O plano (conto erótico)
Essa é a quinta história da segunda temporada da Novelinha <3
Se ainda não leu a quarta, "3xTPM – Ciclo longo", clique aqui.
Há determinadas épocas na vida em que temos a nítida impressão de que o
tempo está passando diferente, como se de repente as 24 horas do dia se
estreitassem e ficassem estranhamente mais curtas, durando menos que seus minutos
habituais. Em geral, essa percepção surge quando gostaríamos de ter mais tempo para
nos dedicar a algo, o que quer que seja, ou ainda quando o trabalho em excesso
começa a enxugar nossas horas livres, fazendo com que o cansaço acumulado gere
essa falsa impressão. Outro motivo pode ser o resultado natural do processo de
envelhecimento, que impõe obstáculos antes inexistentes, que fazem com que
atividades simples se tornem mais cansativas e aí o tempo parece encolher.
Célia viveu recentemente o drama das horas curtas e contidas. Nada exatamente
havia mudado em sua rotina no trabalho, há anos dedicava cerca de 60 horas
semanais exclusivamente para os assuntos do escritório, sempre levando serviço
para casa, inclusive nas férias e aos finais de semana. E aí, “do nada” (entre
aspas porque tudo com o tempo tende a se deteriorar, até nós mesmas!), começou
a entrar na famosa crise dos 50 anos, que do dia para a noite pesou sobre seus
ombros algumas décadas de dedicação intensa – porque Célia sempre foi do time
que não sabe fazer nada pela metade; quando faz, é de corpo e alma. O sucesso dos
últimos anos da rede de hotéis Etur Lux servia como prova incontestável disso.
Seu papel na companhia era fundamental, em partes porque como CEO ela não sabia
delegar e acabava por assumir muitas responsabilidades.
Aí a crise da meia-idade a abalou de um jeito inédito, a fazendo
desacreditar até de seu potencial, seu combustível até ali, e foi então que seu
rendimento no trabalho estagnou. Não chegou a cair, mas por ser bastante
competitiva, travar representou quase um fim para ela, o que agravou sua crise
e a fez se afastar do trabalho por um tempo, a pedido da presidente da Lux,
Bruna Toledo, sua esposa.
Sua companheira de muitos anos teve com ela uma conversa doce, porém
firme, quase um monólogo, na verdade, que na opinião de Célia deveria ter
acontecido no ambiente do trabalho e não na cama delas. Mas foi assim que soube
de seu afastamento compulsório: de pijama, antes de dormir, prestes a completar
50 anos. Bruna listou o que chamou de “razões e motivos” para a decisão, mesmo
no escuro elencando nos dedos suas justificativas para afastar a mulher.
Isso aconteceu numa quinta-feira, já perto da meia-noite. Ficou marcado
porque Célia se recusou a simplesmente desaparecer do trabalho, literalmente do
dia para a noite, com a agenda cheia de compromissos, e conseguiu convencer
Bruna com o argumento de pelo menos poder repassar algumas tarefas no dia
seguinte. Se a ideia era tirar licença por um período, somente, apenas para
descansar e se restabelecer, não podia só sumir e deixar tudo pegar fogo porque
depois ela é quem teria de apagar os incêndios.
Na manhã após a decisão de Bruna, a notícia do afastamento da CEO pegou de
surpresa a assistente de Célia, que visivelmente ficou espantada com aquela
novidade, assim, de repente. Marta tinha tantas perguntas a fazer que acabou ficando
em silêncio, um pouco em choque, pareceu. E estava mesmo porque nunca imaginou
que a presidente tomaria uma atitude dessas, na calada da noite, com um milhão
de coisas acontecendo na empresa. Mas achou compreensível.
Braço direito de Célia Dantas de Aguiar, Marta Pinheiro entrou para a
Etur Lux como estagiária, ainda nova, e já no primeiro ano foi “içada” para
trabalhar com a CEO. Quando se formou, não migrou para o Jurídico como era esperado
porque ao passar na prova da OAB foi convidada para o posto de assistente, que
nem estava vago na ocasião. Muitos diziam que a moça só tinha subido na Lux por
ser a queridinha da chefe, mas Marta sabia que era porque ela é foda também.
Sua capacidade e competência ficaram comprovadas quando Célia anunciou
que se afastaria por uns dias e que a assistente ocuparia seu lugar durante esse
período. Tirando o fato de que era bastante imprevisível que a CEO sequer faltasse
ao trabalho, era absolutamente natural que, caso um dia fosse preciso, por
exemplo, por conta de uma licença, Marta é quem assumiria o posto.
Seu primeiro compromisso oficial representando/substituindo a chefe foi naquele
mesmo dia, já no meio da tarde, numa reunião na Agência Rubi, a última de uma
série encontros. Aquele foi o mais simbólico de todos porque serviu somente para
ela se certificar de que as exigências de Célia seriam atendidas. Todas foram
feitas durante o exaustivo processo de negociação para a contratação da agência,
que Marta só acompanhou, e por isso se sentiu um pouco culpada por celebrar, com
direito a champanhe, um contrato em que atuou apenas como figurante. Porém, saiu
da reunião satisfeita porque encurtar o prazo, em cima da hora, foi mérito seu.
