O contrato (conto)
Esta é a terceira história da Novelinha.
Se ainda não leu a segunda, "3xTPM (O jantar)", clique aqui.
Perdeu a primeira, "A amante"? Clique aqui e leia agora mesmo!
Imagine que, por acaso, o seu grande
desejo fosse ser dominada sexualmente por uma mulher e iniciada na prática do
BDSM (sigla para bondage, dominação, disciplina, submissão, sadismo e
masoquismo). Aí um dia, por merecimento, talvez, você consegue o contato de uma
dominadora; cai no seu colo, plim, como uma espécie de presente pelo seu
bom comportamento, por ter sido “uma boa menina”, quem sabe. De que maneira
você começaria?
Como se puxa papo com uma dominatrix?
Luana passou horas
pensando nisso, dias! Começava já bem cedo, logo que abria os olhos, ao
despertar, e o pensamento a rondava também no caminho para o trabalho, como um
animal selvagem, sorrateiro e faminto. Depois ela se amarrava nisso durante as
longas e entediantes horas de labuta em frente ao computador e também na volta
para casa, dentro do ônibus lotado. Aí o questionamento e todos os pensamentos
que vinham a tiracolo a acompanhavam, sem pudor, durante o banho, que era
quando ela sempre tentava meditar, e depois no jantar, e principalmente aquilo
a perturbava na hora de dormir. Este era inclusive o pior momento porque se
masturbar antes do sono era rotineiro, e Luana quase perdia o foco porque mesmo
muito excitada, era tipo um paradoxo: a mente toda às voltas com esse assunto, mas
ela se distraía pensando justamente nisso. “Boa noite, dona Domme, por
favor, eu gostaria de ser sua escrava” não parecia em nada com um bom
começo de conversa.
E ela achando
que conseguir o contato era a parte mais difícil! Iludida.
O número de
telefone Luana conseguiu com uma amiga que por acaso conhecia alguém, que tinha
uma prima que aparentemente foi iniciada pela mulher. Sabrina era o seu nome, e
isso era tudo o que Luana sabia a seu respeito.
Nas várias leituras
que fazia sobre BDSM em guias anônimas da internet, e este era um tema que a
atraía muito, desde nova, sempre via recomendações sérias sobre a necessidade
de se praticar apenas com pessoas confiáveis. É preciso mesmo um mínimo de confiança
em alguém que pode te deixar amarrada por horas! Mas Luana não conhecia ninguém
que também gostasse desse tipo de coisa, logo, não confiava em ninguém também.
Chamaria antes a tal de Sabrina para um cafezinho, será? Era assim que se
começava uma iniciação?
A cada dia que
passava e não tinha uma resposta, Luana via cada vez menos graça disso. Na
verdade, começou a ficar angustiada porque temia desperdiçar uma chance valiosa
só por causa da sua própria demora. Era um péssimo momento para tanta
indecisão.
No quinto dia
depois de ter salvado o número de Sabrina na agenda do celular, Luana decidiu
agir. Era preciso, afinal cabia a ela esta iniciativa, ainda que não parecesse
uma atitude certa de uma propensa a submissa. E se a dominadora estivesse
trabalhando? Ou ocupada com outra coisa? Será que não acharia impertinência de
sua parte? Haveria algum horário certo para enviar a primeira mensagem? E, de
novo: o que escrever nesse primeiro contato? Na falta de todas as respostas, digitou
apenas “Olá, boa tarde, me chamo Luana” e enviou.
Se sentiu
instantaneamente idiota, e pareceu pior apagar a mensagem, porque quase
imediatamente a mulher ficou on-line. As setinhas de envio permaneceram da
mesma cor, como se o texto não tivesse sido lido, mesmo quando Sabrina começou a
digitar. Luana ficou tão nervosa ao vê-la responder, tão rápido, que desligou o
celular com pressa e jogou o aparelho no fundo da mesa. Três colegas no mesmo
instante olharam para ela porque o gesto fez as divisórias da baia que dividia
suas mesas balançarem, assustando até mesmo quem estava sentado do outro lado
do corredor.
