3xTPM - Ano novo (conto)
Esta é a quinta história da Novelinha.
Se ainda não leu a quarta, Happy Hour, clique aqui.
Tatiana acorda e encara o teto
do quarto por um breve instante, os olhos ainda se acostumando à pouca
claridade do cômodo enquanto o corpo dá uma esticada, sutil, se alongando alguns
centímetros no colchão. A julgar pela luz que escapava por debaixo da porta do
banheiro, imaginou que devia ser umas seis da manhã. Talvez mais cedo. Ouve ao
seu lado, na cama, o leve ressoar de alguém dormindo em sono profundo, um som
prazeroso que a faz sorrir antes de se levantar, sem olhar para o relógio na
mesinha de cabeceira, não se importando com a hora. Mesmo de férias, nunca
conseguia dormir muito além do horário a que estava acostumada a acordar, há
mais de uma década, e há tempos tinha deixado de insistir em ficar na cama até
mais tarde. Por isso, sempre que acordava, já levantava. Mesmo que cedo e
estivesse de férias, fosse feriado ou fim de semana.
Hoje ao menos tinha afazeres, então
era até válido acordar tão cedo: era o último dia do ano e elas viajariam em
algumas horas rumo a um Réveillon distante de casa e da agitação dos fogos de
artifício. Passariam a virada do ano em um hotel fazenda afastado de tudo, numa
cidadezinha chamada Santa Ana de Catandara, localizada a quase 200km de casa. Era
longe, e as fotos no site prometiam a privacidade que queriam, inclusive porque
depois de se acomodarem não pretendiam deixar o quarto até que o ano novo se
iniciasse.
Ao sair da cama pela beirada, caminhou
na ponta dos pés e fechou a porta do quarto com cuidado, para não fazer barulho.
Lavou o rosto no lavabo do corredor, como estava habituada. Tinha todo um
ritual matinal, com cremes e sabonetes obrigatórios, e foi assistida de perto por
Percival, o gato de Mariana, que finalmente a aceitava como parte da família.
Provavelmente porque Tatiana o alimentava todas as manhãs, há quase um ano,
desde que tinham se casado.
A adaptação foi muito menos do gato à casa
nova do que de Tatiana e Patrícia à rotina que pela primeira vez incluía um
animal de estimação, que soltava pelos por onde quer que passasse – e até por
onde não passava, por exemplo, dentro do closet. Suas roupas, as escuras,
especialmente, agora viviam cobertas de pelos que, de tão finos, pareciam
plumas. Infinitas plumas, em todos os lugares.
Mas tudo era mesmo só uma questão de tempo e
costume, como Mariana tanto dizia no começo. Dela, de Percival e de Patrícia,
também, embora fosse a que menos ficasse em casa. E Tatiana constatou isso,
mais uma vez, quando desceu a escada seguida pelo gato peludo e branco, que a
acompanhou enquanto miava, animado, parecendo conversar. De todos da casa, era quem
acordava mais feliz.
Mariana chamava o bichano de Nonô, que era um
diminutivo para “nômade”. Ambos já tinham morado em alguns vários endereços,
mas a mulher evitava esse assunto. “Passou, é passado” era uma frase que repetia,
sempre que o assunto vinha à tona. E só porque ela desconversava de um jeito
bonitinho, ninguém insistia para saber os detalhes. Era realmente passado,
passou. O importante é o hoje.
A casa de dois andares estava
mergulhada num silêncio típico, só o relógio na cozinha fazendo seu ruído
característico, ditando o ritmo do dia que ainda estava clareando. O som dos
segundos foi abafado quando a cafeteira ligou, liberando um aroma de “bom dia”.
O primeiro jato de café foi despejado direto em sua caneca nova, um presente de
Mariana, dado a contragosto de Patrícia. Cafeína é praticamente proibida em sua
dieta, e a esposa acreditava que ter uma caneca térmica justamente para beber
café era uma ideia terrível. Mas Mariana é assim. Autêntica e atrevida. Na
caneca de Tatiana estava escrito “Saboreie escondido”, mas a palavra vinha
riscada, e no lugar aparecia “devagar”. “Saboreie devagar”. Traduzia seu
casamento. Elas se saboreavam como ao café: sem pressa, com gosto. Mas
escondidas.
Tatiana sorriu de novo ao ler
aquilo, ao lembrar da expressão de Patrícia e especialmente a de Mariana, com
aquela cara linda que ela fazia, levantando só uma sobrancelha, provocativa.
Foi um ótimo presente, e veio embrulhado na intimidade delas, Tatiana pensou,
colocando a jarra da cafeteira no lugar da caneca. Ficou olhando o líquido
escorrer, seus sentidos despertando com o primeiro gole da manhã. Entendia o
mal que aquilo lhe fazia, mas quem vive sem café?
Patrícia vivia, e por isso Tatiana
encheu a chaleira para preparar seu chá e a levou ao fogão, que ficava numa
ilha, no meio da cozinha de chão claro. Estava apoiada na pia, vendo as bolhas
na panela transparente começarem a dançar, pensando que tinha que ser rápida e
beber o café antes que a mulher acordasse. Ainda não tinha nem concluído o
pensamento quando Patrícia apareceu na porta, com o rosto todo amassado de sono
e o cabelo despenteado. Vestia apenas calcinha e a camiseta do pijama que era
conjunto com a calça que Tatiana estava usando. Ao contrário dela, estava com
chinelo nos pés.
–
Quanto tem de café aí dentro? – Patrícia pergunta, em tom de cumprimento. Abriu
a porta do armário do alto e pegou uma caneca roxa, antes de abraçar Tatiana –
Bom dia, querida. Acordou cedo, Tati!
–
Bom dia, meu amor! Eu ia levar o seu chá lá na cama – Tatiana fala, sem
responder tudo, de propósito – Acordei muito cedo, e você estava roncando tão
gostosinho... Te deixei dormir.
–
Não estava roncando, não – ela resmunga, se aninhando no ombro da mulher, que
era ligeiramente mais alta que ela. Apoiou a caneca vazia na pia, atrás delas,
e antes de pegar o copo da mão de Tatiana, deu uma ligeira balançada, para ver
quanto havia lá dentro – Tati, a nutricionista disse que era para você cortar o
café da sua vida, você disse que não conseguia e que ia beber só meia xícara...
Mas aqui tem muito mais que isso!
Tatiana tentou impedi-la, mas
Patrícia se afastou dois passos dela, e tirou a tampa do copo térmico. Fez uma
careta de desgosto ao encará-la, decepcionada com o que via. O copo estava
quase cheio.
–
Assim é difícil, né... Meio litro de café e são 6h07.
–
É difícil mesmo, Pati... – Tatiana se defende, se virando para ela, colocando a
erva do chá no infusor colorido e despejando a água quente. O calor fez a cor
da caneca mudar para rosa, liberando um cheiro doce de gengibre.
–
Eu falei para a Mari te dar outro presente no natal, mas não... Tinha que dar
uma caneca de um litro... – Patrícia cruza os braços, brava, mas logo descruza.
Considerou que ainda era muito cedo.
–
A culpa não é dela, Patrícia. Quem bebe café sou eu – Tatiana afirma, a
encarando por cima do ombro. Abaixou o tom da voz, porque não queria discutir –
É muito difícil viver com restrição alimentar – ela complementa, entregando a caneca
para ela – Eu gosto de café, amor.
–
Eu sei, minha gatinha – Patrícia também estava com a voz mais branda – Só me
preocupo de você não ficar bem. A gente vai viajar, já pensou, ter que passar a
virada do ano no banheiro, se sentindo mal?
Patrícia volta a abraçá-la,
agora mais forte. Deu um beijo em sua boca, emendando um “eu te amo” que só
Tatiana ouviu. Depois bebeu um gole do chá, vendo a esposa colocar ração no
potinho do gato, que ainda não tinha recebido seu desjejum. Percival ignorou
solenemente Tatiana e continuou se lambendo, perto da geladeira.
Ao contrário do gato, Patrícia
tinha fome e por isso colocou a frigideira no fogo. A panela estalou quando os
ovos batidos foram despejados, acrescidos de temperos coloridos, que ela remexeu
com uma colher de cabo comprido. Tinha as mãos habilidosas e preparou o café da
manhã, cheiroso, se dividindo em várias atividades.
Tatiana estava colocando os pratos no balcão
que seguia a superfície do fogão quando Mariana entrou na cozinha. Vestia
apenas um short rosa, minúsculo, de cetim. Ao vê-la, Percival correu em sua
direção, se enroscando em suas pernas, e ganhou os primeiros afagos da mulher.
–
Meus amores, numa linha de produção matinal – ela fala, com um sorriso meio de lado,
os óculos equilibrados na ponta do nariz com a marca da sua digital no canto de
uma das lentes – Não me canso dessa cena, ainda que preferisse que vocês me
acordassem, poxa! Não gosto de sempre ser a última a sair da cama...
Mariana abraça e dá um beijo em
Tatiana, que passa a mão em seus cabelos da mesma forma que ela tinha acabado
de acariciar a cabeça de Percival. Depois deslizou alguns passos e abraçou
Patrícia por trás, porque ela ainda comandava o fogão. Deu um beijo em seu
pescoço, após fungar seu cangote.
–
Já estava indo te chamar, querida – Tatiana fala, servindo café para ela. Antes
de lhe entregar a caneca, bebeu um gole sem que Patrícia visse – É que você
estava roncando tão bonitinha, fiquei com dó...
–
Não estava, não – Mariana rebate, rindo. Pegou o café e deu uma piscadinha para
a mulher, de maneira cúmplice – Quem ronca é a Pati, sabemos.