Com o afastamento da chefe, se ela não tivesse comparecido à reunião o contrato
não teria sido assinado naquele dia e Marta sabia que se isso não acontecesse, a
publicitária escolhida por Célia entraria de férias, o que atrasaria em 15 dias
o início dos trabalhos.
Ou seja, ao exigir que a campanha de marketing da rede de hotéis
começasse já na próxima semana, Marta foi a responsável direta por adiar as
férias de Miriá, o que a fez querer beber naquela noite, num happy hour com
as colegas de trabalho. Coincidência ou não, foi a frustração que também levou
Célia para o mesmo local.
Ao voltar para o escritório naquela tarde, a assistente já não encontrou
mais a CEO, que foi embora pela primeira vez antes do fim do expediente. Marta
deveria ficar feliz com a oportunidade repentina de crescer no trabalho, mas gostava
de Célia e se preocupava com ela.
Naquela noite, Célia dirigiu até O Bistrô decidida a afogar suas mágoas em
qualquer copo de uísque. Estava frustrada, chateada com sua idade, com seu
corpo que já não funcionava como antes, exigindo mais descanso e mais horas de
sono a que estava disposta a ceder. Mas naquela sexta especialmente estava
aborrecida com Bruna, que não pareceu compreensiva diante de tudo o que lhe
ocorria a esta altura da vida e a afastou do trabalho deliberadamente, ao menor
sinal de estagnação de rendimento. O primeiro, diga-se de passagem, em 20 e
tantos anos de dedicação e prestação de serviço.
Ainda que a esposa tenha afirmado que a medida visava apenas ao seu bem-estar
e reforçado que seria só por algumas semanas, Célia se sentiu preterida. Não
pela presidente da companhia, mas certamente por Bruna que, no mínimo, deveria
tê-la como sua funcionária preferida na empresa. A mulher acompanhava seu
esforço diariamente, afinal, sabia que ela jamais fazia corpo mole e não
custava nada ter lhe dado uma colher de chá. Entendia como os negócios funcionavam,
regidos pela lógica capitalista, mas poxa!
A escolha pelo O Bistrô se deu por ser um ambiente conhecido, que Célia
se sentia segura inclusive para beber bastante e ser carregada de volta para
casa, caso precisasse. Seria ótimo beber dessa maneira, esquecer de tudo o que
a aborrecia, mas ela não conseguia se embriagar a este ponto; geralmente depois
de algumas doses só ficava ainda mais zangada. Isso quando já estava brava
antes de beber, como era o caso.
Esta noite ainda tinha o agravante de ser seu aniversário e a esposa ficou
presa no trabalho até tarde, então beberia só. Provavelmente, não fosse o seu
afastamento estaria trabalhando também, não se embriagaria e nem se aborreceria
com Bruna, por mais isso. Seu primeiro gole de álcool foi regado de
ressentimentos.
Casamento não é um negócio fácil. Envolve diversas negociações e também
ter que ceder em muitas situações. Célia achava Bruna uma pessoa incrível, mesmo!,
era sua amiga de vários anos, esposa há tantos outros. Para ela era bastante nítido
que, entre perder uma colaboradora da empresa ou sua parceira, a presidente da
Etur Lux cortava a cabeça da CEO sem pensar duas vezes e num piscar de olhos. E
foi meio o que fez, provisoriamente, às custas de Célia ter de passar a noite
de seu aniversário remoendo esse assunto. Curioso, porque ficar mais velha foi
justamente o que desencadeou sua crise, que por sua vez gerou algumas
pendências que ela realmente não conseguiu dar conta e que fizeram Bruna
afastá-la do cargo.
Claro que reconhecia que a esposa abria concessões em nome dela; em nome
delas. Dos mais de 20 anos em que estavam juntas, em 18 deles Célia deu
expediente no escritório central da Etur Lux e parte da escalada dentro da
empresa foi galgada com a ajuda de Bruna, presidente da empresa, que encurtou
alguns degraus e até criou portas e acessos que não existiam e que facilitaram
a vida da CEO.
No âmbito pessoal, logo que a crise começou a se instalar, as duas
conversaram bastante e Bruna foi a primeira a se colocar ao seu lado, como era
esperado. Na ocasião, até a liberou oficialmente para ter uma amante, se isso a
deixasse feliz, se sentindo mais viva.
Só que a esta altura, aborrecida, era difícil Célia se lembrar de todos
os bons feitos da esposa. Comemorar um cinquentenário não é divertido, menos
ainda quando se já está previamente encafifada com a questão etária. Sabia que o
conflito de emoções e sentimentos era resultado da crise de meia-idade, se
manifestando mais alto na sua sexta-feira 13, e por isso, ao terminar a
primeira dose se sentia ainda mais infeliz do que quando havia chegado. Como se
experimentasse a frieza de um fundo de poço.
