha na
manga sempre a meu favor, caso precisasse, para alguma eventualidade. Mas nunca
vi necessidade de usá-la porque também nem deu tempo. Do nada a mulher surtou,
me acusando de ter um caso que eu realmente tinha, mas que ela não sabia, nem
tinha como provar. E isso foi o começo de uma avalanche que, por pouco, não me
soterrou junto.
Em minha defesa, não provoquei nenhuma crise, só o gatilho. Ela já tinha
as coisas todas mal resolvidas dentro dela, paciência, essa questão com a Babi
foi só o empurrãozinho para que despencasse no abismo montado por ela mesma; criado
por ela mesma. E digo isso me valendo da desculpa que ela inclusive apresentou
na ocasião, justificando o surto: uma crise de meia-idade. Estava às vésperas
de completar 50 anos, não soube lidar com a possibilidade de me perder para
alguém muito mais nova e espanou. É o que explica!
Isso a fez “meter os pés pelas mãos”, como minha mãe gosta de dizer. Foi
impulsiva, de um jeito que não combinava nada com ela, sempre tão precisa em
suas ações, e seus gestos, e suas palavras. Mas o ciúme faz isso, né?, mexe com
a cabeça da gente, nos deixa um pouco irracionais. Dizia ela que não precisava
de mim. Para nada: nem para sexo, nem para trabalho, nada. Estava notavelmente
ferida e só queria me atingir falando essas coisas, mas só conseguiu de verdade
quando deixou de falar e começou a me ignorar. Assim mesmo, passou a fingir que
eu não existia, do dia para a noite.
Você já passou por isso alguma vez? É horrível, me senti um lixo, até dei
um tempo com a Babi por conta disso, inventei que estava com uns problemas urgentes
que precisava resolver. Foi uma virada muito brusca na história, temi pela
primeira vez que pudesse perdê-la. Então meu empenho passou a ser exclusivamente
reconquistar quem eu realmente queria – sem querer desmerecer a Babi, que é uma
pessoa incrível.
Só que foi difícil, a mulher resistiu a cada tentativa minha, fechada
dentro de uma fortaleza erguida por ela, onde eu era proibida terminantemente de
adentrar. Aí por causa disso teve um dia que foi a minha vez de agir de cabeça
quente. Sou humana também. Nós discutimos, finalmente a fiz voltar a falar, mas
fiquei chateada porque ela reafirmou que não precisava mais de mim, num tom
seco, quase terminativo. Mil coisas estavam rolando no trabalho, planos de
expansão a pleno vapor e ela com esse discursinho barato! Misturar os assuntos
era muito injusto, beirava o absurdo.
Eu quis provar que ela precisava, sim, de mim. Minha maneira de mostrar
isso foi fazê-la cuidar sozinha dos trâmites de uma negociação super chata que
eu vinha cuidando, a pedido dela! Este foi o meu erro e reconheço que foi o que
me fez estupidamente baixar a guarda. Essa vulnerabilidade fez tudo realmente começar
a ruir.
Sim, uma coisa não tem nada a ver com a outra, eu jamais deveria também ter
misturado as questões do trabalho com a nossa relação pessoal/amorosa, mas
entenda: nem a respeito de trabalho ela falava mais comigo! Dependia de mim, do
meu serviço, e dizia que não! Por birra! Porque é cabeça dura, orgulhosa!
Porque estava em crise e também misturava as questões como se os assuntos
fossem complementares. E o resultado disso foi que ela se fodeu, “em verde e
amarelo”, como minha mãe fala.
Passados tantos anos trabalhando junto, me envolvendo com ela, ficou
notável que suas aptidões no trabalho não eram lá aquelas coisas. Quer dizer,
ela é super competente, tem anos de serviço, ótimos cursos no currículo e tudo
mais. Mas cá entre nós, teve a vida na empresa sempre muito facilitada, várias
portas se abrindo quando essas brechas sequer existiam. Acho que esqueci de
mencionar que a esposa dela é a presidente da companhia. Isso facilita tanto!
Mas não teve santo que a ajudasse, ou presidente, quando suas ações individuais
provocaram um prejuízo milionário e uma mancha inédita na reputação da empresa.
Ela cometeu um erro bobo, de principiante, que deveria ter servido para mostrar
seu nível de (in)competência e ser usado como motivo para uma demissão por
justa causa. Mas privilegiadamente só foi afastada por uns dias, se recolhendo
sei lá onde para lamber as feridas cinquentenárias.
Claro que mesmo assim foi um choque! Ela mal tirava férias, junto com a
esposa são duas workaholics, viciadas em trabalho como se a vida se
resumisse a apenas isso. E a esposa por sua vez nunca nem deu mostras de sequer
chamar sua atenção, que dirá afastá-la do trabalho! A decisão pegou muita gente
de surpresa, me incluindo, porque se deu praticamente na calada da noite, como
se os motivos para isso tivessem sido listados enquanto elas estavam na cama,
se preparando para dormir.