–
De novo essa história... – Patrícia se finge de zangada, mas estava rindo
também. Tirou duas panquecas e serviu em dois pratos – Até outro dia eu não
roncava, agora a Tatiana deu de dizer isso...
–
Quem está dizendo isso sou eu, amor – Mariana comenta, dando um selinho nela.
Sentou na banqueta em volta da ilha e se espreguiçou, fazendo barulho. Voltou a
falar no final de um bocejo – E aí, animadas com a viagem? – olhou também para
o gato, e deu uma piscadinha que só Percival viu. Mas ele não parecia empolgado
em sair de casa.
–
Não gosto muito de lugares públicos, fico aflita... – Patrícia resmunga, mas as
duas a ouvem – Quer dizer, vai ser ótimo, o hotel parece muito bom – ela se
emenda, desligando o fogão e servindo os ovos mexidos nos pratos iguais. Na
sequência, acrescentou mel em dois deles, em cima das panquecas, e no terceiro,
alguns biscoitos de arroz.
–
Estamos indo lá para descansarmos, Pati. Vai ser bom – Tatiana a lembra,
sentando ao lado de Mariana e puxando o prato com biscoito – Você pode dormir
no trajeto, a gente se reveza na direção, né, Mari?
–
Claro, amor – Mariana puxa outro prato, e depois a banqueta à sua esquerda. Fez
um gesto para Patrícia sentar, colocando o último prato à frente da esposa – Eu
posso dirigir até lá, de boa. Nem é tão longe e dormi bem, estou descansada –
ela bebe mais um gole de café, geme baixinho, de satisfação, e antes de comer, prende
o cabelo em um rabo de cavalo – Ontem à noite estava vendo o trajeto antes de
dormir, é tranquilo, uma linha reta, quase. Só chegando lá é que preciso de
ajuda para ver o mapa. Tem uma curva que é certeza que vou me perder.
–
Eu te ajudo, baby, claro – Tatiana fala, ao mesmo tempo que Patrícia.
–
Quer chá, Tati? – a mulher pergunta, puxando o copo de café de Mariana para
perto de si, oferecendo para Tatiana uma caneca vazia, que pegou do armário
antes da resposta – Esse chá novo de limão e gengibre é muito bom – Patrícia continua,
colocando água quente em cima da erva perfumada – Eu vou preparar os lanchinhos
da viagem, algumas coisas para você comer lá, também. Vai que não tem...
–
Está bem, amorzinha. Agradeço – Tatiana pega a caneca e toma um golinho. Faz
uma cara de satisfação, nitidamente para agradar à mulher, e Mariana sorri com
a cena.
–
Vai ser bom viajar, termos essas horinhas para descansar. Vocês têm razão – Patrícia
volta a dizer, segurando brevemente a mão de Mariana, que sorri para ela em concordância.
–
Vai sim, querida – Mariana responde, juntando mel com um pedaço de panqueca – A
gente vai com o meu carro, que é mais espaçoso. Você vai atrás com os
travesseiros e o Nonô, a gente liga um sonzinho... vai nem sentir o tempo de
trajeto.
–
Ô, Mari – Tatiana chama, já balançando a cabeça, em negativa – Meu carro é muito
mais econômico, gata. Vamos nele, que tem também o treco de passar direto no
pedágio.
–
Ah, amor, não gosto de dirigir seu carro... – Mariana resmunga. Agora era
Patrícia quem sorria, vendo a interação entre as esposas.
–
Só porque o câmbio é manual... – Tatiana vira os olhos, mas manda um beijo para
ela, no final – Fresquinha!
–
Vamos com o meu, que é econômico e automático, tem o Sem Parar e é confortável.
E você gosta de dirigir – Patrícia dá um sorriso primeiro para Mariana, depois
para Tatiana – É sempre um prazer resolver os impasses das senhoras – comenta, juntando
as migalhas do prato com o dedo e lambendo. Se levantou e continuou falando, de
costas para ela – Mari, sei que já perguntei, mas confirma se você separou
todas as suas coisas, benzinha. Seu remédio para dor de cabeça, a bombinha da
asma, sua escova de dente. Lembra da última viagem...
–
Eu separei, amor, mas tá – Mariana termina de beber o café e levanta também.
Apoiou o prato dentro da pia e deu um beijo na bochecha de Patrícia, que lavava
a louça – Vou terminar de arrumar minha mochila. Saímos às oito? – ela olha
para o relógio na parede, igual ao que havia pendurado nO Bistrô. Os ponteiros,
grandes, giravam sem números.
–
Às oito – Tatiana responde, se aproximando também da pia, beijando o outro lado
do rosto de Patrícia – Você vai levar biquíni, Mari? – ela pergunta para
Mariana, antes de saírem da cozinha.
–
Biquíni, Tati? Pretende ir à piscina? – Patrícia estava incrédula.
–
Nunca se sabe, amor – Mariana responde, junto com Tatiana, e por isso as duas
riem.
–
Por precaução, então – Tatiana responde, e as duas saem rindo, juntas, conversando
sobre saídas de banho.
Patrícia não diz nada e guarda toda
a louça, depois de lavá-la. Era realmente, afinal, uma viagem para descansarem
e curtirem o hotel fazenda, e ela não queria ser a responsável por azedar os
planos do trisal. Bastava a sensação que tinha de já fazer isso no cotidiano
delas, Patrícia pensou, guardando o copo térmico de Tatiana bem no fundo do
armário, escondido atrás das taças de vinho. Era sempre a mais preocupada das
três, mas talvez porque sentisse que Tatiana e Mariana eram tranquilas demais.
Antes de deixar a cozinha, trocou a água do
pote de Percival, que finalmente estava comendo, e afagou o bichano depois de
separar seus apetrechos dentro de uma sacola com estampa de gatinho. Quanto a
isso não estava preocupada porque esta seria a segunda viagem que fariam na
companhia do gato, que se comportava de maneira exemplar – no trajeto e também no
hotel.
Refletia a respeito disso quando passou pela
sala e viu Mariana deitada em cima da mochila, no sofá. Ela sorria, vendo algo
no celular.
–
Você vai viajar assim? – Patrícia pergunta, desistindo de subir a escada depois
de dois degraus, se sentindo impelida a voltar para a sala.
–
Aham, só vou calçar o tênis – Mariana responde, sem olhar para ela.
Ela vestia um short mole de corrida, que
usava às vezes para dormir, e uma camiseta cavada, sem sutiã por baixo. Antes
que Patrícia falasse algo, viu Tatiana descer a escada e entrar na sala com uma
roupa idêntica. O que diferenciava era só a cor do short.
–
Imaginem se fura o pneu no meio da viagem... Que linda a cena de vocês trocando
o estepe no acostamento da estrada vestidas assim, com essas roupas tão curtinhas...
– Patrícia tinha um tom de preocupação, mas seus olhos estavam sorrindo.
–
A gente checa a calibragem antes de ir – Tatiana fala, em seu tom calmo – Temos
que viajar confortáveis, Pati.
–
Que roupa você vai vestir? – Mariana pergunta, ao mesmo tempo, as fazendo rir.
Tatiana foi quem mais se divertiu; Mariana tinha o dom de amenizar qualquer
situação.
–
Não vou trocar o pneu sozinha, bonita! Se é isso que está insinuando... –
Patrícia garante, cerrando os olhos, como se estivesse ofendida – Vamos checar
a calibragem, amor, é uma ótima ideia – ela olha então para Tatiana, que senta ao
lado de Mariana, vendo o que a mulher estava assistindo no celular.
Patrícia deixa as duas na sala,
ambas rindo de algo que fazia rir também quem tinha gravado o vídeo que agora elas
assistiam. Percival estava lá em cima, deitado na cama arrumada visivelmente
por Mariana, dada a disposição dos travesseiros. Patrícia não comentava, mas
dava para saber quando certas coisas eram feitas por ela ou por Tatiana. Como a
arrumação da cama, por exemplo.
Colocou uma mala de lona aberta em
cima da colcha e enfiou dentro dois pares de cada roupa: camiseta, short,
calça, até casaco achou prudente levar. Do armário do banheiro, trouxe escova
de dente (inclusive uma reserva), a nécessaire com xampu e demais coisas de
banho, e na passagem, pegou o remédio de asma de Mariana. Se tem uma coisa que
a deixa nervosa é quando a mulher tem crise e, por algum motivo absurdo, não se
encontra uma bombinha no meio da noite – cena que já aconteceu pelo
menos meia dúzia de vezes, desde que conheciam Mariana.
Saiu do quarto depois de 20 minutos, já com a
mala pronta, acompanhada por Percival, e encontrou a esposa sozinha no sofá. Seu
celular subia e descia em cima do peito, numa respiração tranquila, como se Mariana
dormisse em sono profundo. Estava de óculos, e uma das pálpebras tremia embaixo
da lente. O gato se aninhou nela.
Tatiana estava na garagem. Tinha
aberto o tampo do carro de Patrícia e estava com metade do corpo enfiado
debaixo do capô, numa postura que até convenceria quem não a conhecesse. Mas
Patrícia sabia que a esposa entendia zero de mecânica, ainda que fazer aquela
“vistoria” fosse um costume, sempre antes de pegarem estrada.
A mulher estava distraída, o
pensamento envolto em vários assuntos, seus olhos nem estavam exatamente
focando em nenhuma parte específica do motor. Aquele automóvel era o mais novo
dos três na garagem, então viajar nele era uma escolha acertada. Fechou o tampo
com um estampido seco e alto, quando viu Patrícia.