Não pôde nem desabafar com Tatiana, que ineditamente não estava nO Bistrô
naquela noite. Recentemente ela e Patrícia tinham anunciado o casamento
inesperado com uma Fulana, alguns anos mais nova. Pensar no assunto a fez pedir
uma segunda dose e foi nesta hora que Célia viu Miriá.
Embora não tivessem sido apresentadas de maneira oficial, tampouco
interagido, Célia obviamente sabia quem era Miriá Azevedo. Tinha fechado
contrato com uma das melhores agências de publicidade do país, o mínimo era ter
conhecimento de quem seriam as pessoas que trabalhariam para ela, mesmo que
indiretamente. Miriá no caso era a geniazinha que coordenava o centro criativo
da Agência Rubi, tinha um currículo recheado de premiações e Célia exigiu
que ela tocasse o projeto da Lux. Não faria sentido ser outra pessoa, se estava
contratando a Rubi, e para não correr o risco de a publicitária não assumir seu
projeto, a CEO fez seu nome constar em contrato.
Sua rotina na ocasião estava bastante movimentada e agitada, com o
lançamento de mais um hotel, mas Célia se dedicou a pesquisar tudo o que pôde
sobre a mulher, que tinha uma presença tímida nas redes sociais, com a conta no
Instagram bloqueada, que não permitia muitos aprofundamentos sobre sua vida
pessoal. Mesmo escassas, porém, encontrou algumas fotos e o que mais chamou sua
atenção foi o olhar felino de Miriá, que tinha uma beleza única e uma
sagacidade que parecia emanar de cada poro de sua pele.
Mas a mulher que viu aquela noite no bar dO Bistrô não se parecia com a
mesma das fotos encontradas após uma pesquisa no Google. Célia achou Miriá
abatida, diria que até triste. Reconhecia naqueles olhos marcados por profundas
olheiras parte do cansaço que via em seu próprio rosto todas as manhãs, com a
diferença de que a moça tinha quase a metade de sua idade.
Não que tenha ido falar com ela por compaixão, mas verdade seja dita: quando
a abordou na área de fumantes, depois da terceira dose de Jhonnie Walker, Célia
não sentia exatamente a mesma admiração de antes, mas o fato de Miriá não a
reconhecer tornou o primeiro encontro divertido, o que a fez querer prosseguir.
Inclusive porque além de tudo a mulher estava aborrecida, pois a campanha da
Lux a impediria de tirar férias e naquele momento ela reclamava disso
justamente para a CEO licenciada.
Ficar com Miriá não foi algo programado. Célia não planejou comemorar seu
aniversário se alcoolizando e transando com uma estranha dentro do carro, no
estacionamento do restaurante de Patrícia. Nem quando era jovem agia assim, tão
imprudentemente, que dirá no alto de seus 50 (recém-completados) anos. Mas em
sua defesa, tudo o que aconteceu para que o primeiro encontro entre as duas se
tornasse possível foi uma sucessão de eventos que acabaram empurrando ambas
para aquela situação, que obviamente não terminou depois do primeiro sexo.
Claro, porque Miriá não fez nada contra sua vontade, inclusive se encontrar
novamente com Célia, uma semana depois, já sabendo que ela era casada.
Com outros tipos de esgotamento, mas todos igualmente provocados pelo excesso
de trabalho, Miriá cruzou com Célia por acaso, numa noite em que estava
vulnerável, vencida pelo cansaço da semana e amortecida após vários drinques
coloridos num local que ela nem pretendia ir. Ou seja, em partes tudo foi culpa
dO Bistrô, que tinha ótimas combinações alcóolicas e bonitos espaços à meia-luz,
propícios para sedução. Ou nem tanto, se considerar que o estacionamento do
restaurante era só um terreno acoplado ao imóvel cercado de plantas e mesmo
assim Miriá o considerou minimamente adequado para se pegar com uma
desconhecida. “Adequado” porque o conceito de “romântico” passou bem longe
aquele dia.
Mesmo assim, ainda que um pouco bêbada, Célia a seduziu; ciente de quem ela
era na fila do pão e consciente de que Miriá, por sua vez, mais alcoolizada ainda,
não fazia a menor ideia de quem vinha a ser a mulher com quem interagia. Na ocasião
até pensou que, talvez, se soubesse ela nem teria aceitado o convite para um
sexo casual no banco de trás do automóvel, estacionado às vistas de todos. Provavelmente
não. Mas no segundo encontro já sabia e quis transar de novo. E mais outra vez,
antes de Célia fechar a conta do motel.
