Tempos modernos (?)

 

Hoje quero compartilhar com você uma dificuldade muito grande que enfrento nesta vida, que é de não julgar tudo o que vejo, o que obviamente inclui as pessoas e o que elas fazem. Essas atitudes podem ser esquisitas ou não, não importa, eu vou julgar de toda forma e isso não é bom, segundo as crenças que dizem que, para evoluir, a gente tem que amar os próximos do jeitinho que eles são.

Não sei você, mas eu almejo nesta minha existência avançar um passo que seja em direção ao meu progresso porque me incomodo bastante quando observo o mundo à minha volta e não gosto de praticamente nada do que vejo. Falar isso faz com que eu pareça um ser superior, o que está muito longe de ser verdade, e é nessas horas que entendo o porquê de estar aqui. Existe uma coisa maluca chamada “lei da atração”, que me mantém praticamente em sintonia com tudo, por pura afinidade. Saber disso assusta, porque o choque da imperfeição é como um tapão na minha fuça, mas também é bom porque me faz “baixar a bolinha” e de certa forma permite que eu seja crítica, e julgue, e agora fale a respeito. Peço perdão desde já pela minha maledicência. Ou não.

Nos últimos anos parece que houve um despertar macabro que fez sair das catacumbas e das sombras os piores tipos de gente – se é que podemos classificá-los assim. Infelizmente, isso não é um privilégio do Brasil, porque essa maldição é global, embora em solo nacional a metástase seja mais fedorenta porque está mais perto do nosso nariz.

Durante um tempo eu procurei explicações e teorias que pudessem apontar o porquê de tanta ruindade, tanta maldade e tanto egoísmo, carregado de preconceitos de todos os tipos, e uma analogia que me consolou foi imaginar que o mundo estaria passando por uma espécie de limpeza. Imagina só, quando você limpa um armário empoeirado, por exemplo, para tirar a sujeira e as teias de aranha, antes é preciso retirar tudo de dentro e isso inclui os produtos vencidos, mofados, estragados. Fez um pouco de sentido pensar assim, mas rapidamente já pareceu um pensamento muito pobre quando comparado à aspereza da realidade. As notícias, que vêm a galopes em tempos de internet, se sobrepõem e me assombram numa rapidez tamanha. Tanta que nem sempre consigo assimilar, o que me faz crer que estamos é vivendo em meio ao caos.

O que acontece é que, sei lá se por conta da proximidade com a Era de Aquário ou não, as máscaras caíram. Não é porque de repente essas pessoas surgiram, porque elas sempre existiram, só que se escondiam. Ou tinham vergonha de assumir a sua verdadeira face, quem elas realmente eram. E é bom que a gente saiba quem é quem. É importante reconhecer o seu vizinho, um colega de trabalho, um antigo amigo de escola e principalmente um parente. Porque se existe uma separação entre “eles” e “nós” é porque a gente já foi excluída e é fundamental saber quem está do outro lado da trincheira, e quem está do seu lado. Não é uma “guerra ideológica”, como eles gostam de dizer. Está mais para uma “batalha moral”, mesmo.

Aí fica muito difícil acreditar que estamos evoluindo, nós, sociedade, quando todos os dias somos confrontadas com atitudes tão mesquinhas, tão soberbas e tão ridículas, para não falar daquelas que são criminosas, mesmo. E a dificuldade é também pessoal, quando o choque da realidade me faz julgar. E na minha cabeça eu depeno tudo sem dó.

Essa semana mesmo o mundo todo acompanhou a estupidez dos bilionários que foram ver os destroços do Titanic dentro de uma lata de sardinha, sem portas ou janelas, comandada por um controle remoto de videogame. Cada um dos cinco imbecis pagou 250 mil dólares para morrer, o que equivale a pouco mais de um milhão de janjos. Muita grana que poderia ser investida em outras frentes, por exemplo, as humanitárias.

Tem muita gente nesse momento passando pela desgraça da fome, que corrói o estômago e a dignidade de famílias inteiras, esmagando sonhos num tempo em que se fala em “meritocracia”, em “esforço e recompensa” ilusórios, diante de disputas injustas e desiguais. Como poderíamos estar avançando se ainda há pessoas que não conseguem comer todos os dias, quando ainda há tantos literalmente morrendo de frio tão perto de nós? Que desenvolvimento é esse, que cria ilhas de plástico, de lixo, no meio de um oceano que engole bilionários que não entendem nem o básico de física? Um claro sinal de que estamos mal é que hoje estamos discutindo o possível duelo entre o Zuckerberg e o Elon Musk, em vez de nos debruçarmos em cima de assuntos realmente sérios (a propósito, torço pela rinha).

Se existe uma limpeza de fato, esta com certeza é uma faxina que vai durar bastante tempo, porque tem muito para ser colocado em seu devido lugar, o que não falta é sujidade e impureza. Enquanto isso, que a Deusa me ajude a manter a serenidade e um limite saudável de informações diárias, que tanto me desequilibram, amém.

 

Essa crônica pode ser ouvida: ouça caribu.


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