Fevereirando

 

Eis que 2023 chegou daquele jeito: com um janeiro que durou 777 dias e 48 noites. Para o alívio de muitas, a começar por mim, com muito custo superamos a barreira do tempo e espaço e finalmente chegamos a fevereiro. Espero que todas estejam devidamente sãs e salvas!

Há muitos anos que não sou mais do tipo que vende a força de trabalho para um patrão, um terceiro. Tenho sorte, já faz tempo que basicamente só me visto com pijama e não preciso fazer média com colega, ou fingir que estou trabalhando, quando só estou matando tempo. Ontem mesmo decidi encerrar o expediente eram umas três da tarde. Ainda assim, isso não significa que eu não espere também dias específicos do mês para receber valores que, somados, constituem o meu salário. E como muitas brasileiras, amarguei um janeiro comprido, almejando a tão sonhada virada do mês.

Aí fevereiro chegou, depois de uma noite quente e muito mal dormida. Já faz dias que não durmo direito e para ajudar tenho um despertador que pontualmente me acorda toda madrugada, por volta das quatro. Ela atende por vários nomes, o do momento é Boizinha, mas o mais comum, que sai naturalmente quando falo com ela, é Mamãe (Freud explica?). Minha redonda colega de quarto me perturba toda santa noite, o que afeta ainda mais a qualidade do meu sono quebradiço. Mas tudo bem, fevereiro chegou, pulei da cama cedinho, o sol nem tinha nascido (e, ao nascer, voltou para as cobertas, o tempo está bem fechado por aqui). Comecei antes das seis minhas atividades de começo de mês: reunir as planilhas de clientes, unificar num arquivo de Excel e enviar por e-mail, anexado. Aí as respostas começam a chegar, com as validações (ou não, porque sou boa com palavras, mas péssima com números, minhas contas sempre dão valores errados, a menos), e antes de emitir boleto, receber transferências e PIXes que me deixam feliz, tem a fase de emitir nota. Que é tranquilo, só acessar o site e preencher lá os valores, os dados ficam todos salvos, preocupação zero. Quer dizer, isso quando o site funciona.

Fevereiro começou com a galera sedenta, faminta, e tantos acessos foram suficientes para travar e tirar o site do ar. Mandei mensagem: “amiga, conseguiu emitir nota?”. Ela respondeu que não, disse que estava há horas tentando acessar. Mais uma. Quase falei que a culpa era dela, também, mas a mensagem que ela mandou soou tão frustrada que eu não quis provocar. Não sou boba, sei que não se cutuca Pessoa Jurídica com vara curta de Nota Fiscal!  

Isso me fez desistir, muito cedo para me aborrecer, fevereiro mal começou! Desliguei o computador e fui colocar o feijão que preciso pôr de molho à noite dentro do pote em cima do fogão, senão esqueço de novo (ontem esqueci). Fiz a lista de compra com tudo o que preciso comprar quando o dinheiro começar a pingar na conta. Que, em resumo, é tudo. Minha despensa só não está dando eco porque ontem peguei uma xícara de açúcar emprestado com a vizinha. Já tinha pegado antes uma lata de leite condensado, porque a larica bateu forte e precisei comer brigadeiro.

Sou bastante rigorosa com minhas compras de supermercado, não posso comer várias coisas e as poucas que são liberadas na minha dieta não podem faltar justamente por isso. Então sigo à risca minhas listas, compro tudo o que anoto e nada além daquilo, embora sempre dê vontade. Amo chocolate, comer um docinho à noite, biscoito que chamam de bolacha... em suma, tudo o que não pode nem passar pela porta aqui de casa. Porque se passa eu como mesmo, me destruo por dias (estou estragada ainda por causa do bolo que comi no meu aniversário! Já faz dois meses que tenho 40 anos, pensa). Por isso, quando chego no mercado até evito as gôndolas da tentação. Ou, a depender do meu humor, vou lá só para sofrer, me lamentar por querer comer o mundo e ter que me contentar com banana, aveia moderadamente e leite sem lactose.

Tudo lindo enquanto estou lá, super responsável com a minha saúde, absolutamente consciente das minhas limitações, comprometida comigo mesma. Mas é uma tristeza quando a noite chega e eu quero algo que não comprei. Nessas horas fico tentando me convencer a levar a versão que tem vermes para fazer compras da próxima vez. A eu do futuro que dê conta! (Ch)oremos!

Por falar em conta, assim que conseguir emitir as notas e receber os dinheiros, vou me matricular na academia. Na segunda-feira, claro, que é o dia oficial de se começar alguma coisa. Falei que faria isso em janeiro, mas, ah... janeiro já até acabou! O jeito é começar em fevereiro, mesmo. Um tempo atrás eu quase fui, mas aí a academia faliu. Achei que foi um sinal. E mais um, quando a mesma academia reabriu. Agora, vou ter que ir, não tem jeito. Não tenho aguentado mais correr direito, sinto meu corpinho fraco, preciso me fortalecer. E comprar um tênis novo.

Mas é isso aí. Vou lá tentar de novo emitir as notas. Que a Santa Internet me ajude, amém.

 

P.S.: estou muito feliz que a minha queixa do mês seja com relação a um site fora do ar. Nós merecíamos o alívio de sermos realmente governadas, no sentido de representatividade. Que nossos dias sejam cada vez de mais luz e menos ódio, de mais paz e mais amor!


Essa crônica pode ser ouvida: ouça caribu.


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