Da mesma forma que jamais foi programada, a relação entre as duas nunca
foi tranquila. Primeiro, Miriá descobriu que Célia trabalhava justamente para a
rede de hotéis que tinha minado seus planos de férias, e só depois de gozar na
mão aliançada da CEO da Etur Lux, com quem inclusive tinha reclamado, se
dizendo explorada. Descobrir que a peguete era casada, porém, não deu tanta
ressaca quanto o fato de depois Miriá ficar todo o tempo pensando na mulher,
que tinha uma pegada boa, um beijo gostoso e um toque bem certeiro.
Depois, sabendo que Célia jamais poderia oferecer algo que fosse além das
belas trepadas em horários sempre programados e pré-determinados, Miriá conseguiu
a proeza de se apaixonar e isso foi ainda mais inesperado do que apenas um sexo
casual como amante de mulher casada. Quando percebeu, já passava os dias pensando
nela, ansiosa por uma mensagem piscando no celular, qualquer besteira que
mostrasse que Célia também sentia o mesmo.
Miriá se programava para os encontros que passaram a ser semanais quando
os motéis ficaram para trás e a relação ganhou ares de relacionamento estável,
com Célia frequentando seu apartamento, inclusive ganhando uma cópia da chave. Suas
preparações iam desde a arrumação da casa, o mínimo nesses casos, até a compra
de lingeries provocativas e brinquedos eróticos. Muitos deles.
É bem verdade que a maioria ela precisava ensinar Célia a manusear porque
seu conhecimento se restringia à sua escassa criatividade, resumida em vários
anos de casamento com outra mulher também limitada nesse sentido. Mas Célia
adorava aprender! Além de gostosa, Miriá era didática e gostava de exemplos
práticos, então mesmo professoral, a apresentação daquela infinidade de objetos
sexuais, que chegavam semanalmente pelo correio, equivalia quase a uma
preliminar completa. Sempre foi visível sua satisfação com todo o desprendimento
de Miriá, que a atiçava em vários níveis, fazendo com que pegasse fogo com
facilidade. Com ela, Célia sentia-se não só mais viva, mas poderosa! Foi fácil
encurtar os espaços entre os encontros e elas passaram a se ver duas vezes na
semana após alguns meses.
Miriá ganhou Célia com um bem servido chá de buceta? Claro que sim, sem
dúvida, mas seria injusto também desmerecer quem ela é, fora da cama. Desde o
primeiro instante, Célia se encantou com sua argúcia, sua inteligência e
perspicácia. Depois do sexo acontecia de ficarem às vezes conversando alguns
minutos e podia ser o assunto que fosse: Célia lançava e Miriá arrematava, com
sua opinião formada para qualquer tema, de política a religião, de economia a
tecnologia, com um cabedal que a permitia conversar sobre tudo, inclusive
música, novela, fofoca de artista, reality show. E com um senso de humor
que fazia Célia querer vê-la cada vez mais e por isso passou a inventar motivos
para se encontrarem também fora dos dias tradicionais.
Houve uma vez, por exemplo, em que almoçaram juntas, numa cantina que
tinha perto da agência. Outra em que Célia levou Miriá ao cinema, em plena
terça. Teve um caso em que foram dar um passeio na feirinha da Liberdade e um outro
em que ela aceitou a proposta de Miriá para tomar uma água de coco no litoral.
Sim, as duas fizeram um bate e volta de três horas até a praia só para pisar na
areia.
Mas sempre foi assim: combinado. Em cima da hora, muitas vezes, mas de
forma agendada, minimamente debatida e discutida.
A primeira vez que se encontraram sem querer e agiram como duas estranhas,
porque havia mais gente em volta, a cena soou tão absurda que Miriá passou dias
incomodada com aquilo. Se sentiu super esquisita, recepcionada com frieza pela
mulher que já estava na sua vida há quase dois anos. Não que Célia fosse
assumir o namorico delas na frente do pessoal da agência, mas Miriá achava que também
não precisava tratá-la com indiferença ao se esbarrarem no restaurante.
Foi neste dia que Preta passou mal e precisou ser afastada, e por isso Miriá
automaticamente dobrou sua carga horária na agência, ao ficar sobrecarregada de
trabalho. Isso a fez cancelar vários encontros com Célia, que a acusava de ser
vingativa e passou a exigir por um encontro de um jeito até um pouco desmedido.
Mas Miriá estava sendo sincera; não tinha culpa se a diretoria da Rubi era
incapaz de lidar com crises internas. Agilidade não era o forte de Ricardo Gomes
e companhia, que ainda tinha inventado de fazer uma festa no meio do caos e
esse parecia ser o foco da agência, que levou mais de uma semana só para criar o
anúncio da vaga temporária.
Obviamente que ela adoraria uma bela de uma trepada para desanuviar pelo
menos parte de todo o estresse que sentia. Miriá estava fazendo tudo, menos cu
doce. Sinceramente só conseguiria alguma coisa se fosse de novo dentro de algum
carro e ainda teria que ser no subsolo do trabalho, para economizar o tempo do
percurso. Como elas já tinham superado essa fase, pela primeira vez ficaram vários
dias sem se ver. Conversaram por mensagem neste meio-tempo, claro, mas Miriá só
respondia de vez em quando, em geral depois que chegava em casa, já tarde da
noite, e aí Célia só conseguia dar continuidade na manhã seguinte.
