Desabafo histórico
O mundo parece que acabou já tem uns anos. É pessimista falar isso, eu sei, mas é o que parece, é como me sinto. Tenho a triste impressão de que vivemos num estado de inferno tão realista que a gente se tapeia, dia após dia, noite após noite, e essa ilusão coletiva nos faz continuar com a rotina enquanto tudo ao redor desaba.
Sigo vivendo, mas a realidade me assombra, às vezes. Tá, a realidade me
assombra o tempo todo, ainda mais agarrada nessa teoria de que o umbral é aqui,
e agora. É uma boia que em vez de salvar, me afoga. Mas sigo com ela, firme e
forte, porque na hora da tempestade a gente se agarra a qualquer coisa que
brote. Eu já desci e subi tantas vezes esse rio que, olha, se fosse te contar...
Acredite: a gente se agarra a qualquer coisa mesmo. O que consolar um
pouquinho que seja, pode ser 0,01%, pronto, já está valendo.
Mas ainda assim tem dias que não quero nadar, porque cansa, né?, e aí
saio boiando na vazante da maré, escoando nos dias da minha própria vida, me confortando
com o fato de que, precisamos admitir, nós falhamos como sociedade, falhamos como
seres humanos ditos racionais, e diante de tudo isso, que é muita coisa, só nos
resta aceitar. Nessas horas parece até que vejo nas nuvens uma mensagem que diz:
“é daqui para pior”. Então percebo que me debater só vai desgastar. Mais.
Não quero dizer com isso que esta seja uma tarefa fácil (quem me conhece
sabe que esse papo de “aceitar” é um pouco indigesto para mim). Por isso mesmo,
não é fácil. Nem simples. Estamos cercadas de pessoas esquisitas, com a boca metralhando
aquilo que o coração está cheio, e são pessoas próximas de nós. São nossos
vizinhos, nossos parentes, são os antigos colegas, tem até um amigo ou outro do
passado, se duvidar, uma ex... (com certeza uma ex!). É metade da população,
quase. É muita gente e isso me perturba bastante. Mas, de novo: pode piorar
tanto! Pode melhorar também, mas pode piorar tão mais! É preciso uma
estratégia, portanto, e acredito que ela envolve o bote da aceitação.
Eu nem pretendia falar tudo isso, confesso. Ia escrever sobre outra
coisa, mas parece que meu coração também anda apinhado e tenho certeza de que
esta é uma mensagem especialmente para mim. Tenho me sentido raivosa nos
últimos tempos, de um jeito além do conhecido, além do tolerável – e olha que sempre
fui bem invocada. Agora me sinto contaminada, sei lá, é bizarro viver a
História. É cansativo também.
Mas enfrentar de peito aberto quem anda com alma carregada é justamente o
que não queremos. Não porque haja o risco de morrer, nem é por isso... Problema
é algum confronto nos deixar vivas de um jeito ainda pior.
Espero que você se cuide. E eu também.
Essa crônica pode ser ouvida: ouça caribu.
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