Luana fez um
gesto nervoso com a mão, meio se desculpando por aquilo, a outra pousando
trêmula sobre a boca, bem teatral, como se estivesse tendo um mal súbito. Era
isso, um pouco, mas por causa do nervosismo que tomou conta dela de repente.
Tantas palavras
para escrever e se comunicou como se tivesse problemas de comunicação! Irônico,
porque trabalhava justamente na redação de uma das agências publicitárias mais
conceituadas do país.
O celular tremeu
uma vez, ao notificar uma mensagem recebida. Depois outra. Na terceira vibração
Luana resolveu puxar o aparelho e ler, porque não fazer isso poderia parecer
desinteresse, e o seu caso era justamente o contrário.
“Olá, luana”
era a primeira mensagem. Assim mesmo, com seu nome em caixa baixa. A segunda vinha
logo abaixo, enviada na mesma minutagem, quase, e dizia apenas “Boa tarde”.
Simples desse jeito, sem ponto, sem nada.
A terceira
mensagem foi a que fez Luana erguer a sobrancelha, e ela sentiu imediatamente
as bochechas corarem, por achar um pouco petulância aquilo que seus olhos precisaram
deslizar mais de uma vez para ler e então compreender. “Por que demorou?”
foi o que Sabrina escreveu.
Havia um prazo?
Descartou pensar
que ela obviamente sabia de sua existência, porque obviamente Sabrina foi
avisada, antes que seu contato chegasse até Luana. Devia haver a necessidade de
uma autorização para isso, ou algo do tipo. Foi o que pensou, contando
rapidamente nos dedos, as unhas bem curtas batendo na madeira da mesa de
trabalho. Um, dois, três, quatro. Foram quatro dias desde o contato recebido,
até agora. Cinco dias, se contasse que agora já eram quase 18h.
Sabrina
permanecia on-line. Parecia aguardar a sua resposta, pacientemente. Ou não!
“Desculpe,
não sabia o que escrever”. Esta foi a resposta de Luana, sob pressão. Ela,
que já tinha recebido alguns prêmios na categoria “Criativo do Ano”, muito disputado
no seu meio profissional. Revirou os olhos quase no mesmo instante porque
Sabrina ficou off-line.
Luana ficou
olhando para o celular, um pouco desolada, até a tela ficar escura e se apagar,
acreditando que tinha estragado tudo. Claro que tinha!, onde já se viu deixar
uma mulher dessas esperando? Cinco dias, ainda por cima!
Revirou os olhos
e suspirou, tão frustrada que nem percebeu o celular vibrando mais uma vez. Apenas
quase 30 segundos depois é que foi ler o que Sabrina havia respondido sobre
aquilo. “Mal, começou mal” era a sua mensagem, que provocou outro rubor na
face de Luana, desta vez por frustração. E antes que pensasse em algo para se
desculpar, a mulher enviou uma mensagem de voz.
Sete longos
segundos de sua voz. De imediato Luana ficou um pouco atônita porque mais cedo tinha
emprestado o seu fone de ouvido para uma colega. Como ouviria o que quer que
fosse que Sabrina havia lhe dito, sem que as quase 20 pessoas ao seu redor
escutassem também?
“Ouça”,
Sabrina ordenou. Pareceu uma ordem! E quando Luana foi justificar sua
impossibilidade disso, ainda estava digitando o texto, a mulher simplesmente
apagou a mensagem! Desta vez seu rosto queimou, talvez de raiva, mas Luana
jamais admitiria isso depois.
“Mal, muito
mal”, Sabrina disse numa mensagem escrita, e na leitura Luana entendeu que
ela também estava zangada. Ou era só a sua cabeça criando cena. “Estou
ocupada agora. Me chame em uma hora que vemos o que posso fazer com você”, Sabrina
ordenou, de novo.
