Violinista com acordes de palavras
Não gosto de ser pessimista, detesto ser aquela que anuncia terríveis notícias
nas piores horas, mas não podemos fugir do óbvio: o mundo está acabando. Tá,
pode não ser um “acabando” como se vê nos filmes, com aqueles fins
catastróficos, aquelas cenas terríveis, com geral sofrendo, cachorro morrendo, mas
com certeza é o final de um modelo que conhecemos e que às nossas vistas está se
transformando, dia após dia. Então, não deixa de ser um fim; isso só não
significa que vai todo mundo morrer. Ou vai?
O El Niño diz que vem com tudo nessa estação, mas sempre dizem isso, e ao
mesmo tempo que sempre é verdade, ainda que fosse mentira, contestar só me
faria parecer com os internautas que comentam nas notícias aqui da minha
cidade, lá no Instagram (no caso, eles se parecem com aqueles comentaristas comentadores
do Portal Terra, do começo dos anos 2010, puro ódio, negacionistas raiz). E dessa
vez nem tem como negar, né, olha esse calor que está fazendo! O verão ainda não
chegou!
Esses dias vi na internet um gráfico simulando a onda de calor violenta
provocado por esse fenômeno climático de nome fofinho e o inferno abraça
praticamente o Brasil inteiro, mas acho que até quem fica nas rebarbas sente os
efeitos, não é possível... A gente tem a tendência a achar que tudo é muito
grande, mas em realidade nem é.
Lembro que a primeira vez recente que percebi a proximidade de tudo foi
quando num belo dia acordei e me deparei com a vida mergulhada num tipo de
filtro de rede social. Sério, a vista estava toda meio rosé, num clima meio
blasé e eu fico triste quando lembro que o meu primeiro pensamento ao ver
aquilo foi “que bonito!” (mais ou menos o que devem ter pensado as pessoas que tiveram
contato com o césio 137 lá em Goiânia. A gente custa a perceber que nem tudo o
que reluz é ouro!). O “filtro” em questão era fumaça, vinda da Amazônia, naquela
época que o fogo castigou mais a floresta e queimou boa parte de tudo. E essa
fumaça foi tão forte e tão densa que “tampou” o sol aqui.
E aí, quem diria, a gente fica tão focada no roteirista do Brasil (que
bem ou mal nos entretém, porque tem umas sacadas boas, eventualmente surge com uns
plot twist inesperados), mas esquece que tem alguém escrevendo a
história do mundo, nos usando de personagens para experimentos de gosto bastante
duvidoso, como se o país fosse só um núcleo da história, uma parte do todo,
como de fato é. Inacreditavelmente, depois que passamos mais de três anos de
pandemia, o mundo começa a se transformar e nem é de um jeito legal, que nem
aquela ilha que se formou lá no Japão, com a erupção de um vulcão. Não, a gente
está é ruindo e eu ainda fico com a impressão de
que quem escreve tudo isso nem está se importando de “amarrar” as coisa tudo
porque provavelmente não vai ter ninguém para ler depois, então, é meio que “foda-se”.
Acaba tudo, queima o mundo e nois aqui... passando calor na frente do
ventilador que sopra um vento ardente, tomando banho quente mesmo com o
chuveiro desligado.
Meu drama nesse verão antecipado de fim do mundo é grudar na cadeira. Gruda
as pernas, gruda os braços, aí o suor escorre no meio das costas, deságua pela
barriga... quando finalmente encontro uma posição minimamente confortável,
sentada em cima de uma fronha, encostada na camiseta que me vejo obrigada a
tirar, minha colega de quarto sem raça definida pede comida (Nami tá sempre com
fome). Ou então ela incensa a casa toda lá do banheiro. Aí a pouca concentração
que me resta, se esvai, porque a pressão cai, o tempo seco me deixa abafada,
não vou dizer que parece que vou morrer porque quem vai morrer não se preocupa
tanto em desgrudar de uma cadeira que molha, mas com certeza eu não fico no meu
normal.
Hoje mesmo comecei a trabalhar super
cedo. Já sabia que levaria o dia todo, o trabalho do dia é um serviço que
sempre me toma mesmo um dia inteiro da minha vida, é todo cheio de detalhe,
bagulho tem que fazer com atenção... Nunca demorei tanto para terminar. E vou
te dizer que terminei rastejando. Pior: terminei grudando na cadeira. Tanto que
me vi impelida a escrever.
Sou a moça que digita, uma narradora dos fatos, além de contadora de
histórias, e vou tocar meu violino até esse navio terminar de naufragar.
Voltamos em breve com mais novidades.
Essa crônica pode ser ouvida: ouça caribu.
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