Crônica do tridente

Dizem que “cabeça vazia é oficina do diabo”, mas o que fazer quando a oficina em questão está cheia, bombando de serviço, e o diabinho fica lá, cutucando? A rotina cobra atenção, é preciso dar conta dos afazeres do dia, das tarefas específicas do calendário... na minha cartela tenho clientes e prazos, expectativas e metas, mas quando menos percebo, pronto. Lá está o pensamento desviado atravessando a ponte, com o desejo contaminando meu discernimento, atrapalhando todo o tráfego. Hoje mesmo já perdi as contas de quantas vezes precisei retornar à rota e retomar o ponto que, longe de estar morto, me faz sentir viva, quase latejando, perdida em projeções que minha mente cria, estimulada por vontades que brotam do meu ventre e desregulam meu chakra básico com sensações tão terrenas. Quase primitivas.

Aí ajeito a postura, cruzo as pernas contendo a animação, ou então levanto e passo um café, acuso a noite mal dormida por estar tão dispersa, enquanto sonho desperta mesmo quando tento me endireitar, quando em teoria estou colocando ordem na minha zona. Por causa do diabinho, sim, e seu tridente afiado que desperta todos os meus apetites de uma só vez, e me deixa tão faminta, tão necessitada de algo que vai alimentar também a minha alma, até o meu ego, acariciando minha vaidade, me deixando poderosa! Talvez seja esse poder que almejo; talvez só esteja falando isso para ser poética, e florir aquilo que na verdade estou dizendo.


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