Ano novo
Viver com a ausência de alguém não é tarefa fácil. Principalmente quando é
uma pessoa que a gente ama e que a vida nos impede de ver, de abraçar, de rir
junto por um minuto que seja, por cinco segundos, por um milésimo! Ações
simples, incapacitadas, que se tornam incapacitantes, paralisantes,
doloridíssimas. Não ouvir mais a voz de pessoas especiais é terrível. E o vazio
que preenche esse silêncio é gritante quando chega essa época de festas, a
virada do ano mostrando que a vida continua para quem permanece aqui. Como eu,
que sigo ressignificando minha vida, dia após dia, já há tanto tempo.
Aí recebi a tarefa de ritualizar a passagem do ano, atribuindo novos
significados a eventuais formalidades do passado, típicas de dezembro. Difícil,
quando não há nenhuma; precisei inventar uma às pressas, neste último dia útil
de 2022. Escolhi uma música do Rubel que sempre me faz chorar. Sempre. Aí chorei,
simbolizando mais uma despedida entre tantas outras, o que é irônico se
considerarmos que na vida real não houve tempo nem para um simples “até logo”.
“Olha bem, mulher, eu vou te ser sincera...”
Já tive tantas conversas comigo, e tanta gente também me aconselhou, e opinou,
e palpitou sobre o que eu deveria fazer. Foram milhares de palavras escritas
sobre o assunto, que viraram livro, crônicas, poemas e poesias, ou simples desabafos
em cadernos antigos, regados pelo choro mais sentido que eu produzo nessas
horas – e nas demais também. Nunca imaginei que viraria esse tipo de mulher,
que chora à toa, toda hora. E não posso nem responsabilizar o calendário porque
todos os meses praticamente são sensíveis para mim. É “um dia de cada vez”, mas
isso não quer dizer que seja leve. Ou fácil.
Não pretendo chorar para sempre, mas instituí esse singelo cerimonial em
homenagem à memória do passado, até mesmo como uma forma de pontuar o que eu
sinto, poeticamente. Depois limpei minha casa, varrendo para fora de mim o que
não quero por perto em 2023, ciente de que vou morar comigo até o fim, então
que seja uma relação harmoniosa e pacífica neste próximo ano. Se possível,
menos dolorosa, não tão frágil como vem sendo. Para finalizar, tomei um banho
quente e demorado, me lavando bem depois de esfregar todo o meu corpo, num
autocuidado que só mesmo eu posso me proporcionar, com a limpeza deste meu
templo, meu veículo que me permite evoluir nesta vida seja como moça que
digita, seja como caribu ou as tantas outras personalidades que me compõem
neste presente.
Oremos...
Feliz ano novo!
Essa crônica pode ser ouvida: ouça caribu.
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