Nesse momento foi quando pensei que tudo viria à tona, a empresa inteira
virou os olhos para mim, afinal eu trabalhava diretamente com a responsável
pelo prejuízo sem precedentes, agora afastada do trabalho por um período
indeterminado. Mas acabou servindo como uma oportunidade de ouro para eu
mostrar minha competência e tirei isso de letra. Acho até que fui mais
eficiente do que ela, porque me considero mais ligeira para certas decisões.
Mas jamais que eu ficaria feliz com uma oportunidade do tipo para crescer
no trabalho. Minha carreira nunca foi o meu foco, eu estava lá só por causa daquela
mulher. Já posso admitir que gosto dela e que me preocupo com ela, ainda que
ache desnecessário expressar em palavras o que venho dizendo desde o início.
Desde o dia em que ela disse que tinha sido afastada contra a vontade até o dia
em que finalmente voltou, minha expectativa era unicamente tê-la de volta.
Só que ao voltar ela surgiu diferente. Ainda mais distante e ausente,
embora parecendo muito mais coerente. Quer dizer, não tinha o olhar tão perdido,
como nos dias que antecederam seu aniversário, ao contrário: estava com uma
expressão mais segura no rosto, como se tivesse encontrado um antídoto para o
mal que a afligia. Estava na cara que envolvia alguma mulher.
Não era alguém da empresa porque ela esteve longe, por semanas. Mas
apostei todas as minhas fichas de que era alguém que ela conhecia porque este é
o seu modus operandi: sempre se aproxima daquelas com quem já teve um
mínimo de interação prévia, quem ela já rondou. Levei alguns dias até descobrir
quem era e só soube porque na verdade segui a esposa dela, que estava atrás da
mulher também. Ou seja, descobrimos quase juntas que a amante era alguém mais
ou menos da minha idade que obviamente lhe servia um belo de um chá de buceta,
mas de cara percebi que havia mais. Tracei um perfil e com o tempo fui
constatando em que pontos havia acertado ou errado.
A amante era detentora de alguns prêmios, reconhecida em todo o país pela
mente brilhante. Uma pesquisa no Google resultava em várias páginas falando
sobre ela por diversos motivos, quase todos enaltecendo seus feitos
profissionais. No Instagram, ao contrário, uma conta privada com pouco mais de dois
mil seguidores falava mais sobre ela do que as fotos em que estava marcada, no
perfil do trabalho.
A corna mansa sabia de tudo. Não apenas porque a seguia, mas porque
parecia haver uma espécie de acordo entre elas. Foi o que entendi, quando a
mulher por quem fui apaixonada justificou suas razões para não nos encontrarmos
mais. Depois de anos de dedicação e fidelidade, devo dizer, ela quis me
descartar por ter encontrado um brinquedo novo e autorizado pela esposa.
Eu a conhecia bem o suficiente para perceber o quanto aquilo tudo a
estava fazendo bem, até seu rosto estava mais corado, parecendo mais saudável. Mas
ela obviamente não me conhecia o suficiente se por acaso achou que eu não ia
resistir a esta decisão estúpida de afastamento. Não sabia da missa a metade,
como minha mãe gosta de dizer. Eu “sou dessas mulheres que só dizem ‘sim’”, mas
quem decide a hora de ser página virada sou eu.
A amante podia ser tudo de bom nesse mundo, o que não acho que seja
verdade, mas eu também não fico atrás. Tenho sex appeal, meus atributos
que a cativaram durante todo esse tempo e que não podem ser simplesmente
desconsiderados. O interesse por alguém não se perde assim, do dia para a noite,
então deixei que brincasse um pouco enquanto bolava a minha estratégia.
Tracei o plano perfeito ao armar um encontro mais longo durante uma
convenção no Mato Grosso do Sul, com meses de antecedência. Três dias e quatro
noites num resort cinco estrelas no meio do Pantanal, nós duas num evento com
previsão de durar só um dia. Inventei outras atividades para justificar o tempo
a mais por lá e estipulei uma maneira de receber hora extra por esse período. Esquema
perfeito, comprei as passagens pela empresa e tudo mais. Ela seria obrigada a
ficar comigo nesse período, bem longe de tudo, e eu ainda dei um jeito de ser
bem remunerada por isso, numa viagem dita a trabalho, mas que seria apenas
diversão e lazer.
Em paralelo, dei um jeito de descobrir tudo o que podia sobre o novo
caso. Precisava saber qual era o poder que a outra tinha para termos um embate,
no mínimo, justo. Passei a segui-la em todos os lugares, de um jeito muito mais
discreto que a esposa, porque não usei Uber e fiz questão de entrar nos locais em
que ela foi – nos bares, nos restaurantes e até nas lojas de shopping. Dei um
jeito de pescar fragmentos de conversa que apontassem algo, qualquer coisa
valia.
A amante gostava de passear em farmácias, ficava um tempo olhando
produtos de perfumaria, mas raramente comprava algo. Almoçava quase todos os
dias no mesmo restaurante, perto do trabalho, e antes de voltar para o serviço parava
na mesma banca de jornal para comprar cigarro e revistas que escolhia na hora. Fumava
muito, quase dois maços por dia, o que justificava as idas às drogarias.