Luana mordeu o
lábio, nervosa. Olhou para o relógio, o dia já estava quase acabando, ela logo
iria para casa. A meta era chegar, trocar de roupa e calçar seu tênis de
corrida azul, naquela rotina que já era viciada. Correr era quase sua droga, e
ficar sem a deixava sempre meio mal humorada, pilhada com energias não
descarregadas.
Sabrina acharia
isso uma violação?
“Desculpe,
dona Sabrina, pode ser daqui duas horas? Eu preciso correr alguns quilômetros...”.
Pareceu justo ser sincera. Ainda que passível a mais um desapontamento, ao
menos estava jogando limpo com a mulher que ela adoraria chamar só de “dona”. Mas
isto parecia ainda muito distante, porque Sabrina se desconectou sem dizer mais
nada.
Dando mais uma
olhada no relógio, Luana decidiu que já era hora de encerrar o expediente.
Tinha 1h59 para estar pronta para a conversa com Sabrina, e desejava que esse
diálogo acontecesse, mesmo.
– Que pressa
para ir embora, hein? Onde a senhorita pensa que está indo, mocinha?
Luana ouve a voz
grave da chefe às suas costas, ao vê-la ir embora de fininho antes da hora. Ela
realmente acreditou que conseguiria sair despercebida, mas não era à toa que Miriá
era quem comandava tudo por ali. Muito perspicaz, tinha olhos de águia!, e era
a mulher mais inteligente e sagaz que Luana conhecia.
– Desculpa, chefe.
É que surgiu um imprevisto e...
– Tá, Luana – a
mulher interrompe, levantando a mão, sem parecer muito interessada na desculpa
que teria que ouvir – Mas amanhã você precisa me entregar tudo o que está me
devendo.
– Pode deixar,
chefe – Luana manda um beijinho no ar e sai, apressada, fechando a porta na
passagem.
Ela não se
ofendeu com a cobrança porque estava com a cabeça longe dali, embora ainda
estivesse dentro da Agência Rubi quando seu celular vibrou e viu na tela a
mensagem de Miriá com a longa lista de itens que estava mesmo devendo para a
chefe, já há alguns dias. Mas não tinha culpa se estava tendo bloqueio criativo!
Todo gênio precisa de compreensão e descanso, afinal. Assim que resolvesse as
questões com “dona Sabrina”, tudo voltaria aos eixos, inclusive a sua
criatividade. Apostava todas as suas fichas nisso e era bom que desse certo, ou
Luana acabaria colocando seu emprego em risco.
Mas aí, só
porque desejava chegar rápido em casa, naquele retorno do trabalho Luana
enfrentou um longo e demorado congestionamento, o que atrasou sua corrida, e o seu
término, e aí obviamente chegou além do horário que ela mesma tinha combinado
com a Domme. “Mal, muito mal”, mesmo!
“Boa noite,
me desculpe o atraso. Peço que me dê só uma chance. Estou disposta a tentar
fazer tudo corretamente”, foi sua mensagem em tom de “boa noite”. O relógio
marcava 20h15, e depois 20h35, quando a resposta finalmente chegou. “Defina
‘tudo’”, Sabrina mandou.
“Está
atrasada”, escreveu. “‘Tentar’ e ‘fazer’ são ações completamente distintas”,
Sabrina complementou, poucos segundos depois. E antes que Luana pudesse dizer
algo, ou sequer pensar no que dizer, a mulher inquiriu: “O que exatamente você
quer?”.
O que eu quero?,
Luana pensou. Todas as respostas que listou num primeiro momento pareceram ridiculamente
rasas, e se preocupou de novo em deixar a mulher esperando, mais uma vez.
Então, foi na ordem das mensagens.
“‘Tudo’ é
tudo o que precisar ser feito, tudo o que mandar eu fazer, tudo o que parecer
do seu agrado. Sem questionar”, Luana pontuou.