Nesse ínterim, pareceu sentir a falta de Miriá de um jeito que jamais demonstraria,
em tempos normais. Célia sempre foi de manter uma postura de quem está no pleno
controle de qualquer situação, com Miriá representando a parte visceral e
apaixonada do romance, toda emocionada. O breve período em que ficaram sem se
ver, então, acabou por ter um lado bom.
Conseguiram se encontrar depois de quase 20 dias após se esbarrarem sem
querer durante o almoço nO Bistrô. Na ocasião, Célia chegou mais cedo que de costume
porque saiu alguns minutos antes do escritório; em São Paulo esse tipo de coisa
faz toda a diferença, especialmente no fim do dia, quando as vias se congestionam
praticamente ao mesmo tempo. Há algum tempo que exercia no trabalho uma carga
horária reduzida, em partes porque Marta vinha tocando alguns projetos que, até
então, eram exclusividade sua.
Ao entrar no apartamento de Miriá, pouco antes das seis, Célia a surpreendeu
num canto da sala, apoiada na vassoura, vendo algo no celular. Usava apenas uma
toalha na cabeça e as lentes de seus óculos refletiam um e-mail do trabalho.
Parecia preocupada e cansada, e ao vê-la chegar, teve o rosto transformado por
um misto de expressões.
Miriá primeiro se assustou, quando ouviu a porta sendo destrancada, ainda
tão cedo. Pareceu inicialmente se constranger por estar ali, desprevenida, mas
foi algo que durou muito pouco porque ao ver os olhos maliciosos de Célia
varrendo seu corpo nu, logo um lampejo iluminou todo o seu rosto. Não demorou a
soltar o cabelo e correr em direção à mulher, que deu a impressão de ficar
aguardando que ela viesse ao seu encontro.
– Chegou cedo,
não vale – Miriá pareceu reclamar, mas sua voz saiu como um miado, abafada no
meio do beijo. Demonstrava estar feliz por finalmente vê-la, apesar do que
dizia – Nem me vesti para você...
– Roupa?, ora, que
bobagem – Célia a enlaçou pela cintura, a puxando para ainda mais perto, o
nariz rasgando a lateral de seu pescoço, a fazendo gemer baixinho, se
contorcendo nua contra a sua roupa – Que mulher cheirosa, que ótima surpresa te
encontrar assim, Miriá – ela puxa o celular de sua mão e joga em cima do sofá,
perto de onde estava a toalha – Senti sua falta.
– Estava com
saudades de você – ela diz, ao mesmo tempo.
O beijo inicialmente foi apressado, com o afã típico de quando duas amantes
são castigadas e obrigadas a se manter afastadas por um tempo. O corpo de Miriá,
extremamente sensível ao toque de Célia, rapidamente ficou inteiro arrepiado. Ela
de propósito deslizava só as pontas dos dedos por suas costas, acompanhando o
caminho que seu cabelo úmido traçava, a fazendo arfar e grudar ainda mais seu
corpo no dela.
Caminharam um pouco trôpegas em direção ao quarto, quase se esbarrando
nas paredes do corredor estreito, sem descolarem as bocas. Ao passarem pela
porta, Miriá estava só com um dos pés em contato com o chão e foi em direção à
cama praticamente no colo de Célia, que a segurava pela cintura. Tinha a outra
mão espalmada em sua bunda, prensando o púbis dela contra sua camisa de linho e
botões dourados. Só essa breve caminhada foi suficiente para deixá-la toda
entregue a um tesão que só Célia provocava.
Sua cama estava cheia de roupas recém-retiradas do varal e foram todas empurradas
para debaixo dos travesseiros, perto da cabeceira, algumas escorregando para o
chão quando Miriá se deitou toda aberta, vendo Célia tirar a calça, sem desgrudar
os olhos dela. À beira do colchão a mulher tinha o rosto estampado por aquele
sorriso que Miriá amava, que a fazia se contrair sem querer, por se sentir tão desejada,
sabendo o que ganharia já nos próximos segundos.
Célia como sempre não entregou tudo de cara, e ao se enroscar em cima dela,
com a respiração descompassada, ainda estava de calcinha. O tecido, mesmo fino,
servia como impeditivo e estímulo, a considerar que no mesmo instante Miriá
passou a se esfregar contra a peça, puxando a camisa mais acima para que os
botões se abrissem e liberassem o bojo preto do sutiã, que maldosamente também
era uma barreira para o seu tesão.
Mantendo suas bocas unidas, num beijo molhado e urgente, Célia finalmente
tirou a camisa, com a ajuda de Miriá, que embaixo dela percorria seu corpo com
as mãos ávidas, famintas por uma pele que há dias não tocava. Após um breve
entrave com o fecho do sutiã, arremessou-o ao chão e sorriu ao contemplar a
cena de sua vitória.