–
Não há com o que se preocupar, meu bem – Tatiana fala, como se lesse os
pensamentos da esposa, parada na entrada da garagem, com uma ruga unindo as
sobrancelhas – É uma viagem para você relaxar! Pare de se preocupar.
–
Não consigo... – Patrícia cede ao abraço de Tatiana, encontrando em seu cheiro
o amparo que sempre a acalmava – Sempre fico aflita achando que algo vai
acontecer, que vamos colocá-la em risco – ela diminui o tom de voz, para que
Mariana não as escute – Nos colocar em risco, Tati, em algum tipo de
perigo.
–
Amor, não vai acontecer nada! – Tatiana falou séria, e firme.
Ela manteve seus corpos unidos,
mas afastou o tronco o suficiente para encará-la. Só voltou a falar quando
recebeu a atenção de Patrícia, que desanuviou o olhar ao encontrar seus olhos.
–
Confia, Pati. É um hotel lá no meio do mato, no meio do nada!, foi escolhido a
dedo. Você mesma levou dias analisando cada detalhe, até decidirmos. É seguro,
amor.
–
Eu sei, mas... – Patrícia volta a resmungar, mas Tatiana a interrompe.
–
É um bate-volta, gata. Amanhã mesmo a gente já está de volta, no máximo no meio
da tarde. Não vamos demorar, eu prometo. O que de mal pode nos acontecer em
apenas algumas horas?
Porque Tatiana parecia sincera,
Patrícia não retrucou. Voltou a abraçá-la e antes de sair, trocaram um beijo
rápido.
–
Vou acordar nossa motorista, que disse há pouco que estava “super descansada” –
Patrícia imita a voz de Mariana, e Tatiana ri – Já trago as coisas para você
ajeitar na mala.
Tatiana apenas concorda com a
cabeça, e suspira depois que Patrícia sai. Entendia a preocupação da mulher,
que já era encanada com assédio e homofobia quando eram só elas duas, e ficou
muito mais quando passaram a ser três. Mas compreendia também que isso não
podia impedi-las de sair. Ainda mais para um lugar que tinham tomado o cuidado
de escolher, bem afastado. E seria mesmo apenas por algumas horas, só para a
virada do ano e logo retornariam.
Ainda pensava nisso quando
Mariana e Patrícia surgiram na garagem, conversando sobre o clima. Percival
vinha junto e miava, como se interagisse também. O gato foi o primeiro a
embarcar.
A porta da garagem abriu depois
de três minutos, com Mariana ao volante e Tatiana no banco do carona. Patrícia
estava atrás, com Percival deitado ao seu lado, e não foram precisos nem cinco
minutos de viagem para a aventura começar. Tatiana constatou isso quando viu a
motorista bater a mão na lateral do corpo, na altura do bolso, num gesto já bastante
familiar.
–
O que, Mari? – Tatiana pergunta, os olhos de relance nela, no volante, na rua e
nela de novo. A camiseta que a esposa usava tinha a gola baixa, deixava de fora
uma pinta que ela tinha no peito, acima do seio esquerdo, e a pinta subia e
descia, num movimento rápido.
–
Vou parar em uma farmácia – Mariana responde, com a mão levantando brevemente
para acalmá-la, mas ela nitidamente fazia força para respirar.
–
Amor, você trouxe a bombinha da Mariana? – Tatiana pergunta, por cima do ombro,
e só então Patrícia percebe que há algo errado.
–
Não, só peguei a noturna... – Patrícia inclina o corpo para frente, o tronco
indo o máximo que o cinto de segurança permitia. Sua voz estava mais alta,
quando voltou a falar – Encosta o carro, Mari! Tatiana... – ela chama, como
fazia sempre que algo assim acontecia.
–
Mariana – Tatiana fala, tocando seu braço de leve. Não disse mais nada porque ela
virou o volante e estacionou em frente a uma farmácia grande, de esquina.
Tatiana foi quem desceu, e
tentou ser o mais breve naquela missão. Voltou com o remédio depois de alguns
instantes, e ficou parada na porta do carro, vendo Mariana aspirar
profundamente, o peito inflando com o efeito quase imediato do broncodilatador.
–
Não vou dizer que você não pode fazer isso com a gente... – Tatiana resmunga,
vendo sua respiração normalizar.
–
Você não pode fazer isso com a gente! – Patrícia fala, ao mesmo tempo, do banco
de trás. Esperou que Mariana estivesse respirando normalmente para falar, e sua
voz saiu bastante alterada – Você ainda me mata do coração fazendo isso,
Mariana!
–
Desculpa... – Mariana diz, olhando para ela por cima do ombro – Desculpa, amor
– ela diz, agora para Tatiana.
–
Tudo bem, mas presta atenção, ô cabeça – Tatiana já estava com a voz amena e
deu a volta para embarcar novamente.
–
Dirige você, Tati – Patrícia pede, ainda com o corpo espremido entre os dois
bancos do carro.
–
Não, Pati, eu já estou bem – Mariana afirma, voltando a afivelar o cinto de
segurança. Ligou o som do carro, tentando reestabelecer a harmonia para a
viagem delas, e bateu na tela do celular, preso perto do painel, ao lado do
volante. A foto do trisal sumiu e o mapa do GPS voltou a ser exibido, junto com
os primeiros acordes de “Amorfa”. O tempo de viagem estava estimado em cerca de
três horas e elas não comentaram mais nada sobre o incidente. A bombinha de
asma passou a viagem toda no colo de Mariana e não foi mais usada até chegarem.
O hotel tinha uma fachada em estilo colonial,
lembrava as antigas fazendas de cana-de-açúcar, com a volta toda avarandada. Era
uma construção alta com acesso por uma escada central parecendo rústica, tudo pintado
de azul e branco. Ao lado era visível um lago, de águas calmas, e um menino
pescando, sentado na beira, parecia parte de uma pintura. O estacionamento consistia
em um pátio largo, ladeado por árvores bem altas, e Mariana escolheu a sombra maior,
bem-vinda naquele sol de quase meio-dia. Assim que ela estacionou, Tatiana
guardou a bombinha de asma (que Mariana deixou no banco do carro) no bolso do
short, e se comprometeu em pensamento a sempre tomar esse cuidado, por todas
elas.
Alongou as pernas logo que desceu, respirando
fundo um ar sem cheiro, ouvindo o canto de mais de um pássaro. As árvores
pareciam centenárias e pairava no local um silêncio quase absoluto,
interrompido só pela natureza. Era um dia quente, mas ali estava fresco e de imediato
lhe pareceu um lugar perfeito para o Réveillon. Sorriu porque Patrícia e
Mariana pareciam pensar a mesma coisa.
Tatiana deu a volta no carro e estava
com o corpo enfiado no porta-malas, ainda com o sorriso no rosto. Estava puxando
as bolsas e a caixa de transporte de Percival quando ouviu uma voz alterada,
estranhamente perto delas. De início, se assustou. Depois se irritou, quando
assimilou o que estava acontecendo.
–
... isso tem que acabar! – um homem gritava, da janela de seu carro, parado
atrás delas. O motor ficou ligado e os demais ocupantes do veículo permaneceram
quietos. O sujeito apontava bravo para o adesivo colado no porta-malas do carro
delas – ... essa ditadura gayzista, essa imposição que vocês fazem aos
bons costumes, à família tradicional! – ele bradava, nervoso.
–
Não fala nada! – Tatiana pede, erguendo uma das mãos, vendo Mariana avançar um
passo e proteger Patrícia com o corpo. Seu tronco ficou meio de lado, com
Percival impedido de acompanhar à cena.
Por reflexo, Tatiana seguiu o olhar do homem até
o adesivo, dO Bistrô, confeccionado em comemoração ao mês do Orgulho Gay. O
adesivo não tinha nada demais; era apenas o logo do restaurante, com as cores
da bandeira do arco-íris. Embaixo, a frase: “O amor sempre vence!”.
–
Vocês deviam queimar no inferno! – o homem berrou, antes de sair levantando uma
poeira vermelha com os pneus – Aberrações!
Tatiana entrega a bombinha de
asma para Mariana, antes que a esposa batesse a mão no bolso, à sua procura.
Até ela ficou com falta de ar, tomada por uma raiva paralisante. Não valia
revidar, nenhuma provocação que fosse, sabia, mas ficar calada também exigia um
preço bastante alto. Evitou o olhar de Patrícia, de propósito.
–
Vamos fazer o check-in – ela disse, finalmente abaixando o braço, que
permaneceu erguido, tentando transmitir calma em sua voz – Lá dentro conversamos,
venham.
Mariana e Patrícia a seguiram,
inicialmente de maneira meio robótica, quase automática. Tatiana foi na frente,
puxando a mala pequena de rodinhas, com seu short de corrida e camisetinha
cor-de-rosa. Era sempre dela a iniciativa de conduzi-las, principalmente em
situações que envolviam algum grau de tensão. O choque do ar-condicionado na
recepção as trouxe de volta, e as mulheres se olharam, quando tiraram os óculos
escuros.
O verde das írises de Patrícia estava num tom
mais forte, e mesmo com a vista contraída, Mariana percebeu que a esposa estava
com os olhos vermelhos. Reconheceu a raiva naquelas cores e quis abraçá-la, mas
se conteve. Conhecia Patrícia e os limites que ela tinha para gestos e afeto em
público. A breve troca de olhares, entretanto, quase valeu por um carinho.
–
Olá, sejam bem-vindas – a recepcionista cumprimenta, analisando as três
mulheres brevemente, depois de pegar o documento de Tatiana. Olhou para a tela
do computador por um instante e voltou a encará-las – Espero que tenham feito
uma boa viagem! – complementa, não transparecendo na fala a surpresa ao ver as
novas hóspedes. Definitivamente não eram nada como ela tinha imaginado.