Era uma boa
resposta?
Talvez, porque
Sabrina não disse nada, e permaneceu on-line.
“Quero fazer
tudo direito, especialmente para te agradar, dona Sabrina, mas confesso que sou
novata nisso, e só por isso disse que ‘tentaria’. Mas sou esforçada, juro.
Quero fazer tudo direito, do jeito que espera que eu faça”, Luana continuou.
Os dedos
vacilaram antes da resposta final, e seus olhos acompanharam a mensagem ser digitada,
rapidamente. “Quero ser iniciada, não sei se é assim que fala... não conheço
nada e gostaria de conhecer. Adoraria ser sua submissa nessa minha iniciação,
se você me aceitar como sua escrava” foi sua mensagem derradeira.
“‘Senhora’”,
Sabrina ensinou.
“Se a senhora
me aceitar”, Luana se corrigiu, no mesmo momento.
“Tudo isso
com base em quê? Quais relatos chegaram até você?”, Sabrina quis saber, e
para Luana pareceu uma espécie de teste. Ou era só uma pergunta boba, porque
ela em realidade não tinha ouvido nada além do fato de que a mulher era uma
dominadora experiente na arte do BDSM.
“Nenhum
relato, senhora”, Luana afirmou, e precisou aguardar alguns segundos até
que Sabrina voltasse a digitar algo.
Clicou duas
vezes na tela do celular nesse meio-tempo, que quis desligar antes da
continuação daquela conversa, tão importante. O aparelho claramente não
compartilhava da ansiedade de Luana.
“Tenho a
agenda livre na próxima segunda e terça-feira. Verifique a sua disponibilidade”,
Sabrina disse, numa mensagem que pareceu bastante séria. Quase como se
estivesse um pouco impaciente.
Como assim?,
Luana pensou. Ela trabalharia na segunda e na terça, obviamente, e mesmo sendo
dali uma semana, não precisava de nada grandioso para fazê-la comparecer no
lugar que lhe remunerava por aquelas horas de trabalho.
“Estarei
disponível, senhora”, Luana disse, mesmo assim, bem rápida. Daria um jeito
de não trabalhar, faltaria, meteria um atestado falso, foda-se.
“E seu
trabalho?”, Sabrina quis saber, mas na sequência pareceu mudar de ideia, ou
de interesse, quando disse “Vamos precisar dos dois dias inteiros”, e
emendou uma terceira mensagem, em que dizia “Precisamos agora elaborar o seu
contrato”.
Contrato? Havia
um contrato?
Sabrina sabia
onde Luana trabalhava? O que mais saberia a seu respeito?
“Neste
contrato deve constar tudo o que você deseja, o que almeja, sendo minha escrava”,
Sabrina continuou, e em outra mensagem disse: “Quero que me entregue esta
lista ainda hoje, e eu te retorno como documento, com complementos e sugestões”.
Ao ler aquilo,
Luana imediatamente se sentiu contrair inteira, sem querer, numa latejada longa,
intensa e espontânea que a deixou toda molhada. Foi a primeira reação sincera
de seu corpo, agradado com a ideia de ser submissa de uma mulher.
Sempre quis ser
dominada, fantasiava com isso nas siriricas noturnas, mas nunca tinha pensado
exatamente nas coisas que gostaria de se ver sujeitada. O breve insinuar de
pensamento já a deixou com tesão.
“Se
estivermos de acordo, fechamos o contrato”, Sabrina finalizou, uma última
vibração do celular fazendo Luana voltar à realidade.
“Sim, senhora”,
respondeu, entrando ainda mais no clima de ser escrava de alguém. Percebeu que
isso também a excitava, embora seu lado racional ainda se recusasse um pouco a
respeitar esse tipo de hierarquia e o que viria com aquilo, como obedecer a
algumas ordens, que certamente estariam envolvidas naquele contrato.