Miriá cheirou profundamente o espaço entre os seios de sua amante, parecendo
uma adicta ao se encontrar com seu objeto de desejo, mas de um jeito como se o vício
ainda estivesse longe de ser saciado porque depois de lamber demoradamente cada
um dos mamilos, cheirou novamente o local, virando os olhos no final, em sinal
de puro deleite. Quis dizer algo, mas só rosnou.
– Cachorra –
Célia sussurra, quando Miriá morde a lateral de seu seio, inesperadamente.
Quis contê-la, por instinto e porque
o local ficou um pouco ardido, mas permitiu que Miriá cravasse os dentes em sua
pele mais uma vez, desta vez na lateral do outro seio, seus olhos faiscando desejo
e tesão, ao ouvir o gemido que escapou entre seus dentes. Embora inofensivas,
as mordidas poderiam facilmente deixar marcas e isso faz Célia segurar os
braços dela no alto da cabeça, seus olhos lá de cima cintilando uma lascívia quase
selvagem. Miriá fazia cada gota de seu sangue fervilhar, despertando seu corpo
inteiro para ela, como se fosse o resultado de algum tipo de bruxaria.
Célia manteve as mãos dela para
o alto e lambeu a lateral de seu rosto. Deu um beijo demorado em sua boca e
lambeu seu queixo. E depois o pescoço. Como repetindo o gesto recebido, a
mordeu de leve, primeiro só a lateral, depois lambeu e mordeu o mamilo rijo,
adornado com o piercing de argolinha, seu preferido. A mulher gemeu com aquilo,
o corpo todo se curvando para cima, pedindo mais. E Célia deu o que ela queria,
ao lamber e morder também o seio direito, a fazendo gemer de novo, desta vez ainda
mais alto.
Se havia algo que a deixava realmente excitada era provocar o tesão de Miriá,
que era bastante reativa e gemia muito gostoso, o som fazia eriçar os pelos de
sua nuca. Só por isso a mordeu de novo, a lambendo em seguida, num morde e
assopra ventre abaixo, deixando marcas carimbadas de tesão em todo o dorso retesado
da mulher, que a esta altura sussurrava diversas palavras desconexas, ou Célia
é que não as entendia direito. Seu coração batendo forte pulsava alto em seus
ouvidos, a guiando para onde Miriá também a direcionava, a empurrando pelos
ombros com as duas mãos.
Ao chegar entre suas pernas, Célia a encontrou pulsante e molhada, pronta
para ser degustada e saboreada, sem pressa, como merecia que fosse feito. Miriá
a segurou trançando as pernas em cima de suas costas, perto do pescoço, mantendo
o rosto bem próximo do seu tesão, que se assanhava só de sentir a respiração
dela por ali. Então soltou um gemido alto, gutural, quando o calor daquela
língua repousou em seu clitóris, automaticamente a fazendo se encharcar num
desejo sincero, acompanhado por gemidos melodiosos que se emendavam uns aos
outros em uma marcha erótica. Célia fechou a boca ao redor de sua buceta,
sugando o tesão que era seu, puxando Miriá pelo cóccix enquanto a lambia, a
obrigando a se apoiar nos cotovelos para continuar sob seus domínios, os
cabelos atrás caindo como uma cascata ritmada ao beijo apaixonado que recebia.
Sua vontade sincera era manter o movimento com a língua, do jeitinho que
sabia que Miriá acabaria gozando, só porque o orgasmo dela equivalia ao seu
troféu; mais ainda se considerado que ela gostava de dizer seu nome nos
sussurros latejantes e orgásticos, endereçando mesmo o prazer que sempre a
fazia se contorcer de jeitos lindos. Miriá era uma delícia mergulhando no mar
do êxtase de um orgasmo, toda entregue numa volúpia que era apenas delas. Mas
embora tentador, e indiscutivelmente excitante, Célia decidiu mudar de posição assim
que notou sua respiração se alterar, o tom de seu gemido começando a ficar fino,
num prenúncio típico.
Após finalmente se livrar da calcinha, Célia se deita meio de lado,
depois de parar ajoelhada perto de onde estava a cabeça de Miriá, que gemeu diferente
ao recebê-la na transversal, já ansiando pelo que viria. Sua respiração
ofegante era um ótimo indicativo do quanto estava excitada. Quando Célia
deitou, com o rosto na direção de seus pés, Miriá abraçou suas pernas, procurando na
meia-luz de seu quarto os pelos da mulher, sempre tão convidativos para um
beijo mais molhado. Já estava num ponto em que uma pegada mais certeira a faria
gozar e sabia que era exatamente isso o que Célia queria. Ela gostava de fazer o
69 adiantado só para que Miriá gozasse primeiro e depois a chupasse com o corpo
todo relaxado, mas ainda presa na posição, uma de suas favoritas. Era mais uma
forma de se manter no comando de tudo, vai saber.