–
Foi sim, grata – Tatiana responde, apoiando a carteira no balcão – Esse
agradável senhor que por acaso encontramos no estacionamento há alguns segundos
está hospedado aqui? – perguntou, e a funcionária pareceu surpresa.
–
Ele... – a mulher dá uma gaguejada, piscando rapidamente – Ele estava de saída,
na verdade. Aconteceu algo? Está tudo bem?
–
Tudo perfeito – Tatiana responde novamente, mas ao falar olhou foi para
Patrícia, e depois Mariana – A reserva está no meu nome, sim? Estou com minhas
esposas – ela entrega os documentos de Mariana e Patrícia.
–
Sim... – a recepcionista pareceu gaguejar novamente – Claro, dona Tatiana, mas
é que aparentemente houve um mal-entendido... – ela digitou algo no computador.
–
Sim? – Tatiana levantou uma sobrancelha, ouvindo às suas costas um suspiro de Patrícia,
irritado.
–
A reserva foi feita para três pessoas, mas não três... adultos –
a recepcionista diz, em tom de desculpa – Aqui está a chave. Vou agora mesmo conversar
com o gerente e resolver isso imediatamente.
As três mulheres se entreolham,
mas não dizem nada. Não até chegarem no quarto e se depararem com uma cama de
casal ao lado de outra de solteiro, menor, nitidamente para ser usada por crianças.
Permaneceram em silêncio, sentando-se quietas, cada uma num canto do quarto
espaçoso. Percival foi o primeiro a se manifestar, assim que foi liberado da
caixa de transporte.
Mariana sentou na cama menor e se
deixou cair para trás, levando um dos braços para cima da cabeça. Patrícia
recostou no canto da cama maior, com a lateral do corpo apoiada na cabeceira.
Na parede oposta, Tatiana sentou na poltrona, perto da janela. Viu no vão da
cortina que a vista era esplêndida, mas não sentiu ânimo para comentar nada a
respeito – nem disso e sobre mais nada. Ficaram quietas e o silêncio foi
interrompido por uma batida na porta. Tatiana abriu com Percival no colo, para
que o gato não escapasse.
–
Oi! Sou eu, Elza! – a recepcionista cumprimenta, com um sorriso meio sem graça
– Conversei com o gerente e o Hotel pede sinceras desculpas por todos os
inconvenientes. Vou levá-las até a suíte principal, é nosso quarto com a maior
cama. Vocês ficarão confortáveis e não será cobrado nenhum adicional por isso,
é claro – ela sorri para o gato no final da frase – Precisam de ajuda com as
malas? – pergunta, vendo que as três não se mexiam.
–
Imagina, Elza. Agradeço – Tatiana pega a chave que a recepcionista oferecia, e
dá um sorriso gentil – Nós já estamos a caminho, grata novamente – disse,
fechando a porta.
–
Eu queria ir embora, voltar para casa... – Patrícia resmunga, e todas já
esperavam pelo comentário, exatamente no tom em que foi feito.
–
Eu sei, amor. Mas ficaremos, e vai ser bom, Pati. Vamos para o outro quarto, isso
já foi resolvido, o cara do estacionamento já foi embora, então está resolvido
também. Nosso plano era só aproveitarmos um pouco das comodidades de um hotel. Vamos
aproveitar. Vem, meu amorzinho – Tatiana estende a mão para Patrícia e para
Mariana, que parecia igualmente desanimada.
As duas cedem porque Tatiana
tinha razão. De alguma forma acreditaram que os perigos da viagem estavam todos
sanados e seguiram quietas até o terceiro e último andar do hotel. O elevador
moderno contrastava com a rusticidade dos móveis lá fora, todos de madeira,
típicos de fazendas antigas. O novo quarto ficava no final do corredor
atapetado e era ainda maior que o anterior, tinha quase o dobro do tamanho.
A cama grande ficava perto da janela, por
onde entrava uma brisa fresca e dava para uma vista privilegiada para o lago,
que praticamente dava a volta no casarão e parecia se emendar com a piscina com
tobogã, localizada mais nos fundos, alguns metros afastada. Desta vez, quem se
admirou contemplando a paisagem foi Mariana, enquanto Tatiana folheava o
cardápio que encontrou perto da tevê e Patrícia tirava os tênis.
–
Amor, eu sei que você precisa comer, mas eu não saio daqui até o ano que vem –
Patrícia diz, deitando na cama. Abriu os braços para Mariana, de maneira
convidativa, quando ela a olhou, e a mulher deitou ao seu lado, se aconchegando
dentro do seu abraço.
–
Nós precisamos comer – Tatiana corrige, sentando perto delas – Mas
podemos almoçar aqui, não me oponho nadinha a ficarmos enfurnadas neste quarto –
ela deixa o cardápio de lado e tira o tênis também. Cruzou as pernas em cima da
cama, ainda com as meias – Podemos pedir para que a ceia seja igualmente servida
aqui – Tatiana se encosta nas pernas de Mariana, e volta a pegar o cardápio no instante
em que Patrícia passa a mão em seu cabelo.
–
A Tati reservou a ceia e mesmo assim você trouxe lanchinho para ela? – Mariana
pergunta, depois de alguns segundos, com o rosto enfiado no pescoço de Patrícia.
Sua voz saiu abafada.
–
Esta é a nossa mulher! – Tatiana responde, sorrindo, em tom de gracejo.
–
É, porque ela precisa comer direitinho, ué – Patrícia diz, junto com a esposa.
–
Você são umas graças – Mariana responde, sorrindo antes de inclinar a cabeça e beijar
Patrícia, mais acima, no travesseiro.
–
Por quê?, só porque eu me preocupo com ela? – Patrícia estava sorrindo. Deu uma
piscadinha para Tatiana, que sorria também, e entrelaçaram os dedos – Como a
Tati tem esse negócio no intestino, se comer comida errada, fermenta, aí passa
mal... Não gosto de ver vocês doentes – complementa, com um biquinho.
–
Ela já era assim antes, Mari – Tatiana revela, ainda de olho no menu – Você acha
que ela abriu um restaurante por quê? Era ou isso ou eu teria que comer por
todo o mundo.
–
Acho que fez muito bem, então – Mariana se vira, e puxa Tatiana para que ela se
deite também. A mulher se encaixa às suas costas e com o movimento, o cardápio
foi parar debaixo da cama – O Bistrô precisava existir, para a gente se achar!
–
A gente daria um jeito de te encontrar, amorzinha. Não tenha dúvidas – Patrícia
afirma, dando em Mariana um beijo bem molhado. Com a mão desocupada, puxou
Tatiana para ainda mais perto, por cima da mulher, prensando-a no meio delas.
–
Ou então você nos acharia de algum jeito, que eu sei – Tatiana complementa, a
beijando também, quando Mariana se virou em sua direção – Amo você, meu amor.
–
Amo também – Mariana responde, a voz saindo num fio. Os beijos de Patrícia
deslizavam em seu pescoço e as mãos de Tatiana percorriam suas pernas – Te amo,
Pati! – ela consegue dizer, baixinho, as palavras transbordando sinceridade e
desejo.
–
Também te amo, querida. Muito! – Patrícia responde, gemendo sem querer. Voltou
a falar após alguns segundos, depois de mais um beijo em Mariana – Mas não podemos
nos empolgar muito, meninas... Tati precisa comer, já deu o horário – sua fala
saiu entrecortada pelos beijos que dava e recebia. E ainda que dissesse uma
coisa, agia de maneira completamente oposta e ainda alisava as duas mulheres na
cama.
–
Uhum... já, já a gente come – Tatiana resmunga, atrás de Mariana. Puxou a
camiseta da mulher para cima da cabeça, beijando suas costas, provocando
gemidos e arrepios em toda a extensão da pele – Vamos comer, sim, Pati... Vem!
–
Ai, Tati... – Patrícia geme, junto com Mariana, ao sentir a boca da esposa
sugar seu mamilo, suavemente, mas com nítida vontade – Muito gostosa, mas precisamos
mesmo comer.
Patrícia interrompe as carícias
e levanta de repente, entregando a camiseta para Mariana, que permaneceu
despenteada sobre os lençóis. Sua respiração estava agitada, mas de um jeito
bom. Patrícia sorriu quando Tatiana resmungou, fazendo uma careta, e foi
consolada por Mariana, que a beijou de maneira demorada.
–
Vai, me ajuda a escolher a comida – Patrícia cutuca Tatiana com o cardápio,
depois de encontrá-lo no chão, perto do tênis da esposa – Vai, amor – ela
insiste, quando as duas não interrompem o beijo – Vamos ter tempo para isso
depois...
–
Ah! – Tatiana pareceu irritada, mas durou dois segundos – Nunca imaginei que a
restrição alimentar fosse englobar também essa delícia – ela lambe a boca de
Mariana, que sorria para ela, com a cara que sempre fazia quando estava com
tesão. Depois lambeu seu pescoço, o colo e o seio esquerdo – Gostosa!
–
Sobre o almoço, Tati... – Patrícia parecia impaciente, mas tinha a sobrancelha
levantada de um jeito amigável. Ficou balançando o menu perto delas.
–
Sim. Almoço antes. Sobremesa só depois! – Tatiana pisca para Mariana, que ri com
o comentário – Esse prato aqui parece bom, ó, estava vendo agora há pouco. Podemos
só pedir para tirar o feijão, por garantia – ela aponta para o cardápio, e
beija Patrícia na sequência – Eu quero muito comer você, Pati!
–
Eu sei que quer – Patrícia estava rindo – Mari, você divide comigo, ou quer
escolher? Aqui diz que serve duas pessoas.
