Reação adversa


Nos últimos tempos, andei meio perdida, vagueando dentro de mim. De certa forma, joguei um pouco de luz sobre as minhas sombras e se encarar de verdade nem sempre é um exercício confortável. Na verdade, o conforto existe somente quando nos acomodamos, muitas vezes bem longe do que incomoda de fato, ou seja, os nossos problemas, os nossos defeitos, tudo aquilo que a gente varre para debaixo do tapete quando a tempestade transborda toda a água do nosso copo, meio vazio.

Venho na lida dessa tarefa de me salvar já há alguns meses, acendendo uma lâmpada ora aqui, ora acolá, na escuridão da minha essência, nas trevas que fazem parte de mim, que também são quem eu sou. Comecei a fazer terapia porque vi que sozinha não ia rolar, e foi mais ou menos o mesmo pensamento que me levou até a medicação que, em vez de me salvar, por pouco não me afogou. Vi no crescente dos dias um monstro igualmente crescer. Um monstro chamado eu.

Primeiro, afetou meu sono, depois o meu humor, com muita facilidade. O que sempre me irritava passou a me irritar mais, e o que passava despercebido até então, começou a piscar em luz neon, me irritando também. Disso para começar a brigar na rua foi “um, dois”.

Para ilustrar, dia desses xinguei uma idosa de mal comida lá na ciclovia. Ela é que me provocou e ela foi atrás de mim para brigar, mas diante do meu rompante inundado de palavrões, as pessoas olharam foi para mim. A mesma coisa quando discuti com dois mendigos, que se meteram numa briga que nem era deles. Ao gritar impropérios que nessas horas fluem facilmente, a louca da história fui eu.

Longe de querer levantar uma bandeira anticiência, quero ressaltar que eu acredito no poder dos remédios, vira e mexe recorro a algum deles (já até escrevi a respeito, recentemente). O fato é só que, na minha loucura, certas medicações mais me afetam que me curam. Como aconteceu com a dona Sertralina, que chegou por aqui bonitinha, com a promessa de arrumar a minha bagunça, mas já de cara começou a atirar tudo no chão, revirando meu mundo de ponta-cabeça. E pior: me impedindo de escrever!

Provavelmente, perder minhas asas de vista foi o que mais agravou o meu estado. Se meu propósito nessa vida é escrever, quem eu sou quando as palavras deixam de ser escritas? Essa é uma pergunta absolutamente retórica, porque daqui ainda estou bem longe da resposta.

Essa é uma crônica para dizer que estou bem, que devagar estou de volta e que só falta meia história para terminar o livro da Novelinha. Parei de tomar o remédio, estou nos resquícios da sua química bizarra, com o diagnóstico de bipolaridade fechado às minhas custas, e já voltando a dormir direito. Eu sou caribu e estou há três dias sem brigar.


Essa crônica pode ser ouvida: ouça caribu.


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