Miriá se esforçou para adiar o máximo que conseguiu, mas os gemidos de
Célia mais abaixo a estimulavam de uma maneira que a deixavam toda rendida, e
por isso gozou, dizendo baixinho seu nome, como gostava, mas ainda envolvida nos
“lambeijos” que oferecia à Célia gemidos tão instigantes, já naquele tom perto
do orgasmo. Ao sentir os espasmos provocados pelo clímax despertado pela ponta
da língua de Miriá, Célia se declarou, pela primeira vez.
– Ah, que
gostosa – ela disse, entredentes – Eu te amo, Miriá.
Embora com as orelhas
pressionadas pelas coxas de Célia, Miriá escutou o que ela disse e se contraiu
inteira antes de se desabar em contrações involuntárias, como se gozasse uma
segunda vez. O gemido, longo, acompanhou os choques que refletiram nos pés.
– Te amo – Miriá
resmungou também, a cabeça despencando sobre a coxa de Célia. Deu um beijo
demorado nos lábios inchados da amante antes de desmontar a posição e
engatinhar até onde ela estava, mais acima, a abraçando na diagonal do colchão.
Célia abriu um dos braços para abrigá-la e deu um beijo estalado no topo de sua
cabeça, depois que Miriá se aconchegou – Nossa, estava com falta disso – ela
resmunga, sentindo o peito da mulher balançar, ao rir – É sério! Você achou que
eu fiz corpo mole, mas ando tão ocupada, tão estressada... Adoro trepar com
você. Gozar me faz muito bem.
– Não achei que você
fez corpo mole. É só que...
– Hum? – Miriá
pergunta, depois que Célia fica quieta.
– Sei lá, ando
estressada também. Me desculpe por ter te cobrado. Eu sei que anda trabalhando muito, não quis
ser insensível.
– Tudo bem, já
passou – Miriá dá um beijo nela, o rosto se virando em seguida em direção à
porta – O importante é que conseguimos nos ver e essa gozada vai me reenergizar
para aguentar o resto da semana.
– É, tomara –
Célia afofa dois travesseiros perto da cabeceira, vendo Miriá se levantar ao
ouvir o celular apitar mais uma vez, na sala. Voltou a falar quando ela
retornou ao quarto – Só não sabemos quando vamos conseguir isso de novo, né?
Ainda está muito atarefada lá na agência?
– Ai, mulher...
se eu fosse te contar todos os meus dramas... a gente ficaria só nisso e nunca
mais ia transar.
Miriá suspira, colocando os óculos que estavam na mesinha ao lado da
cama, antes de ler a mensagem recebida. A seriedade em seu rosto fez com que
assumisse uma postura completamente diferente da que tinha, segundos atrás. Colocou
o celular no ouvido e fez uma careta, ouvindo um áudio que para Célia parecia
apenas um chiado.
– Difícil, viu...
– Miriá suspira, sem especificar ao que se referia, respondendo a mensagem num
texto digitado rápido. Tinha uma ruga marcando a testa, a lente dos óculos
refletindo parte das cores da tela de seu celular – Você vai conseguir ir à
festa da Rubi? – pergunta, voltando o celular para perto da orelha. Demorou alguns
segundos para olhar para ela.
– Então, sim. E queria
mesmo conversar com você sobre isso... – Célia desta vez é quem se levanta e
sai nua do quarto. Ao retornar, trazia sua agenda numa mão e o cigarro de Miriá
na outra, junto do cinzeiro e um isqueiro vermelho – A festa vai ser dia 23,
né?
– É, essa
caralha – Miriá resmunga, puxando um cigarro de dentro do maço. Ainda estava
entretida com as mensagens ao caminhar para perto da janela, mas sorriu para o
gesto de Célia. Quando voltou a falar, metade das palavras saiu enevoada de
nicotina – Como se eu já não tivesse mil coisas para fazer...
– Pobre menina
explorada – Célia ri, cruzando os braços atrás da cabeça, após se deitar mais
uma vez. A cama de Miriá tinha o cheiro dela, o que a fez sorrir.
– Você ri, né –
ela abre mais a janela às suas costas, para esparsar melhor a fumaça do cigarro
– Pera, você pretende ir? Não tinha dito que talvez não desse?, que você ia ter
que viajar?
– Sim, eu achei
que ia. Mas aí algumas coisas mudaram – Célia sorri, seu rosto todo mudando de
repente – Queria te propor um plano.
– Gosto dos seus
planos – ela sorri de um jeito malicioso – Sou toda ouvidos – Miriá desliga o
celular, para provar que falava sério. Soprou a fumaça por cima do ombro,
mantendo o olhar nela.
– Bom, você sabe
que desde aquele rolo que aconteceu lá no hotel, quando eu fui afastada...
– Por causa da
sua crise de meia-idade, sei – Miriá interrompe, o trago fazendo o cigarro
iluminar parcialmente seu rosto na penumbra do quarto.