Passei a segui-la também quando estava acompanhada da mulher que eu gosto,
houve vezes em que se encontraram em plena luz do dia, mas conversaram muito
baixo, não consegui escutá-las. Por fim, baixei as conversas entre elas no
WhatsApp e fiquei noites envolvida naquilo, lia um pouco antes de dormir. Isso
não faz muito tempo e coincidiu de ser numa época em que as duas não se viram
muito porque a amante anda enrolada no trabalho, então a frequência e o teor
das conversas é muito mais comprometedor. Foi minha certificação de que não é
só um caso; elas parecem apaixonadas.
Há muitas formas de se dizer “eu te amo” e nem todas envolvem essas três
palavras. O cuidado, a preocupação e o carinho são partes incontestáveis de
algo maior que pode perfeitamente ser chamado de amor. E o que li naqueles
diálogos tem muito disso. Parece até vir de uma pessoa diferente, toda preocupada,
atenciosa. Aquilo mexeu comigo porque em anos de convívio eu jamais tive uma
parte ínfima do que li. Acho que ninguém teve, nem a esposa.
Foi então que percebi, triste e ineditamente, que para esta batalha eu simplesmente
não tenho nenhuma arma. Não tenho a menor condição de sequer me apresentar para
alguma batalha. E falo isso também por experiência própria porque nos últimos
anos lutei me valendo deste mesmo trunfo – ainda que agora soe tão xoxo, capenga,
manco, anêmico, frágil e inconsistente. Reconheço que não tenho a menor
condição de vencer a tal amante, eu mesma seria capaz de me interessar por ela!
Porém, reconheço também que se eu não tenho como vencê-la, a esposa tem. O
arsenal dela é muito maior! E ela se movimentou por conta própria, parecendo
perceber também que algo no casamento havia mudado. Se eu que estou longe reparei,
que dirá quem divide a cama com ela há anos!
Só que seu movimento para se salvar se assemelhou a um afogamento, sabe?,
quando a pessoa se debate tanto que afunda até o salva-vidas? Foi assim. Ela
quis se salvar e me empurrou para baixo.
Sua grande ideia para reconquistar a esposa foi pegar a minha grande ideia
da viagem. Numa das poucas interações que tivemos, em anos, fui obrigada a
ouvir parte de seus planos, quando ela me informou que planejava viajar em meu
lugar sem que a esposa soubesse. Seria uma espécie de surpresa, ela
disse. Falou que tinha dito em casa que viajaria em seu lugar, por um motivo
qualquer, só para ter o elemento surpresa a seu favor quando chegasse o dia da
viagem.
Achei super arriscado. Eu tinha lido as conversas com a amante, sabia que
a viagem atrapalhava os planos das duas. Ambas passaram a planejar uma noite
juntas tão logo souberam da viagem da esposa iludida que, na tentativa de
salvar o casamento, passou a correr o sério risco de ver seu matrimônio naufragar,
pois o tiro claramente sairia pela culatra se não fosse a minha intervenção.
Imagine só combinar de dormir com a amante, passar a noite com ela pela
primeira vez desde que começaram a se envolver, e chegar em cima da hora e ser
frustrada, obrigada a embarcar para outro estado com a esposa mosca-morta-corna-mansa.
Um presente de grego! De brinde ainda perderia um verdadeiro baile à fantasia
no restaurante que tanto ama só para se ver envolvida numa viagem de trabalho
(porque seria!).
Foi então que inventei um conflito de agenda. Foi impensado, agi por
impulso. A esposa veio procurá-la mais cedo, na intenção de revelar seus planos
e a surpresa programada, aproveitei que estava sozinha e dei a entender que a
viagem não vai rolar por causa disso. Minha superiora direta saiu mais cedo
para se encontrar com a amante, foi a armadilha perfeita. Falei de um jeito que
meio que a forçou a ir ver a agenda, lá no computador.
Eu já tinha tomado o cuidado de deixar o navegador com o WhatsApp logado,
numa aba ao lado da agenda, que é on-line. Ao ligar para ver um, ela com
certeza veria o outro. A curiosidade não mata só o gato, sabemos.
Antes de ir embora, porque ela mandou que eu fosse, dando a entender que
sozinha no escritório não presto para muita coisa, tomei o cuidado de mandar
uma mensagem que eu sabia que também seria lida, dentro de alguns minutos. Não
falei muita coisa, apenas o suficiente. Escrevi: “Sua mulher me mandou ir
embora mais cedo. Já estou com saudades, nos vemos amanhã! Beijos de quem é sua,
desde o começo”.
Agora, enquanto te conto tudo isso, a esposa já deve saber tudo sobre
mim, e também o fato de que a mulher que nós amamos está apaixonada por outra.
O que vai acontecer, ninguém sabe. A vida é uma caixinha de surpresas, já diria
dona Célia.
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