Esperou Sabrina
ficar off-line para se desligar também, e puxou o bloco de anotações enquanto
ligava o notebook. Foi anotando as primeiras palavras que lhe vinham à mente:
APANHAR
SER HUMILHADA
PREGADORES NOS MAMILOS
CERA DE VELA
ALGEMAS
BONDAGE
Assim que o
computador ligou, desviou o olhar do resto em branco do papel, que parecia
quase lhe cobrar por mais anotações eróticas. Teve o cuidado de abrir uma guia
anônima do navegador para a primeira pesquisa. Na barra de buscas, digitou:
“contrato de submissão”.
Ignorou os
primeiros resultados, os anúncios, os sites direcionados, e clicou no penúltimo
link, lá no fim da página, que oferecia um “modelo de contrato de escravidão
consentida”. Que nome!, Luana pensou, abrindo o arquivo, dando um suspiro que
era um misto de expectativa e desejo, mas também envolvia uma cavalar dose de
receio.
Talvez tivesse
medo daquele mundo completamente desconhecido que começava a ter contato, desta
vez de maneira concreta (pela primeira vez, em toda a sua existência!). Mas
como o tesão era maior, foi em frente. Voltou a puxar o bloquinho enquanto seus
olhos deslizavam pela tela opaca, o conteúdo esquentando a região entre as
pernas, provocando um comichão que a fez levar a mão até ali sem nem mesmo
perceber. Com a mão direita, escreveu:
SEXO ANAL
XINGAMENTOS
TAPA NA CARA?
CÓCEGAS?
PETPLAY?
MORDAÇA?
Pegou o celular
distraída, quando viu o visor piscar, e deu uma risadinha ao ler a mensagem de
Sabrina. Dizia: “Me mande o que tem”, uma mensagem simples, curta e num
tom autoritário. Fazia só alguns minutos que Luana estava lendo sobre o que
colocar no contrato, mal tinha chegado na terceira página!
Ainda assim,
obedeceu, e tirou foto das palavras anotadas em sua letra escrita com tinta
azul.
“Alguma
alergia?”, Sabrina quis saber. “Medo de algo?”. As duas respostas de
Luana foram “Não”. Para se mostrar cooperativa, informou: “Já estou
bastante molhada, caso esse detalhe seja importante para a senhora”.
A resposta de Sabrina,
inesperada, na verdade foi uma pergunta: “Você está se tocando?”, e veio
seguida de outra mensagem, bem mais curta, que dizia apenas “Pare já”.
Luana só obedeceu de novo porque pareceu sensato, e excitante, mas seu corpo
reclamou a falta da carícia na mesma hora, a pélvis se elevando toda para cima
na cadeira, sem querer, como se possuída por vontades próprias, se rebelando pela
interrupção indesejada.
Estava se
tocando apenas por cima da calcinha, a esta altura só começando a ficar úmida
por fora, e era um gesto que poderia fazer facilmente pelos próximos minutos
sem que necessariamente gozasse por causa disso. A questão foi que parar tornou
aquilo um começo de tortura, que se intensificou quando chegou mais uma
mensagem de Sabrina.
“Se está
mesmo disposta a ser minha submissa, quero todo o seu tesão”, ela dizia,
numa mensagem quebrada em duas partes. “Então, sem masturbação até
segunda-feira”, o texto concluía.
Não!, Luana
disse, em voz alta, seu timbre em pânico ecoando pelo apartamento vazio. Sete
longos dias sem se aliviar na siririca, ciente da proximidade com o evento de
iniciação, seria uma tortura que ela talvez não aguentaria suportar.
“Não sei se
posso aceitar, senhora”, disse, e este foi o seu erro. Típico de
principiante, Luana aprenderia, na mensagem seguinte.