–
A gente divide, aham – Mariana responde, de olhos fechados. Ainda estava com o
dorso nu e seu cabelo subia, acompanhando a direção dos braços, escorados na
cabeceira da cama – Pati, eu quero te comer também... – ela resmunga, tirando bem
devagar o short e a calcinha. Tatiana aplaude, satisfeita em ver a cena.
–
Abriu ainda mais meu apetite, uau, que gostosa! – Tatiana exclama, contornando o
corpo da mulher, que chutou a roupa para o chão – Bela entrada, Mari! Um
banquete inteiro! – ela pula entre as pernas de Mariana, a abrindo sutilmente, e
a lambe com gosto, de baixo até em cima, arrancando da esposa um gemido
profundo e sincero.
–
Oi, serviço de quarto? – Patrícia falava ao telefone, sentada ao lado, e tampou
o bocal do aparelho quando Mariana gemeu – Isso, quero pedir dois pratos do
menu. É, quero que entregue no quarto, por favor. Posso falar?
Patrícia fez o pedido do almoço com o olhar
cheio de lascívia, vendo de camarote a chupada que Mariana satisfatoriamente recebia
antes de comerem. Tatiana estava empenhada entre suas pernas, meio de cócoras
sobre o colchão, segurando a bunda da mulher com uma das mãos, a outra
sustentando o próprio corpo na cama. Mariana mantinha o tronco elevado, o corpo
apoiado sobre os cotovelos. Sua cabeça pendia um pouco para trás e os olhos,
entreabertos, pareciam dois riscos, duas fendas curtas o suficiente apenas para
encará-la, sorrindo. Sua feição era um convite que Patrícia jamais recusava; amava
ver tanta luxúria em seu olhar. O cabelo balançava conforme Mariana rebolava, e
os movimentos eram coordenados com os sons que surgiam do fundo de sua
garganta, de dentro do seu âmago. Puro gatilho! Uma cena fantástica, Patrícia
nunca se cansaria de assistir.
–
Quanto tempo? – Tatiana ergue a cabeça quando a esposa desliga o telefone. Seus
olhos pareciam pegar fogo e ela tinha no rosto uma expressão selvagem.
Combinava com o cabelo bagunçado.
–
Pouco tempo, temos pouquíssimo tempo... – Patrícia responde, com malícia, pulando
na cama e beijando Tatiana antes de passar a língua onde a mulher estava
lambendo. O novo toque fez Mariana gemer de novo, alto, como anteriormente, e
abrir um pouco mais as pernas, se oferecendo para elas – Mariana atiça o
apetite mesmo, que mulher gostosa!, bem que você disse. É um verdadeiro banquete
de ano novo, digno de se comer com vários talheres – ela sorri, antes de se
abaixar e encostar a língua mais uma vez no mesmo local, que pulsava com o
contato. O movimento arrancou um suspiro também de Tatiana, que tirou a blusa
de Patrícia antes de beijá-la.
–
Temos que ser rápidas, se temos pouco tempo – Tatiana cochicha, tirando a
camiseta também. A fala fez Mariana gemer em expectativa, e de novo, quando
Tatiana voltou a se posicionar entre suas pernas – Vem, amor, vamos daquele
jeito que ela goza rapidinho.
As duas se abaixaram ao mesmo
tempo e Mariana ficou acompanhando à cena apoiada nos cotovelos, o sorriso
insistindo em não abandonar o rosto, traduzindo parte do que sentia naquela
tarde ensolarada. A respiração das mulheres estava bem próxima à fonte do seu
tesão, que vibrou com a presença delas ali, tão perto e ao mesmo tempo tão
longe de onde desejava que estivessem.
Mariana era a única a estar inteiramente nua,
e se contraiu quando Tatiana e Patrícia voltaram a se erguer e se beijaram. Foi
um beijo longo, demorado, seus braços enlaçando os dois corpos como cadeados, cheios
da cumplicidade que só um relacionamento como o delas conseguia proporcionar.
Mariana gostava disso; adorava quando as duas se beijavam assim, sempre tinha
vontade de participar – do beijo e do casal. Foi um beijo entre elas que a fez
querê-las, afinal.
E agora, como sempre, o que mais
desejava era que a beijassem também. De preferência antes de o almoço chegar. Por
isso deslizou pelo colchão, se esfregando nas mãos delas, de um jeito bem
explícito. O gesto fez as duas sorrirem, e Mariana conseguiu a atenção que
desejava.
Primeiro, Patrícia passou a língua em volta de
seu clitóris, como sempre fazia antes de sugá-lo de leve, pressionando com a
ponta dura da língua. Quando Mariana gemeu mais alto ela parou e Tatiana
assumiu o beijo, passando a língua quente bem no meio, no ritmo rápido que só
ela conseguia. Elas se revezaram assim por duas ou três vezes, deixando Mariana
encharcada, gemendo cada vez mais alto. Ela só não gozou porque bateram na
porta.
–
Não! – Mariana reclama, num tom de lamento, quando o garçom voltou a bater na
porta, desta vez mais forte, anunciando o serviço de quarto – Amor... Não, por
favor...
–
Um minuto! – Patrícia fala em direção à porta, mas seu olhar estava deitado em
Mariana – Um minuto! – repetiu mais baixo, agora para Tatiana, que sorriu com
malícia e voltou a se empenhar no que vinha fazendo.
Desta vez, Mariana sentiu as
duas a beijarem ao mesmo tempo, sincronizadas, quase, junto com sábios dedos
que deslizaram de maneira estratégica e coordenada, do jeito que só as esposas
sabiam. Elas conheciam muito bem o seu corpo, que se contraiu inteiro com a
movimentação e Mariana sorriu sem querer quando ouviu uma tossida vinda do
outro lado da porta. Tinha só alguns segundos e não demorou a gozar, em
silêncio, sua mão tampando a própria boca para não fazer barulho, apenas a respiração
passando entre os dedos.
O único som que ouviu durante os espasmos do
orgasmo foi o do seu próprio coração batendo forte e os suspiros de satisfação vindos
das mulheres que amava. As duas ficaram ainda alguns segundos agachadas entre
suas pernas, sugando dela o tesão que parecia agora vir a galopes, em
contrações que refletiam na ponta dos dedos dos pés.
Antes de se vestir e levantar para atender à
porta, Patrícia se arrastou até a cabeceira e beijou Mariana com vontade. O
mesmo desejo foi sentido no beijo que ela ganhou de Tatiana, na sequência,
quando a mulher deitou ao seu lado e as cobriu até a cabeça com o lençol, antes
que o garçom entrasse com as refeições. Ambas permaneceram quietas, Mariana
ainda com a respiração agitada. Tatiana ficou a encarando com cara de faminta.
As duas saíram da “cabaninha” improvisada com
o lençol quando Patrícia fechou a porta, depois que o garçom deixou o quarto.
–
Ganhamos um mimo de Réveillon do hotel – Patrícia mostra uma garrafa de
champanhe, que ela tirou de uma cesta de vime.
–
Queijo, vinho, uva, espumante... – Tatiana foi retirando os itens da cesta –
Isso é um mimo ou eles querem nos embriagar?
– É ano novo. Óbvio que nos querem bêbadas –
Mariana afirma, colocando a calcinha e levantando a tampa dos almoços. Pegou
uma batata frita de um dos pratos – Amor, você podia beber com a gente hoje –
fala, para Tatiana – Só hoje, Pati – ela se apressa em dizer, encarando
Patrícia – É ano novo!
–
Isso não é motivo para exceções – Patrícia diz, ajeitando os pratos na mesa
redonda que ficava no canto do quanto. Pelas marcas que viu no tapete, a
terceira cadeira não fazia parte do arranjo usual – É? – pergunta para Tatiana,
que permanecia quieta, o que geralmente era um tipo de resposta.
–
É ano novo, posso abrir uma única exceção, pontual – Tatiana responde, para a
alegria de Mariana.
–
Isso, garota! Amanhã a gente que lute, de ressaca!
–
Não se empolgue tanto, Mari... – Patrícia pede, puxando duas cadeiras, para
elas sentarem – Nem você, Tati.
–
Não vou – Tatiana manda um beijo para Mariana, que ainda fazia uma dancinha,
comemorando.
–
Nem precisa – Mariana fala, finalmente se sentando – A Tati nunca bebe, o pouco
que beber vai ser o suficiente. Vai ficar louca do cu – ela balbucia para
Tatiana, e brinda batendo seu suco no copo da mulher, que sorri – O mínimo é a
gente beber tudo o que ganhou – ela indica com a cabeça a cesta cheia de
álcool, enviada pelo hotel.
–
Não dá para prometer isso – Patrícia diz, antes da primeira garfada.
–
É o mínimo, fechou – Tatiana responde, simultaneamente. Parou de sorrir com o
brinde, quando viu a cara que a esposa fazia.
–
Não vou ser eu a estraga-prazer dessa festinha – Patrícia diz, depois de
engolir – Vocês são adultas, sabem bem o que fazem – ela olha para Tatiana e
levanta os ombros.
–
Isso, amor. A festa é nossa – Mariana retruca, de boca cheia. Foi a única na
mesa que não notou a mensagem não-verbal que Patrícia enviava com o seu
gestual.
–
É uma exceção de ano novo, alguns drinques com minhas mulheres, num hotel no
meio do mato, e nada mais. Estamos seguras, Pati – Tatiana fala, remexendo a
comida com o garfo. Sentiu um aperto que não atribuiu de imediato à síndrome do
intestino irritável.
–
Eu trouxe um baseado – Mariana revela, num tom confessional, falando bem baixinho.
