A novelinha de caribu

 

Tudo começa com o ajuste das margens. Documento de word virgem, o cursor piscando, mais ansioso do que eu, que assim como o teclado abaixo de meus dedos, não tem ideia do que vem exatamente pela frente – às vezes só é passado um roteiro assim, meio por alto. Layout da página: tamanho A5; margens personalizadas: superior, dois, esquerda, um e meio, inferior, dois, direita, um e meio; medianiz de 0,75 alinhado à esquerda. Fonte Calibri (que eu leio na entonação de “colibri”, o passarinho, então minha fonte é uma passarinha), tamanho 11, espaçamento entre linhas de 1,15, entre parágrafos, o espaçamento é de oito pontos. Dependendo do humor/personalidade dominante do dia, os parágrafos podem ter um tab de 1,5cm no começo, ou não. E só depois que o texto, ainda inexistente, fica justificado na tela é que a escrita propriamente dita começa.

Começa como? Não sei. A primeira palavra vem, ela surge, e em 99% das vezes o primeiro parágrafo, que é o iniciador da história (seja livro, crônica ou conto), é mantido exatamente igual, até o final, até a publicação. E sempre se amarra com o fim!, que eu nem sempre sei como é, quando começo a escrever. É uma brisa muito louca, como diria a poeta.

Foi assim que começou a criação mais recente de caribu, que no início eu chamava de Novelinha brincando, zoando, e acabou sendo o nome, mesmo, no final: “Multiversos – a novelinha sapatão”. É importante dizer, já de partida, que a Novelinha nunca foi planejada. Não assim, conscientemente, e nem sei dizer também em que nível isso que se deu, porque foi uma criação coletiva de uma maneira que ainda não entendo. Quando souber explicar para mim, com certeza eu volto aqui para traduzir para vocês.

A Novelinha começou numa tarde quente de dezembro de 2021, quando a vida real me inspirou a pensar numa história de amante. Um conto erótico, curto, sobre duas mulheres que se pegam, com nítida química, uma delas é casada, a amante no final se mostra apaixonada. Esses rolos que a gente se enfia... Ou: dramas da vida real de uma sapatão. Foi um processo bem inspirado, fluido, o texto saiu sem grandes dificuldades. Escrevi, montei a capa, postei e esperei.

Esperei.

Esperei...

Foi meu primeiro conto com altos índices de rejeição. Nem a sinopse amoleceu; mulherada bateu o olho no título e pensou “eu, hein, tô fora”, e ficou fora mesmo! A audiência custou a levantar! E levantou só porque eu cutuquei! Achei meio desaforo a personagem, Miriá, ter recebido rejeição por ser amante, sendo que nessa história de A amante, Miriá é mais vítima do que a Célia, que é quem tem compromisso com outra, e trai. Foi quando defini que isso precisava ser melhor explicado. Me senti na obrigação de limpar a barra da Miriá!

Mas o processo não é reto, nem lento! Ainda assim demorei a perceber o que realmente estava acontecendo, quando a cada semana comecei a escrever um conto novo, definido entre duas opções que eu lançava em enquetes do instagram (que é também outra história!). É quase como fosse possível afirmar que, sem essa interferência, dos votos que definiram as histórias que vinham a seguir, a Novelinha poderia ser completamente diferente.

Meus dias lá fora, ou não tão lá fora, porque minhas pontes são percorridas quase todas com meus pés na internet, me inspiraram para o segundo conto, que no começo eu até achei que seria um livro. Assim, um livro só disso. A história da amante, a da vida real, que inspirou o primeiro conto, desandou quando tudo veio à tona, mas não de um jeito ruim, tipo quando você faz uma omelete e na hora de virar na panela cai tudo no fogão. Foi do tipo que, sei lá, o ovo gruda, e aí em vez de omelete você almoça ovo mexido, sabe? Traduzindo: de amante, me inspirei a escrever uma história sobre um trisal. Sim, por que não finais felizes?