“Você não
está em posição de aceitar nada, que ousadia!”, dizia Sabrina, no texto
digitado. “Se tivesse ouvido o meu áudio mais cedo, saberia...”,
provoca, numa mensagem seguinte. “Inclusive, pela insubordinação e pelo
atrevimento de mais cedo, está de castigo. Vai ficar dois dias sem correr”,
Sabrina decretou, e aquilo pareceu realmente penoso, fazendo Luana levar a mão
à cabeça, estarrecida por ter que ler aquelas palavras.
“Por favor,
não, eu imploro. Assim eu vou explodir, senhora...”, respondeu,
tentando amolecer o coração de Sabrina, que não cedeu, e já mudou de assunto. “O
que são as interrogações na sua lista?”, quis saber, e só então Luana
lembrou que tinha enviado para a mulher a foto das anotações que não eram exatamente
para ser compartilhadas com ela. Mal, Luana!, pensou, virando os olhos.
“São...
possibilidades?”, respondeu, perguntando. A careta no rosto só se desfez
quando leu Sabrina dizendo “Certo”.
“Mas não
estou certa se são coisas que necessariamente eu gostaria de experimentar, caso
eu possa escolher”, Luana se apressou em escrever, embora ainda pensando se
era certo alegar isso. Se anotou é porque ao menos inconscientemente possuía
aquelas vontades.
A resposta de
Sabrina foi quase instantânea e beirava o didático. Dizia: “Estamos
elaborando nosso contrato, luana. Você precisa dizer as coisas porque eu não
tenho como adivinhar. Se não quer algo, não terá esse algo. Não importa o que
seja”. Parecia justo, e só por isso Luana sossegou. Mas voltou a se agitar,
agora de outra maneira, quando Sabrina mandou mais uma mensagem de texto.
“O que sentiu
quando determinei que ficaria uma semana sem se masturbar?”, ela queria
saber e Luana nem precisou pensar muito para enviar sua resposta: “Tesão,
senhora. Desespero, também, mas muito mais tesão”. Foi sincera!
“Ótimo”,
Sabrina respondeu, emendando com uma ordem que fez Luana se contorcer de
prazer. Dizia: “Quero que se ajoelhe. Agora”.
Luana dá uma rápida
olhada ao redor, se imaginando de repente ajoelhada no meio da casa, sem
motivo. Mas não questionou; sabia que seu papel era obedecer e agradar a
Sabrina, mesmo a distância, então se ajoelhou ao lado da cadeira em que estava
sentada, o dorso nu iluminado pela luz branca do computador.
“O que está vestindo?”, a mulher quis
saber, e Luana torceu para não decepcionar sua possível nova dona com a
simplicidade de sua resposta: estava apenas com o short do pijama. “Tire
tudo. Fique nua”, Sabrina ordenou, e aguardou pelo OK de Luana. “Agora
encoste o rosto no chão, empine a bunda e abra as pernas”.
Sabrina não
estava ali. Não tinha como vê-la ou conferir se Luana obedecia, de fato, às
suas ordens. Mas Luana sentiu um prazer imenso tomar conta de cada célula de
seu corpo ao fazer exatamente o que lhe fora ordenado, e ao abrir as pernas foi
além, e abriu um pouco a bunda com as duas mãos, como se a oferecesse. Sabrina
não estava ali, fisicamente, mas seu poder incontestavelmente já se
fazia presente.
O prazer em
obedecer foi tanto que Luana gemeu. Meio de quatro, meio de cócoras no chão do
seu quarto, estava nua e entregue a uma mulher que já exercia sobre ela um
poder descomunal, o que a fez gemer outras vezes, numa mescla de vontade, tesão
e frustração.
“Agora se
masturbe precisamente nesta posição” foi a ordem final de Sabrina, e
aquelas palavras eletrizaram todo o corpo de Luana, que se sentiu uma puta
devassa pronta para agradar à sua dona, envolvida numa volúpia quase inédita,
numa luxúria que fez seu sangue ferver antes mesmo que seu dedo tocasse na ponta
molhada e inchada do seu clitóris.
