Reticências...
Eu tenho uma agonia de quem usa reticências... Sério, me dá
uma raiva, uma gastura, um incômodo de quem enfia três pontinhos no meio de uma
frase escrita... Parece que está com preguiça... parece que está com descaso...
parece que está tudo muitas vezes de maneira contrária ao que o abençoado ser
quis falar... Diferente de tudo o que o infeliz quis dizer... Me irritando pura
e simplesmente porque a pessoa não sabe usar...
Quando menos espero, vejo lá o sinal gráfico capaz de me
fazer revirar os olhos e suspirar alto e profundamente... Porque não é só sobre
os três pontinhos... É sobre o que eles representam... é sobre quem os digita
como quem deixa um fiapo de veneno escorrer no final da frase... É a dúvida
fingindo que é gentileza... É a passivo-agressividade desfilando de salto alto...
Para mim, reticência é uma insinuação... é um recado velado...
um desaforo disfarçado de intervalo... É a frase que continua sem coragem, como
se no fundo estivesse travestida de pilantragem e dissesse: “não vou falar
tudo, mas você entendeu”... E aí é que mora o perigo, porque eu entendo – e
entendo até demais... Entendo a intenção mal disfarçada, o julgamento se
passando por dúvida, a má vontade fantasiada de hesitação...
Eu, que amo uma vírgula bem colocada, um ponto final firme,
um parêntese espirituoso, um travessão enviesado, me vejo travando batalhas
diárias contra esse trio maligno, infiltrado nas frases como quem não quer nada
e ao mesmo tempo quer tudo... Quer gerar dúvida, ruído, mal-estar... E
consegue...
Não sou contra a reticência, veja bem... Só acho que, como
todo tempero forte, deve ser usada com bastante critério e muita parcimônia...
Um pouco, transforma o sabor; demais, estraga o prato...
E antes que alguém me responda com um “entendi...”, já deixo
claro: entendeu foi nada... Porque quem entendeu mesmo, sabe que reticência não
é pausa; é pancada...