– É, mas não
precisamos chamar assim – Célia desconversa, fazendo uma careta – Enfim, o fato
é que desde então muita coisa mudou lá no escritório e eu sinto que cada vez
mais tenho sido poupada de certos eventos, por exemplo, algumas viagens de
negócios, como esta.
– Sua esposa
está te boicotando – Miriá interrompe novamente. Foi o que Célia quis dizer!
– É. Quer dizer,
não exatamente. Não assim. Não sei – Célia pigarreia, desconversando novamente
– A questão é que, com isso, a viagem que eu faria no fim do mês acabou sendo
cancelada. Ou melhor, outra pessoa vai no meu lugar.
– A Martinha,
sua assistente linda e maravilhosa – Miriá interrompe mais uma vez, se fazendo
de enciumada. Mas sorriu e piscou para ela porque só estava provocando.
– Não, a Bruna decidiu
que ela é quem vai – Célia responde num tom diferente, mas logo ajusta a voz – E
aí, Miriá, por causa disso eu estarei aqui. Sozinha.
– Hum? – Miriá dá outra tragada no cigarro, soltando
uma fumaça remanescente pelo nariz – Acho maravilhoso. Qual seu plano? – pergunta,
sem entender direito o que Célia estava querendo propor.
– Pensei que nós
podíamos ir à festa da agência juntas, depois podíamos esticar a noite, só nós
duas. Quem sabe dormirmos juntas.
– Sério? – Miriá
apaga o cigarro e pula de volta na cama, com um sorriso incontido no rosto –
Você passaria a noite aqui comigo? De verdade? Nossa, se eu pudesse nem iria
nessa festa, ficaríamos só quietinhas, eu e você. Que delícia de plano! Quero
muito, vamos!
– Até parece que
você deixaria de ir. Vai ser uma das homenageadas...
– Grandes bostas
– Miriá levanta os ombros, num claro desdém, tira os óculos e os coloca junto
do celular, na mesa de cabeceira – Não vejo a hora de a Preta voltar, sabe –
ela resmunga, como se o comentário tivesse despertado um pensamento em voz alta.
– Se você não se
cuidar, vai acabar estafada que nem ela – Célia a abraça, apesar do tom crítico
de seu comentário – Você trabalha demais, gata.
– Olha quem fala
– Miriá debocha, mas se aconchega nela – Só decidiu pegar leve no trabalho
porque foi obrigada a fazer isso. E porque arranjou uma amante.
– Mentira! –
Célia ri. Mas sabia que era a mais pura verdade.
– Adorei seu
plano de irmos juntas à festa de aniversário da Rubi – Miriá a beija, se
virando na sequência para ver o que fazia seu celular apitar mais uma vez – Vai
ser meio “baile de máscaras”, vai estar todo mundo fantasiado, mesmo, ninguém
nem vai saber quem é quem. Podemos até nos pegar no banheiro – ela ri, o rosto
desanuviando enquanto ouvia o áudio recebido. Ao responder, pareceu usar uma
voz diferente ao gravar um áudio – Luana, é isso aí. Inclusive, você pode usar
aquele conceito que nós discutimos no começo da semana, para te ajudar. Mas deixa
isso para amanhã, que já está tarde. Um beijo.
Miriá fez um gesto para Célia,
antes de enviar outro áudio.
– Oi, Ritinha,
tudo bom? Falei com a Lu agora, o caminho é esse mesmo, tá? Mas por favor,
deixa para finalizar isso aí amanhã. Eu chego cedo e a gente termina junto. Agora
já está tarde, vão para casa. Um beijo, bom descanso para vocês.
– Isso aí, manda
o povo embora – Célia lhe dá um beijo quando ela volta a se apoiar nos
travesseiros ao seu lado – Não deixa ninguém mais ter Burnout, não, dona Miriá!
– É, eu saí mais
cedo para poder te encontrar, mas deixei meu pessoal todo lá. Se não cuidar,
elas viram a noite. Deus me livre perder mais uma – Miriá ameaça desligar o
celular, mas antes de deixá-lo de lado mais uma vez, volta a olhar para a tela,
a ruga na testa se tornando repentinamente mais visível – Afinal, mesmo
temporariamente, uma baixa é uma baixa – ela resmunga, estreitando os olhos
para o aparelho.
– O que foi? –
Célia pergunta, vendo uma expressão diferente em seu rosto, quando ela a
encarou.
– Que estranho – Miriá diz, parecendo se
esforçar para entender antes de verbalizar – Como é possível você estar
on-line?
Miriá mostra para Célia a
conversa de WhatsApp delas duas, a última mensagem enviada e lida perto das
cinco. Embora seu celular estivesse lá na sala, muito bem guardado no fundo de
sua bolsa, e devidamente desligado, para não a perturbar enquanto estivesse com
a amante, ao pegar o aparelho de sua mão, viu embaixo de seu nome o status
“on-line”.
Pensou em levantar e ir embora, mas qualquer que fosse o estrago, a esta
hora já estava feito.
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