Apoiou o peso do
corpo sobre as pernas dobradas e passou a mão direita por detrás da coxa, a
lateral do rosto colado ao chão. A mão desocupada, perto da testa, ficou com os
nós dos dedos brancos quando Luana finalmente sentiu o alívio do primeiro toque
de sua mão vinda por trás, numa posição incomum, mas prazerosa, somado à
necessidade de intensificá-lo até gozar. Por isso deslizou os dedos por sua
buceta comprimida naquela posição escolhida por Sabrina.
Não se lembrava
de jamais ter sentido tanto tesão. Luana escorria, acocorada sem roupas e de
pernas abertas no chão, sentindo um toque que era seu, sabia, como tinha o
conhecimento também de que, ainda assim, era um toque comandado por aquela que
já era a dona do seu tesão. E isso foi o que a fez gozar.
Os dedos, ágeis
e molhados, só encerraram aquelas carícias 12 minutos depois do início, quando
Luana já estava com os dedos dos pés dormentes e as pernas doendo de tanto ficar
naquela posição, mas satisfeita com a sensação de bem-estar, que a fez rir
sozinha. Seu corpo todo tremia em espasmos orgásticos que a fizeram querer
repetir tudo aquilo para sua dona, para que Sabrina visse de perto o espetáculo
que era dela, afinal.
Quis agradecer
por aquilo, por aquele prazer genuíno que a fez se sentir tão leve. Ao pegar o
celular, ainda trôpega, viu seu contrato anexado à mensagem.
CONTRATO
DE SUBMISSÃO
Este contrato, firmado no dia 21 de dezembro
de 2021, foi elaborado e selado por livre vontade e em comum acordo entre
Sabrina (Dominadora) e Luana (submissa), e prevê alguns termos e condições para
a prática de BDSM, com a iniciação da submissa, assim nomeada daqui por diante.
A sessão tem data prevista para a próxima semana, especificamente na segunda e
terça-feira, dias 27 e 28 de dezembro, respectivamente.
Disposições
preliminares
Fica firmado o seguinte acordo entre Dominadora
e submissa:
I) Durante todo o período da prática de
BDSM, que visa à disciplina, treinamento e adestramento da submissa, esta concorda
em renunciar integralmente à condição de mulher livre, se tornando propriedade exclusiva
da Dominadora. Isso significa que, ao se tornar posse da Dominadora, a submissa
abre mão de sua individualidade, que passa a ser comandada pela Dominadora,
conforme as suas próprias necessidades e desejos, sem a obrigatoriedade de
justificar seus atos ou gestos, em nenhum momento. Este poder da Dominadora
sobre a submissa se estende para além da questão sexual, e engloba igualmente
as permissões para a submissa se alimentar, ir ao banheiro e dormir, entre
outros.
Item
Complementar I
Como propriedade da
Dominadora, a submissa está inteiramente ciente de que será abusada e castigada,
desejada e desprezada, preterida e usada, ao bel prazer da Dominadora, sem nenhum
direito de reclamar e sem o poder de interferir na prática, de nenhuma forma,
se comprometendo sempre com sua total entrega e dedicação. Deve, para tanto,
saber aceitar a tudo sem resistência, com a possibilidade de ser castigada
física e psicologicamente, ainda que considere não merecer ou não tenha a
inteira compreensão imediata da punição recebida. A submissa se propõe, desta
maneira, a não apenas acatar, mas igualmente oferecer seu corpo ao castigo, sem
nenhum tipo de hesitação ou ressalva.
II) Uma vez firmado este acordo, a
Dominadora imediatamente reconhece o status da submissa como sua, a tomando
para si e impondo sobre a escrava, incluindo seu corpo e suas vontades, a sua
própria vontade em benefício do seu próprio corpo. As técnicas de disciplina,
assim como os castigos e demais itens de BDSM relacionados à iniciação da
submissa, são de inteira responsabilidade da Dominadora.
