Bu!
Em frente ao seu
prédio havia um prédio. Nada demais, tinham vários em volta, e até atrás. Ela
gostava mais daquele porque ficava bem em frente à janela de sua sala, que
pouco ia, mas quando eventualmente ficava no ambiente quase sempre era em
frente à janela, vendo as janelas do prédio em frente ao seu. Tinha vontade de
ligar em uma das imobiliárias que penduraram placa no segundo andar e visitar o
apartamento só pra entender a disposição daqueles cômodos. A quantidade de
janelas era simplesmente insana, ela de verdade não sabia quantos quartos tinha
ali.
Não havia feito
nada ainda porque era uma mulher de pouca iniciativa – ainda mais assim, para
assuntos bobos. E também porque acreditava que o aluguel devia custar um rim,
porque aquele apartamento em questão estava vago há dois anos e sete meses - ela
sabia, era tipo fiscal. Adorava quando o caminhão de mudança parava na rua. Era
sempre atraída pela “buzina” que os caminhões soltam ao dar ré. Ficava lá
olhando as coisas do povo, que chegava ou partia: a quantidade de caixas, os
móveis, se tinha furo no colchão.
Naquela tarde
estava lá, observando a chuva bater nas janelas fechadas do apartamento vazio
do prédio em frente. Não se importou que os pingos molhassem seu cabelo, era um
dia quente, a água fresca vinha a calhar. Estava sem ter o que fazer – já tinha
aspirado toda a casa, areado as panelas, passado a ferro até os panos de chão –
a não ser trabalhar – que, no caso, ela não queria. Não fossem as janelas,
seria a chuva; não fosse a chuva, certamente seria qualquer outra
coisa. Era dessas que se perdem em pensamentos, os olhos ficam só parados,
sem nem focar. Se não fosse assim, talvez essa história nem fosse estória.
Porque foi com o canto dos olhos que viu. Um vulto, uma sombra, alguém passando
em frente à janela do apartamento, vazio.
Ela não gravou
porque não estava com o celular perto. Nem câmera, ou TekPix – tinha o sonho,
frustrado, de ter uma; nunca teve. Não fez nenhum tipo de registro – apenas o
ótico. Foi testemunha ocular de um fantasma, mas sem conseguir provar, como
comprovar?
Ainda assim,
porém, as pessoas ficaram impressionadas quando ela escreveu a respeito, lá do
seu apartamento. Não à toa: mesmo os mais desatentos sabem que ele está vago
desde 2014.
Ajude esta escritora independente, clique aqui e faça uma
doação!
Você não precisa se
identificar, se não quiser! 💙
Compre os livros de caribu:
Novelinha (temporada 1)
Novelinha (temporada 2)
Se
quiser acesso ao menu completo com todas as histórias, clique aqui