Sobre crises, aprendizados e ansiedades

Esses dias, cometi um erro no trabalho. Acontece, né, sou humana, às vezes passa alguma coisinha ou outra, o que eu posso fazer? Bom, posso ter mais atenção, é claro, redobrar o cuidado na próxima, com certeza, e nas horas vagas, me punir. Sim, porque essa parece ser a regra dentro da minha cabeça: me chutar até cansar, mesmo que eu já esteja caída no chão (principalmente nessas horas, porque sou aquele tipo de vilã bem cruel, ardilosa).

Meu trabalho é um dos meus maiores gatilhos para ansiedade; seja quando tenho muita coisa para fazer, seja quando não tenho nada (e esses são sempre os piores casos). Eu acredito, juro, que faço um bom serviço, que entrego bons resultados, tanto que tem cliente que está comigo desde que abri a firma, em 2017. Considerando que quase 25% das empresas fecham antes de completar dois anos, e que passados quatro anos essa porcentagem sobe para 50%... se ainda estou de portas abertas, passados mais de seis anos, algum indício isso deve indicar, né?

Não, não quero te convencer de absolutamente nada. Às vezes falo essas coisas para me convencer, relaxa. Porque pego muito pesado comigo e adoro me dizer que deveria mudar de emprego, mesmo gostando tanto de ter uma rotina solitária, labutando de pijama. Quando não estou me criticando, tem hora que até reforço para mim mesma, porque tem uns detalhes que parece que adoro esquecer, que enfrentei uma pandemia sozinha (então não são “só” seis anos de funcionamento, embora o tempo tenha se distorcido de outra maneira por causa da Covid). Matei no peito, sabe?, meti as caras. Quase fui à falência, é verdade, mas resisti. Precisei de ajuda, de auxílio, de socorro, de dinheiro emprestado, de terapia, tive até que começar a correr para não enlouquecer, mas consegui. Tanto que estou aqui, falando que esses dias comi bola e passei mais de uma semana me sentindo mal por isso.

A minha rotina exige de mim bastante atenção. São detalhes que corrijo nos textos, que fazem toda a diferença. Inclusive, se eu não consertar, esses detalhes gritam, berram, esperneiam (ou eu é que faço tudo isso mentalmente, mas atribuo aos jobs). E honestamente acredito que o maior problema de trabalhar por conta é justamente essa impossibilidade de terceirizar a culpa (sem entrar no importante mérito de não ter um salário fixo garantido, claro, porque isso é outro assunto, cabe em outra crônica). O fato é que quando um erro passa despercebido, não tem ninguém que eu possa cobrar porque fui eu quem deixou o erro passar. E no mesmo sentido, ninguém me consola nessas horas, principalmente eu mesma (nossa, a começar por mim mesma! Na verdade eu sou a última pessoa a me oferecer uma palavrinha de otimismo que seja).

Então, além de ansiosa, o trabalho também me deixa insegura. Para você ter uma ideia, tenho um cliente que até cobro mais caro, só para poder revisar o texto dele duas vezes, porque ler só uma parecia pouco, depois eu tentava dormir e não conseguia, acordava no meio da noite me perguntando se uma determinada vírgula estava certa ou não. Loucura, maluquice...

Aí, semana passada, vacilei. Sinceramente, até agora ainda não entendi o que foi que rolou, não sei onde eu estava com a cabeça para conseguir errar duas vezes (porque primeiro caguei e depois não consertei o que errei). A cliente obviamente reclamou. Chato, né?, bagulho foi impresso errado... Pedi desculpa, mandei emoji de coraçãozinho cortado, garanti que tomaria mais cuidado, mas não adiantou: no mesmo minuto comecei a me açoitar com um chicote mental afiadíssimo, que me cortou em várias tiras de lá para cá.

Para piorar, eu tenho com essa cliente um contrato “fixo”, que a gente renova a cada dez meses. Isso acontece desde 2018, paramos dois anos por causa da pandemia, e desde que retomamos, já foram feitas duas renovações. Na segunda, via licitação, tive que abaixar meu valor para não perder o serviço em R$ 200.

E nessa última semana, que fiquei me condenando por causa do erro, cheguei ao ponto de me convencer de que este já era até um trabalho perdido. Afinal, meu contrato vence em fevereiro, a época de renovar é mais ou menos essa, porque lá tem um milhão de burocracias envolvidas, e na minha cabeça a mulher estava decepcionada comigo ao ponto de nem querer mais meus serviços. Detalhe: esse foi o meu primeiro erro, desde 2018.

Para ser sincera, eu nem pretendia abordar isso. Minha ideia era escrever uma crônica falando da minha primeira semana com 41 anos, já que meu aniversário foi por esses dias. Mas eis que hoje resolvi mandar uma mensagem para a tal cliente porque, né, último dia do mês e eu ainda não tinha recebido o pagamento (sendo que a nota fiscal foi emitida no dia 1º). Enrolei até hoje para entrar em contato com ela por motivos de me sentir constrangida.

Conversa vai, conversa vem, ela me ofereceu de renovar o contrato “por fora” (sem licitação, sem concorrência, sem nada) e por R$ 200 a mais do que estou ganhando hoje. No final da conversa, a transferência caiu na minha conta, porque o pagamento já estava previsto para hoje mesmo. Ou seja, sofri à toa. E não foi pouco, vai por mim!

Quisera eu encerrar essa conversa falando que aprendi a lição. Que na próxima não vou surtar, nem imaginar os piores cenários só porque me sinto acuada e com medo. Mas infelizmente (ou felizmente, porque assim não crio nenhuma expectativa, nem me frustro), me conheço há muito tempo, são vários anos lidando com isso tudo que eu represento. Então sei que da próxima vez eu vou surtar de novo, me desgastar novamente, para no final as coisas acontecerem de um jeito muito melhor do que o meu pessimismo me permitiu ver. Mas uma coisa eu te digo: vou me esforçar para pelo menos me lembrar que não é porque uma vez deu tudo errado que para sempre tudo vai desandar. 

No fim, espero que isso vire um aprendizado. 


Essa crônica pode ser ouvida: ouça caribu.


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