–
Você... – Patrícia largou o garfo no prato, olhou de relance para Tatiana e voltou
a encarar Mariana – ... trouxe maconha para o hotel? Está maluca? E se a
polícia parasse a gente na estrada? E se eles têm cães farejadores? Onde você
escondeu essa droga, Mariana?
–
Um baseado – Mariana fez uma careta, amenizando o discurso sério de
Patrícia. Olhou rápido para Tatiana, que permanecia séria, antes de continuar –
O Percival inibiria a ação dos cachorros. Polícia rodoviária não costuma ter cão
farejador, amor! – ela fala depressa, rindo – É só um baseadinho, Pati. Está
bem escondido, polícia nenhuma acharia.
–
Eu não me responsabilizaria... – Patrícia resmunga – Responsabilizo! Não
me responsabilizo por vocês! – ela se corrige, voltando a almoçar.
–
Não sei, não, Mari – foi a vez de Tatiana se manifestar – Da última vez, dona
Patrícia fumou maconha e ficou meio transtornada, me deu muito trabalho. A não
ser que você se responsabilize por ela.
–
Hum, será? – Mariana estava rindo de novo – Posso pensar no caso dela! Será que
você me daria trabalho, dona Patrícia?
–
Tudo para vocês é piada, tudo é engraçado – apesar do que dizia, Patrícia
estava rindo também – Come, amor.
–
É, come, amor – Mariana repete, vendo que Tatiana mal tinha encostado na comida
– O que foi?
–
É, não sei – Tatiana leva a mão à barriga. Assim como Mariana, também estava sem
camiseta – Algo não caiu bem, eu acho...
–
Não sei o que pode ter sido – Patrícia remexe o prato dela com seu garfo. Não
havia nada ali “proibido” – Foi o tempo, Tati – ela constata, na sequência – Você
ficou um período muito grande de tempo sem comer. Por isso que eu não gosto de
sair da rotina, bagunça tudo!
–
Já vai passar – Tatiana diz, mas para Mariana, que segurava sua mão.
–
Por isso que me preocupo em trazer lanchinho – Patrícia resmunga, quando
Tatiana sai para o banheiro – Mas não adianta se ela não come!
–
A culpa é minha. E do hotel, que errou o nosso quarto! – Mariana diz, enchendo
a boca – Atrasou tudo, foi isso. Seja gentil com ela, amor.
–
Eu sou! – Patrícia se defende.
–
Eu sei! Só estou dizendo... – Mariana levanta os ombros, vendo a esposa
retornar ao quarto – Melhor, amor?
–
Estou, um pouco, minha gatinha – Tatiana para atras dela e dá um beijo no topo
de sua cabeça – Você está certa, amor, foi o tempo – ela diz para Patrícia. Ao
sentar, beijou a face da mulher – Vou tomar mais cuidado, prometo. Farei
lanches regulares. Curta seu dia de férias, não se preocupem comigo.
Ela volta a almoçar, talvez mais
para agradar às mulheres, porque se sentia sinceramente sem apetite, e a comida
já estava fria.
–
A banheira parece bastante convidativa – Tatiana diz, no fim do almoço –
Podíamos tomar banho depois da digestão.
–
Podíamos ver um filme, fazendo a digestão. E depois banho de banheiro, quero –
Mariana fala, bocejando.
–
Você vai acabar dormindo se a gente assistir tevê – Patrícia diz, passando a
mão em seu rosto – Já está quase dormindo, e ainda está sentada.
–
Uhum – Mariana resmunga, apoiando a cabeça na mão do afago – Eu tiraria um
cochilo, mesmo. É cansativo viajar – ela boceja de novo – Deita comigo?
–
Claro, querida – Patrícia dá a mão para ela – Vem, amor.
–
Vou, já, já – Tatiana responde, sem tirar os olhos do celular. Estava
pesquisando qual das bebidas era menos danosa à sua saúde, para ver o que
beberia mais tarde. Pretendia se embebedar, mas não morrer.
Ela acabou se distraindo e ficou
longos minutos entretida com o aparelho. Era sempre fácil se render aos
encantos da internet e Tatiana só percebeu a passagem do tempo quando bateram
na porta, para retirar as bandejas. Viu que Mariana dormia apoiada no peito de
Patrícia quando as cobriu, antes de se vestir e abrir para o garçom.
–
Amor, vou dar uma voltinha, tá? – ela cochicha para Patrícia, que assistia um
programa de reforma de residências – Vou conhecer o hotel, volto já.
–
Leva o celular, Tati – Patrícia balbucia, tomando o cuidado de tampar a orelha
de Mariana com a mão.
Tatiana manda um beijinho no ar
e fecha a porta. Seu chinelo foi afundando no tapete do corredor, e ela decidiu
descer de escada, que tinha um corrimão dourado e gelado acompanhando os
degraus.
O hotel era bastante silencioso,
tudo o que se ouvia era só um ruído eventual, vindo de alguma máquina distante
dos olhos. Lá fora, Tatiana constatou que ainda que houvesse a ausência de
barulho, a quantidade de sons era muito maior. Ao sair do saguão por uma porta
lateral, notou que o lago que circundava o hotel nascia de uma fonte,
aparentemente natural, que fazia brotar um fio de água no meio das pedras.
Caminhou até a beira apreciando a natureza, e nem percebeu que não estava
sozinha.
–
Muito bonito, né – Elza diz, sentada na grama. Ela estava descalça e com as
costas apoiadas no tronco de uma árvore.
–
Sim, é demais – Tatiana responde. Quase não reconheceu a recepcionista sem o
uniforme do hotel, e de cabelo solto – Sombrinha boa essa que você foi
arranjar, hein! Nem te vi aí!
–
É, esse é meu cantinho especial. E privilegiado! – a mulher sorri, dando uma mais
tragada no cigarro, antes de continuar – Tenho que aproveitar as horas de
pausa, antes do plantão de ano novo.
– Ah, você vai trabalhar...
–
É, mas já me acostumei. Não tenho datas festivas desde que comecei a trabalhar
em hotel. Faz parte. E por sorte, além de vocês, só tem hóspede em mais dois
quartos, então vai ser tranquilo.
–
É, sei como é. Com exceção do Réveillon, não temos muitos feriados em família
também. Nós temos um restaurante.
–
Ah, que demais! Vocês gerenciam juntas?
–
Não, na verdade só a minha esposa Patrícia trabalha lá. Ela é a chef. Eu sou
professora de Artes, na rede pública. A Mariana tem uma empresa de TI – ela
complementa, depois de alguns segundos.
–
Que versáteis, adorei! – a mulher pareceu sincera.
–
O lago se emenda na piscina? – Tatiana pergunta, com a mão sobre os olhos,
tentando ver até onde a água ia.
–
Sim e não. Tem uma emenda no meio. É muito bonito, à noite fica tudo aceso. As
luzes lembram estrelas, só que na água.
–
Boa, Elza. Espero me lembrar disso mais tarde – Tatiana sorri, mas muda a
expressão ao ver dois homens vindo em sua direção. Desviou o olhar quando o
maior a encarou – Bom descanso e bom trabalho mais tarde – ela diz, e entra no
hotel.
Apressou o passo para pegar o
elevador sozinha, avaliando em milésimos se deveria correr escada acima. Que
bobagem, Tatiana, ela pensou, se sentindo de novo uma menina com medo de
fantasmas, depois de apagar a luz. Só que crescida, e durante o dia.
Em geral não era tão
antissocial, mas se sentia ressabiada, preferiu evitar contato com estranhos, e
apertou o botão do terceiro andar várias vezes, até que a porta do elevador começasse
a fechar. Foi então que suspirou, o corpo todo se desarmando da posição de
ataque, de fuga. Às vezes era preciso concordar com Patrícia: sair de casa
parecia sempre tão arriscado!
O pensamento desanuviou ao abrir
a porta do quarto e ser recepcionada por Percival, que miou como se a
cumprimentasse. O gato estava mesmo apegado a ela, era fato!
–
Ah, acordou – ela diz, vendo Mariana desperta, embora parecendo ainda
sonolenta, com a cabeça apoiada no ombro de Patrícia, que acariciava seu rosto.
–
Sim, e aí não te vi! Onde a bonita estava? – Mariana pergunta, se fingindo de
zangada – Estava de papo com alguma sirigaita, na beira do lago, né. A Pati
viu.
Tatiana riu. E riu de novo,
quando Patrícia permaneceu séria.
–
Era a recepcionista, falamos amenidades. Que ciumentas! – Tatiana riu de novo.
–
Amor, você não invente de trazer mais gente para esse casamento, hein – Mariana
tentou falar séria, mas riu ao final – Já tem muita mulher para você dar conta
– ela se levanta e a abraça. Lambeu seu pescoço, antes de beijá-la.
–
Muita mulher, uhum – Tatiana concorda, dentro do beijo.
–
Eu não me oponho a mais uma – Patrícia brinca, saindo da cama também. Riu alto
quando as duas pararam de se beijar e a encararam – Que caras maravilhosas,
nossa, merecia uma foto! – ela enquadra as duas com os dedos, como se as
fotografasse – É brincadeira. Já tem muita mulher mesmo para darmos conta – deu
a mão para as duas, e foram juntas para o banheiro.
A banheira de hidromassagem era
moderna, e se destacava no ambiente amplo e branco. Era tão grande que tinha
espaço para até cinco pessoas e ficava estrategicamente posicionada perto da
janela, de quina, com vista particular para o topo de alguns coqueiros, que
preservavam a privacidade. Mais ao fundo, antes do morro, era visível parte da
piscina.
