Louça limpa, mente organizada
Hoje preguei uma peça em mim mesma: me surpreendi e lavei toda a louça em horário atípico, fora do usual. Agora entro na cozinha e fico feliz com a minha versão do passado, tão comprometida com o bem-estar do meu eu do futuro (que presente!).
Sem dúvida alguma as atividades mais chatas da vida adulta têm relação com os serviços de casa. É maçante demais ser obrigada a ter que sempre repetir ações como varrer, limpar, lavar, guardar... esfregar, lustrar, arear... limpar de novo, lavar mais uma vez, organizar novamente, voltar a ajeitar, arrumar, ordenar... Enfim, são horas dedicadas a uma limpeza que simplesmente não tem fim e que vai ter que ser refeita amanhã mais uma vez, e depois de novo, e de novo, e de novo, até o infinito dos nossos dias. Porque não importa a sua profissão; você também tem a obrigação de ser dona de casa e ponto final.
E morar sozinha, embora tenha muitas, muitas vantagens e variadas benesses, tem também a parte ruim que é não ter com quem dividir a louça suja, ou alguém para responsabilizar pela eventual sujeira acumulada. Só você suja, é fato, mas só você limpa também. E se chorar, meu bem, ninguém não está nem aí para o teu sofrimento, não há nem mesmo quem te ouça lamuriar.
Em geral, lavo a louça no fim do dia. Quer dizer, eu, a personalidade dominante do momento, porque a depender de quem está no comando o horário é outro ou até mesmo nem há (quando vou para a lona, por exemplo, passo dias sem entrar lá, como se a cozinha fosse larva e eu não pudesse sequer pisar). Mas nos últimos dias, tem acontecido de eu me encontrar com a bucha e o detergente lá da pia quando o dia já está prestes a acabar, depois que trabalhei, fiz meus afazeres e já estou pronta, no esqueminha para deitar.
Porém, devo dizer que só lavo porque sou obrigada e porque fico triste quando acordo no dia seguinte e, ainda sonolenta, tenho que encarar a sujeira acumulada no dia anterior. Sinceramente, nem me ligo em ameaças como aquela feita pela Márcia Sensitiva, que diz que à noite os espíritos vêm lamber seus pratos sujos e as panelas engorduradas. Não. Eu lavo só para me alegrar após algumas poucas horas de sono curto e inquieto. Ou melhor, lavo só para não me deixar triste na manhã seguinte.
Quando acordo e me deparo com tudo livre de sujeira, o dia pode até se transformar numa grande e bela merda, mas pelo menos a cozinha está em dia. Agora, quando eventualmente enrolo e adio para o dia seguinte aquilo que poderia ter sido lavado ontem, o dia pode até ser o melhor dos mundos, mas ainda assim a pia vai permanecer imunda, o que ofusca qualquer tipo de paz mental. Ninguém é feliz com louça suja, é o que quero dizer.
Aí hoje decidi me fazer esse agrado surpresa, totalmente inesperado. Voltei da academia toda trabalhada na cortisona, com a cara cheia de endorfina, e depois de tomar (outro) café, fui lá e nem pensei direito: lavei toda a louça, incluindo a frigideira que estava há dias escondida dentro do fogão. Isso me poupou do estresse de ter que passar as últimas horas me lamentando pela espuma não derramada e agora me dá o privilégio de não ter absolutamente mais nada para lavar, até amanhã. A não ser o que eu ainda vou sujar, é claro.
De coração, eu gostaria de ser mais organizada, daquele tipo de pessoa que “sujou, lavou”, mas infelizmente esse tipo de evolução vai ter que ficar para a próxima encarnação. Nesta vida, ainda estou no processo de comemorar as pequenas conquistas, como meus garfos limpos dentro da rotina do meu lar e mais ainda aqueles asseados fora da minha programação normal.
Hoje, estou feliz por ter lavado a minha louça de manhã e isso ter me livrado desse trabalho agora à tarde. E esta crônica foi escrita só para eu poder falar sobre isso.
Essa crônica pode ser ouvida: ouça caribu.
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