Pelo ralo


Como é desgastante a tal da vida adulta! Simplesmente cada hora surge uma dor de cabeça diferente, que não se restringe apenas aos problemas físicos, embora estes sejam bastante numerosos e dolorosos também. E que bastariam, porque como já observado anteriormente, depois dos 40 anos o corpo mete marcha rumo a um destino incerto que ora faz doer as costas, ora os joelhos, quando não dói tudo junto, inclusive pontos que nunca doeram antes e que você nem imaginava serem possíveis de sentir.
Mas aparentemente não somos poupadas de absolutamente nada depois que viramos “gente grande” (entre aspas porque tenho baixa estatura). Então tome-lhe dor e desespero com as situações mais típicas e corriqueiras do dia a dia (sem entrar no mérito da saúde – ou da falta dela. Vou deixar de fora desta crônica mazelas como dengue e covid, que foram os últimos caminhões que me atropelaram nessa BR). Me refiro, por exemplo, a um defeito no carro que te faz deixar os rins na oficina do mecânico, ou um problema nos dentes que te obriga a largar o fígado na cadeira do dentista. A bola da vez por aqui (nesta semana, que fique claro) é a caixa de gordura da minha cozinha, que entupiu e me fez chorar por um desconto para alguém que literalmente enfiou a mão numa água podre só para desentupir um cano fino. No final, pedi desculpas para o moço que tem um trabalho horroroso e ainda me senti mal por reclamar às vezes da labuta que eu tenho que enfrentar, muito mais perfumada que o cotidiano dele.
Sim, minhas senhoras, caixa de gordura é aquele tipo de bomba-relógio silenciosa, cujo tic-tac é uma água fedida que transborda quando você menos imagina. Quando está, sei lá, lavando louça, como foi o meu caso. E se assim como eu você também mora em prédio, sabe que problemas desse tipo não se restringem ao seu apartamento, apenas. Não, a algazarra é coletiva, envolve mais gente do condomínio, tipo o meu vizinho de baixo, que passou a ter goteira no banheiro por causa do entupimento na minha cozinha. Reclamei de pagar 800 pancadas divididas em quatro vezes no cartão de crédito? Reclamei. Mas certamente reclamaria muito mais se fosse o meu banheiro a estar interditado. Ainda que isso saísse totalmente de graça.
Hoje aprendi que devemos limpar a caixa de gordura a cada seis meses, no máximo uma vez por ano. Aprendi que as empresas especializadas cobram por metro e descobri que a minha caixa de gordura é imensa, tem 11 metros, no total. Também aprendi que muitas vezes você faz planos e traça metas com dinheiros imaginários que acabam sendo gastos com coisas que você nem queria (isso é de lei). E, para finalizar, aprendi também que certos reparos e manutenções são integralmente por sua conta, ainda que você seja inquilina e não a proprietária do imóvel em que vive.
É desgastante, como eu disse. Cada dia é um novo aprendizado, sempre à força, e que muitas vezes vem na forma de um braço inteiro socado dentro do seu cu. Não tem para onde fugir, não há para onde correr. É “engolir o choro” e tocar a vida; pagar o prejuízo do dia e se preparar para o gasto de amanhã. Que virá! Afinal, os boletos sempre vencem.

Essa crônica pode ser ouvida: ouça caribu.


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