–
A gente vai passar a virada aqui, sim ou com certeza? – Mariana tirou a
calcinha e entrou na banheira, que enchia rapidamente – Vamos brindar, quero
postar uma foto segurando a taça com essa vista de fundo – ela fica em pé, a
água já quase no joelho.
–
Bela vista de fundo – Tatiana tira uma foto, pegando a bunda de Mariana de
propósito. Mostrou o celular para Patrícia, que se despia.
–
É, incrível! Não é muito cedo para beber, Mari?
–
Só um brinde, Pati – Mariana responde, virando-se para elas. Sentou apoiando os
braços nas bordas da banheira – De ano novo.
–
Qual vai ser a desculpa quando janeiro chegar? – Patrícia quer saber, sentando
no espaço ao lado dela.
–
É ano novo até fevereiro – Mariana ri – Ah, essa é a minha garota! – ela
exclama, quando Tatiana entra no banheiro com uma garrafa de vinho e três taças,
presas pelas hastes entre os dedos – Me lembra de tirar a foto depois, amor.
–
Já tira, Mari. Depois a gente sempre esquece – Tatiana recomenda, entregando
para elas duas taças servidas até quase metade. A sua tinha menos de um dedo.
–
Assim você não vai se embebedar... – Mariana reclama, ajustando o foco do
celular na melhor inclinação para a foto.
–
Com vinho eu preciso ir devagar mesmo, gata – Tatiana justifica.
–
Ela já quase morreu com vinho! – Patrícia fala, brava com ela.
–
Pati... – Tatiana repreende, no instante em que Mariana abaixa o celular. Ela
não diz mais nada, mas balança a cabeça, em reprovação.
–
Desculpa – Patrícia pede, primeiro para Tatiana, depois para Mariana – Desculpa,
amor. Só não estou confortável com a ideia de vocês beberem.
–
Talvez porque esteja sóbria – Mariana rebate, sorvendo um longo gole de sua
bebida. Ficou encarando a mulher por cima da taça, com uma sobrancelha
levantada – Bebe comigo, Pati.
–
Ainda está dia... – Patrícia alega, levantando os olhos.
–
E? – Mariana volta a beber mais vinho, e completa a taça antes de saborear mais
um gole bem servido – Último dia do ano. Bebe comigo. A Tati é café com leite,
mas você não. Ou você tem medo?
–
Eu não sou café com leite! – Tatiana senta entre as duas mulheres.
–
Medo do quê? – Patrícia pergunta. Seus olhos sorriam, mas seus lábios se
mantinham sérios.
–
De entregar o controle, Patrícia.
Tatiana ri, porque o argumento
de Mariana era válido. Se segurou na borda da banheira e foi até o outro
extremo, para vê-las por um ângulo melhor. Apreciava que Mariana tivesse sempre
boa munição e disposição para entrar em discussões que ela mesma já não se
arriscava mais sequer iniciar.
–
Eu não tenho medo – Patrícia finalmente fala, e bebe um pouco do vinho.
–
Ótimo. Temos as três garrafas que ganhamos, os dois champanhes que trouxemos e
o baseado – ela bate na tela do celular, para ver as horas – Temos até
meia-noite para bebermos tudo, o que nos dá... – Mariana levanta a cabeça, a
lente dos óculos respingada com a água da banheira refletindo contra a luz – Uma
garrafa por hora, ou duas taças e meia a cada 45 minutos, se bebermos no nosso
ritmo normal.
–
Ok, mas saiba que ninguém vai zelar por nós, se estaremos as três bêbadas –
Patrícia vacilou alguns instantes antes de segurar a mão que Mariana oferecia
para selar o acordo.
–
A ideia é essa – Mariana ri.
–
Estamos bem, num hotel quase vazio, segundo a recepcionista – Tatiana volta a
se movimentar para perto delas e puxou as pernas de Patrícia para o seu colo.
–
Ao descontrole, então – Mariana brinda, encostando o vidro na taça das esposas
– Vamos tirar uma foto, enquanto estamos bem ainda.
Ela desbloqueia o celular e o
entrega para Patrícia, na ponta da banheira, antes de se ajeitarem. Sorriram
para um registro só delas.
As três passaram horas
mergulhadas numa água que foi se renovando conforme a noite foi chegando.
Saíram depois esvaziarem três garrafas, devagar porque o chão parecia meio
instável.
–
Esse hotel é mesmo maravilhoso – Mariana diz, com a voz embargada, andando nua
pelo quarto – O quarto é muito bom, a cama, boa, a banheira, então... boa
também – foi listando nos dedos, conforme falava – Queijo? Bom. Não, queijo
ruim! – ela se emenda, vendo Tatiana comer.
–
Só um pedacinho – Tatiana enfia mais três pedaços de queijo na boca.
–
É a exceção dela. É a culpa sua – Patrícia diz, se embolando com as palavras,
apontando o dedo para Mariana – Desregula a dieta dela.
–
Para, Pati – Tatiana pede. Levantou a mão pedindo calma quando comeu mais queijo
– Para, Mari – complementou, antes que Mariana dissesse algo também – E o
baseado?
–
Se antes de fumar já está comendo como um dragão, imagina depois de fumar –
Patrícia desabou na cama, sem roupa. Riu quando Mariana se jogou ao seu lado,
literalmente pulando na cama.
–
Vamos fumar depois da ceia, dragão – Mariana riu para a esposa – Senão você se
estraga muito, a chefia tem razão. A chef – ela se corrige, mas porque riu,
Patrícia entendeu que a fala não tinha sido um engano.
A quarta garrafa estava na
metade quando bateram na porta, para a ceia. Mariana ficou encarregada de se
vestir e receber a comida, e a última refeição do ano foi saboreada sem que
usassem roupas.
–
Falta uma hora para o ano novo, uma garrafa de champanhe e um baseado – Mariana
diz, a voz mole por conta do álcool já consumido. Piscou demoradamente depois
de um soluço, ouvindo no corredor os pratos do jantar sendo empurrados dentro
do carrinho do hotel.
–
Deixou por último o champanhe com o maior teor alcóolico – Patrícia diz,
sorvendo um gole do espumante que tinha em sua taça.
–
Exatamente – Mariana volta a piscar de maneira demorada, concordando com a
cabeça. Se esforçou para se levantar e tirou de dentro da mochila uma bolsa de
pano, e de dentro, um par de meias, embolado numa espécie de bolinha, e de
dentro sacou o baseado, meio amassado – Abrimos o champanhe quando der
meia-noite, fumamos agora? – a pergunta saiu num tom de afirmação.
–
Tá, mas deixa eu me preparar. Por favor, coloquem roupa. Não quero vocês loucas
e peladas andando pelo hotel, no meio do mato – Patrícia resmunga, vestindo a
blusa com certa dificuldade.
–
Não, ninguém nua – Tatiana concorda, e vê Mariana separar o biquíni de dentro
da mochila – Biquíni vale – ela pega a peça que a esposa lhe entrega, mas não
veste – Amor, está do avesso.
–
Ah... – Patrícia puxa a etiqueta da roupa, logo abaixo do queixo.
–
Gente, pera que eu não trouxe isqueiro – Mariana tira tudo de dentro da mochila,
até as mínimas coisas, guardadas nos bolsos laterais – Será que na recepção
tem? Cadê o menu?
–
Parece um sinal – Patrícia brinca – Parece, ué! – ela insiste, quando as duas a
encaram – Puxa aí o telefone, Tati. Vamos ver se a sua amiga tem fogo –
provoca.
–
Ela tem. Ela fuma cigarro! – Tatiana se apressa em dizer – Mas no serviço de
quarto deve ter também.
–
Oi, recepção? – Patrícia pergunta e Tatiana vira os olhos enquanto Mariana ri –
Oi, Elza. Tudo bem, e você? Que bom, queria ver se você poderia nos ajudar, nos
emprestando um isqueiro. Ah, você faria essa gentileza? Que ótimo, maravilha,
agradeço! – ela desliga o telefone – A amiga da Tati vai trazer aqui.
–
Você está mais vestida, dona avesso. Pode buscar – Tatiana aponta para a roupa
de Patrícia, levantando a coberta para se esconder com Mariana na cama.
–
Eu acho incrível a quantidade de vezes que vocês duas discutem sem falarem nada
– Mariana cochicha, baixo o suficiente para que só Tatiana a ouvisse. Patrícia
estava na porta, falando algo com a recepcionista do hotel.
–
Faz parte, amor... – Tatiana tenta desconversar.
–
Não, não estou criticando. É só uma observação – Mariana vê um clarão através
do lençol, do isqueiro aceso na mão de Patrícia, e por isso se descobre – Hora
da velinha.
Ela senta na cama, acompanhada
de Patrícia e Tatiana, que sentam ao seu lado. Ficaram olhando a mulher acender
o baseado, com atenção aos movimentos que ela fazia.
–
Quem me deu garantiu que essa erva é da melhor qualidade, diz que dá uma brisa
boa – Mariana diz, puxando a fumaça e segurando.
–
Por ser forte? – Tatiana quer saber.
–
Quem que te deu? – Patrícia pergunta também.
–
É forte, sim – Mariana responde, passando para Tatiana – Um amigo me deu, amor.
Você não conhece – ela fala para Patrícia – Sentiu o gostinho, amor?
–
Sim, é bom, mas não sei se sei tragar ainda – Tatiana fala, puxando um trago
forte, tossindo na sequência, se engasgando com a fumaça.
–
Vai devagar... – Patrícia começa a dizer, mas logo se cala – Ou não – ela se
emenda, antes de pegar o baseado das mãos de Tatiana.
–
Dá pegão, Pati – Mariana a estimula, já com os olhos baixos – Fuma sem dó, vai.
