genocida indiciado

 Aconteceu. Em muitos momentos, é bastante desgastante e cansativo vivenciar a História, com todas as voltas e reviravoltas que só quem vive, sabe, mas ao mesmo tempo é muito prazeroso acompanhar em tempo real a virada de um capítulo, ou melhor, o começo de uma nova seção (porque talvez o capítulo em questão ainda não tenha acabado... não sei como o roteirista da Terra divide as próprias ideias). Às vezes eu me sinto como se estivesse assistindo uma espécie de filme em 4D num tipo de cinema ultrarrealista, cuja trama leva em conta também o peso de um passado não tão recente, que finalmente tem os seus refrescos. Os nossos refrescos: o genocida finalmente foi indiciado. É o último passo rumo à prisão!

Com certeza vou voltar a falar disso quando ele enfim estiver atrás das grades, certamente para cumprir uma pena merecidamente longa (afinal, são muitos crimes, o indiciamento de ontem é só do primeiro analisado pela PGR), mas isso não me impede de comemorar cada progresso dessa história triste de um desgoverno comandado por um genocida convidado de Super Pop. O indiciamento dele evoca tanta coisa, tantas dores vividas na pandemia que foi ainda mais difícil por causa da inércia desse criminoso que além de tudo ainda tentou dar um golpe de Estado no final de sua desastrosa (des)administração. Meu coração se comprime toda vez que penso o quão perto passamos de nos foder – ainda mais, de um jeito ainda pior, terminativo para muitas de nós, inclusive eu, que tenho alma de guerrilheira, sou chamada de subversiva desde a infância.  

Mas este é justamente aquele ponto que os livros na escola mostram. Porque nem tudo o que vem antes é necessariamente relevante para fins de registro, apenas o começo, o meio e o fim. O recheio, vivido por cada uma de nós no dia a dia, importa é para a gente mesmo, que vive a História sob a ótica típica de uma formiga; vivendo no micro o que lá na frente vão estudar no macro. E no final (da nossa história, com H minúsculo), esses detalhes históricos vão estar mais ou menos armazenados junto de outras lembranças irrelevantes, como uma letra de É o Tchan!, a receita do chocolate Chokito, ou algo do tipo.

Então vamos comemorar porque o momento é literal e absolutamente histórico (é o meio dessa história, talvez?). Ontem quando eu soube, só não abri na hora uma cerveja para brindar porque, sabe como é, quase nove da noite, eu já estava deitada, pronta para minhas atividades noturnas antes de dormir (que consistem em fumar e saborear um capuccino, na frente do ventilador nesses tempos de desastre climático que também somos obrigadas a registrar na pele). Jamais que vou reclamar de algo relacionado a isso, mas terça-feira é foda, começo de semana, deu nem para chapar, e agora nem posso me alongar, também por motivos de capitalismo. Mas sábado pretendo comemorar, assim que terminar a corrida de seis quilômetros aqui no centro da cidade que eu vou participar. Corrida noturna, clima perfeito. Tintim!


Essa crônica pode ser ouvida: ouça caribu.


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