Sobre
a submissão
III) É esperado da
submissa um comportamento sempre reservado e discreto, atuando de maneira
comportada e lasciva, dependendo da vontade de Dominadora, que pode indicar a
mudança de comportamento que deseja da submissa apenas com um olhar, que deve
ser imediatamente compreendido e aceito pela submissa.
IV) A submissa deve, sempre que possível e for permitido, demonstrar prazer por receber e cumprir às ordens a ela impostas, e em se
submeter a todas as vontades e gostos de sua dona.
Item
Complementar II
A relação Dominadora x submissa prevê a aceitação
do comportamento brat durante toda a prática, dentro de limites que
apenas a Dominadora reconhece e estabelece. As provocações, porém, por parte da
submissa, embora aceitas e previstas em contrato, estão sujeitas a punições,
caso a Dominadora julgue pertinente, não restando à submissa quaisquer
possibilidades de reclamação durante ou após as punições, caso existam.
Sobre
a prática
V) Uma vez tendo a submissa como sua, a
Dominadora tem o dever de zelar por sua vida e integridade física, inclusive se
comprometendo a não deixar marcas em locais visíveis, ou a expondo a
constrangimentos que não tenham sido previamente acordados.
VI) A submissa, por sua vez, tem o
dever de atender a toda e qualquer ordem ou comando que lhe seja dado pela
Dominadora, sem questionar ou desacatar de alguma forma, unicamente no intuito
de obedecer às vontades que não necessariamente precisa conhecer, dominar ou
aceitar. Seu papel é única e exclusivamente agradar à sua dona, não importa de
que maneira, sempre no intuito de surpreendê-la, a fazendo elevar suas
expectativas com relação ao seu desempenho como escrava e posse.
Punições
e recompensas
VII) Este acordo prevê que, sempre que
necessário, diante de alguma infração, impertinência, ou mesmo apenas segundo a
vontade da Dominadora, estará a submissa sujeita a receber castigos físicos, em
situações em que somente a Dominadora será exclusivamente a juíza e a carrasca,
decidindo o tipo de punição, o local a ser aplicado e o tempo de duração.
Da mesma forma, recompensas poderão ser
dadas conforme o bom comportamento da submissa, sempre segundo os critérios
unicamente estabelecidos pela Dominadora.
VIII) As punições da disciplina
restritiva aplicada pela Dominadora podem ser de maneira física ou psicológica,
incluindo o uso de objetos ou tortura, e se iniciarão sempre de maneira
escalonada, com aumento gradual de intensidade, como parte da iniciação. Para o
caso de castigos corporais poderão ser utilizados, além da palmada, objetos
como chicotes, cintos, palmatórias e demais itens relacionados, inclusive
plugs, consolos e vibradores.
IX) Este contrato prevê a execução de
itens indicados pela submissa, e aceitos e validados pela Dominadora, julgados
pertinentes e apropriados para a sua iniciação. Inclui, em ordem alfabética:
bondage (com cordas, algemas, etc.), prendedores no mamilo, sexo anal e
vaginal, com possibilidade de dupla penetração, surras, velas e xingamentos.
Situações não listadas neste contrato, porém relacionadas às especificadas,
terão aceitação imediata por parte da submissa.
X) A
submissa só terá o direito de retomar a sua individualidade após o término da
prática de iniciação de BDSM, e mediante autorização expressa da Dominante, que
decidirá pela continuação, ou não, dos serviços prestados pela submissa.
Por
fim, fica escolhida como palavra de segurança “caribu”, escolhida pela submissa
antes da assinatura do presente termo. O gesto de segurança, em caso de estar
amordaçada, será composto por dois estalos de dedo.
Nada
mais a ser acrescido, duas vias deste contrato serão assinadas e servirão como
documento de anuência à referida prática de iniciação ao BDSM, não cabendo à
submissa qualquer tipo de contestação posterior.
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