Patrícia deu. Puxou forte,
sentiu o gosto da maconha enquanto Mariana a incentivava a fumar, mesmo. E a
voz da mulher ficou ecoando na sua cabeça durante um tempo, quando o próprio
tempo começou a passar diferente depois que ela deu o primeiro trago naquele baseado.
Depois, foram as risadas de Tatiana que começaram a ricochetear em sua mente, animadas
e emendadas à sua própria risada e à de Mariana, que riam não se sabe do quê.
Os acontecimentos passaram a vir
em forma flash, desde as conversas até o fim do beque, passando pelo champanhe
aberto à meia-noite, depois de uma contagem regressiva particular, às risadas
(foram muitas!), elas se vestindo e saindo do quarto, rindo, ao chão macio do corredor,
que Patrícia sentiu com a pele da bochecha. Tatiana disse algo sobre estrelas
na água, e caminharam determinadas para a parte de fora do hotel, mas levaram
uma infinidade de tempo descendo as escadas, foram parando a cada degrau.
Faltava forças para andar; estavam muito bêbadas e riam muito, de tudo.
Quando se deu conta, estava em
pé na beira da piscina, uma das mãos apoiadas na saída do toboágua. A taça em
sua mão estava vazia, e brilhou quando a água respingou nela, depois que
Tatiana e Mariana pularam na piscina.
–
Oh, não – ela disse, primeiro, rindo. As duas estavam de biquíni, Mariana
vestia uma camiseta branca, que ficou boiando na água. Depois, Patrícia viu ao
fundo o que pareceu ser o formato de dois corpos, que nitidamente se esconderam
quando ela os viu – Oh, não – repetiu, agora em outro tom, mais preocupado. Foi
como se de repente ficasse sóbria, a pele na frente das orelhas ficou estranha
e rapidamente gelada, num sinal de alerta que ela não poderia jamais ignorar,
mesmo que estivesse embriagada – Vem! – Patrícia disse, a voz saindo mais baixa
e mais fraca do que gostaria – Amor, Mari.
Patrícia as chama, mas as mulheres não a escutam
e ela se desespera ao ver dois homens se aproximarem da área da piscina. Sentiu
a etiqueta da camisa arranhar o queixo quando virou o pescoço, avaliando se
deveria pular para salvar as duas, ou se seria mais útil na superfície. Ainda
estava analisando o que fazer quando o primeiro pulou na água. O segundo,
maior, ficou do lado de fora, mostrando os dentes como se sorrisse, mas para
Patrícia, pareceu mais uma ameaça.
–
Amor... – ela balbucia, e vê Mariana se assustar com a presença do estranho. No
mesmo instante, viu a mulher puxar a mão de Tatiana e as duas nadarem em
direção à escada, mas pararam quando o outro cara se posicionou no alto dos
degraus – Deixe-as em paz! – Patrícia gritou, levantando o limpador de piscina,
que tinha o cabo comprido, ameaçando o sujeito que permanecia seco.
–
O que, maluca? – o rapaz pergunta, instintivamente levando a mão ao rosto, estranhando
a reação da mulher. Olhou para o amigo dentro da água, que parecia confuso
também.
–
Pati, tudo bem – Mariana senta na borda da piscina e sai. Caminhou em sua
direção depois de auxiliar Tatiana a sair da água também – Vamos para o quarto,
vem.
As três seguiram descalças para
dentro do hotel, andando rápido e compartilhando da sensação de uma estranha e
repentina sobriedade. Um choque de realidade nada bem-vindo, capaz de despertar
até os sentidos mais dormentes e alcoolizados.
–
Foda ser mulher – Tatiana reclama, trancando a porta do quarto.
–
Foda, sim, a gente nunca se sente segura, em nenhum lugar – Patrícia concorda,
vendo Mariana tirar do bolso do short molhado o isqueiro da recepcionista. A
mulher colocou os óculos para ver melhor o estrago, e constatou que o isqueiro
não acendia mais. Patrícia sorriu vendo a cena.
–
Que a gente sempre tenha locais seguros para nos protegermos. Juntas – Mariana
diz, soltando o isqueiro e segurando as mãos das duas – Amanhã a gente volta
cedo para casa, e se der passamos a próxima virada do ano ainda mais isoladas.
Ou nem saímos, ficamos por lá mesmo...
–
Sinto muito, querida – Patrícia diz, dando um beijo nela.
–
Tudo bem. O importante são vocês. O lugar é o de menos – Mariana afirma, dando
um beijo também em Tatiana.
As três dormiram enroscadas,
ainda um pouco embaladas pelo álcool, presente em seus organismos. Na primeira
manhã do ano, quando Tatiana acordou, precisou se esforçar para resgatar as
lembranças da noite anterior. Ainda estava puxando os detalhes da memória
quando pediu para entregarem o desjejum no quarto, e quando bateram na porta,
alguns minutos depois. Serviu uma xícara quase até a borda e despertou devagar,
vendo a vista calma do lago.
Patrícia e Mariana não acordaram
até que o café terminasse, e Tatiana foi chamá-las, mesmo não gostando de
acordar nenhuma das duas. Mas queria ir para casa, não tinha dormido muito bem,
se sentia cansada, mesmo de férias, num hotel maravilhoso.
Na saída, entregou para a
recepcionista um cartão dO Bistrô, pediu para que ela as visitasse quando
eventualmente passasse pela cidade, e lhe prometeu um isqueiro novo, quando o
encontro acontecesse. Elza riu e prometeu conhecer o restaurante assim que
fosse possível.
A volta para casa foi mais
silenciosa, embora com a mesma playlist da ida. Cada uma ficou o trajeto todo
entretida com seus próprios pensamentos e resoluções de novo ano, suas
promessas e renovações de votos particulares e internos. Quem mais “falou” foi
Percival, que parecia contente em voltar para casa.
–
Vou dar uma passadinha rápida nO Bistrô, tudo bem? – Patrícia pergunta,
desviando da rota de casa assim que entram na cidade – Só quero ver se está
tudo bem.
–
Claro, desde o ano passado que não vamos lá – Mariana sorri. Talvez pela
primeira vez, desde que acordaram. Deu uma olhada para Tatiana, sentada no
banco de trás e sorriu novamente – Vou fazer um café quando chegarmos porque
estou morrendo de sono.
Patrícia estacionou na vaga em
frente ao restaurante, onde sempre deixava o carro. A rua estava vazia, todos
os comércios com as portas fechadas e o tráfego era quase inexistente. Estava
destrancando a porta quando ouviu uma freada de carro e alguém estacionando ao
lado delas. De onde estava, acompanhou uma mulher saltar de dentro do carro
preto, com adesivo do Uber, carregando uma caixa. Ao vê-la, Mariana deu dois
passos para trás, cambaleante como estava na noite anterior.
–
Finalmente te encontrei – a mulher diz, o cabelo loiro caindo na frente dos
olhos. Ela tinha um olhar afiado na direção de Mariana. Parecia perigosamente
magoada.
–
Gi... – Mariana falou, mas na sequência ficou quieta, vendo a mulher avançar em
sua direção, entregando a caixa em suas mãos.
–
Toma, suas coisas – ela diz, no momento em que a motorista do carro preto
desembarca, e fica parada próxima à porta – Você não se deu ao trabalho nem de
ir em casa buscar as porras das suas coisas. Me disseram que eu te encontraria
aqui, mas eu não quis acreditar – a mulher pareceu só então perceber a presença
de Tatiana, perto de Mariana, e Patrícia, logo atrás, parada com a mão na maçaneta
da porta giratória do restaurante. Olhou para as duas de cima a baixo, com um
pouco de desdém – Nem os trecos do seu gato você foi pegar. Qual seu problema?
–
Ei – Tatiana diz, vendo a mulher se aproximar demais.
–
Moça – a motorista a chama, preocupada com uma possível agressão na calçada –
Vamos, você disse que entregaria a caixa e era só.
–
Cuidado, viu – a mulher diz, antes de dar meia-volta e entrar no carro – A
Mariana não sabe se relacionar com as pessoas. Não estranhem se ela desaparecer
de repente, sem nem se dar ao trabalho de se despedir, ou pegar as próprias tralhas.
–
Mais uma faceta do passado de Mariana que desconhecíamos – Patrícia brinca,
depois que o carro sai, com a motorista se desculpando, como se tivesse
responsabilidade naquela cena toda. Finalmente destrancou a porta e as três
entraram nO Bistrô, com Percival.
–
Gi, né? – Tatiana provoca, cutucando Mariana com o dedo. Patrícia as deixou no
saguão e foi até a cozinha, mais nos fundos.
–
Passou, é passado – Mariana apoia a caixa de papelão em cima de uma das mesas –
Olha, um isqueiro! – ela acende e o objeto se ilumina em sua mão – Já temos
para devolver para a sua amiga, quando ela vier conhecer o restaurante.
–
Até parece que ela vai vir aqui... – Tatiana ri, mexendo na caixa de Mariana.
Jogou um rato de fricção no chão, que foi ignorado pelo gato.
–
Ué, duvida? Tanta gente que já veio aqui e você não sabe... tanta gente que
ainda vai vir! – Mariana fala, pensativa.
–
Tipo a Gi? – Tatiana provoca.
–
Sim. Ou tipo sua amiga recepcionista, ou tipo a motorista do Uber...
–
Muita sapatão para comer nO Bistrô – Tatiana estava rindo.
–
Muita! – Mariana ri também – Sorte a minha, que como, e também me farto, e me
lambuzo, e se não me sacio, como de novo! – ela faz uma cara de safada, vendo
Patrícia voltar – Vamos para casa?
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