Problema de escrita

 

Ultimamente ando com problema de escrita. Não chega a ser tão chato quanto uma dor de cabeça, nem tão incômodo quanto uma cólica menstrual, mas é desagradável o suficiente para me chatear. Contabilizo já vários dias de frustração, diversas e (in)colecionáveis horas sentada de frente para uma tela em branco, com um cursor piscando, me cobrando, numa cena que traduz bem como eu me sinto por dentro. Só que sem mouse – e aparentemente, sem teclado também.

Bloqueio criativo para quem vive de ideias parece até um castigo. Porque nessas horas não há ponteiro que faça a hora passar, não tem um comprimido que se possa tomar, ou injeção (detesto, mas até aceitaria, se por acaso fosse a solução). Mas não, é isso aí e pronto, não dá para regar. Nem adubar. Ou dá?

Eu fico aqui sentada, me sentindo mergulhada num vazio sem boia. Atirando pedrinhas num horizonte imaginário e sem eco. Sozinha, sem poder voar. É terrível, inclusive porque não tem nenhuma corrente me prendendo, ou gaiola. Sou apenas eu no País das Maravilhas criando com a minha mente uma espécie de jaula. Que não chega a ser uma prisão... mas consegue ser pior.

E quem é que se cobra em momentos assim? Não existe um Procon, um órgão de reclamação, não existe nada além de mim. E vou me cobrar de que, se eu sou refém também?

Onde se mata a sede quando a fonte seca? Onde acende a luz de um labirinto? Como se desvenda um enigma indecifrável? Como se derruba um muro literário?

Sigo questionando, juro que estou me esforçando, em breve volto logo.

 

Essa crônica pode ser ouvida: ouça caribu.


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