3xTPM surgiu sem que eu esperasse, e de uma maneira que a gente ama: cheia de potencial para ter continuação. Tanto que, nos arquivos onde escrevo, essa é a única história em que as duas partes estão lá juntinhas, porque Tatiana, Patrícia e Mariana merecem ter na ficção um amor gostoso em cama king size que funciona!, então jamais as separaria, ainda que só em arquivos nomeados quase iguais. Na história, um restaurante, uma chef e sua esposa, anunciando a terceira integrante da relação. No final, uma ex sigilosa.

No controle das histórias, beneficio as personagens. Se quer ser amante, seja, se quer ser trisal, seja também, e se só quer putaria, que delícia, quero! Quer dizer, seja! E foi assim que veio a terceira história da Novelinha, O contrato, que fala sobre a iniciação na prática de BDSM de uma personagem que trabalha justamente com a Miriá. E ela até aparece de figurante na história, quando a Luana tenta fugir mais cedo do trabalho, ansiosa para encontrar sua “nova dona”.

Aí chegou a hora e a vez de Miriá, com Happy Hour, a quarta história da Novelinha, que conta como Célia e Miriá se conheceram (e se tornaram amantes), mostra a Célia sondando a Miriá como um pavão, todo armado. Isso, na linha do tempo, obviamente veio antes de A amante, mas depois de O jantar, de 3xTPM. Então foi a primeira história a sair da ordem cronológica.

Desde a virada do ano, estava com o trisal na cabeça, numa viagem que elas fizeram e colocaram as pobrezinhas em quarto com cama errada. A quinta história da Novelinha, e a segunda de 3xTPM, Ano novo, foi uma das mais demoradas a ser escrita. Travei dias pensando se elas viajariam mesmo usando shortinho de corrida. Sim, são essas coisas que me param. No enredo, uma viagem de Réveillon que termina com uma ex de Mariana (outra), levando as coisas que ela deixou na casa da mulher, de Uber. Foi quando pensei “hummmmm”.

A Uber foi a sexta história da Novelinha. A que eu mais me diverti escrevendo, porque enfiei dentro do carro de uma mulher cativante personagens de várias histórias: de Amor incondicional, de Minha melhor amiga, de Escrito na Gazeta. Enfiei até a Bruna, a esposa da Célia, a amante da Miriá, e terminei a noite fazendo Mayara, a motorista, levar para casa uma Rita embriagada, acompanhada das colegas de trabalho Luana (dO contrato), Miriá e Preta, que já tinha aparecido também em Happy Hour. Ainda que tenha sido a sexta história, esta é a primeira da linha do tempo porque, cronologicamente, não faz sentido acontecer em nenhuma ordem que não no começo de tudo.

A ressaca da Rita foi curada no conto seguinte, o sétimo, O encontro. Precisei deixar Mayara sem calcinha, porque desde que ela estava atrás do volante queríamos isso, então foi fácil e natural. Queria Ritinha sóbria também, porque ela está completamente careta na história seguinte, A joia da Rubi, que fala do diamante precioso que é a Preta <3

Pelo instagram, os rumos da Novelinha migraram para Marcinha sigilosa, a primeira ex de Mariana, lá dO jantar no restaurante O Bistrô. Conexões foi a nona história, e mostra a evolução do relacionamento entre Márcia e sua ex, Mariana, do trisal. O conto termina dando de bandeja o que encerra o primeiro ciclo da Novelinha: a terceira história de 3xTPM, que vai mostrar como foi que o trisal começou.

Mais cedo, antes de pensar nessa crônica, estava vendo imagens para ilustrar a capa da Novelinha, que vai ser registrada e publicada como livro. Um livro novinho, que eu nem sabia que estava sendo escrito (só soube ontem à noite, quando vi que a próxima história seria a décima). Só parei porque caribu me chamou para escrever.

 

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