X da questão
Esta crônica é sobre um assunto completamente aleatório. Tão aleatório
quanto a história que vou contar, que envolve um edredom, uma lavanderia e uma
atendente usando uma camiseta do MBL, pedindo doação para uma entidade
que ela mesma não soube explicar qual era.
Bom, na verdade, a história é essa, basicamente. Ou este é o pano de
fundo, pelo menos.
Começo contando que ontem eu deixei para amanhã o que poderia ter feito
hoje. Ontem, no caso. E aí hoje amanheceu chovendo e vários graus mais frio que
nos últimos dias, e isso nem é novidade porque fui devidamente notificada (no
grupo dos meus irmãos, que inclusive me chamaram de alienada, por eu não saber)
que a temperatura cairia. E na hora pensei “vou fazer a Mamãe Urso e comprar as
comida tudo para não ter que sair de casa e hibernar em paz pelos próximos dias”.
Nos meus pensamentos sou super organizada e eficiente. Na vida real, fico
batendo cabeça comigo mesma nos metros quadrados que me separam das
esquisitices dos outros lá fora.
Acredito que meu grande empecilho na vida são minhas manias. Sou cheia delas,
nossa, mas atire a primeira pedra quem não as têm! Só que o problema de quando
se é cheia dos TOC, metódica até as tampa, é que as coisas em geral não seguem
exatamente os nossos planos. Prova disso é meu tanque, cheio de água desde
ontem (porque agora não desce mais), e a chuva lá fora, que me impede de resolver
as coisas e comprar um sifão e comidinhas. Ou é a preguiça que me impede, e eu
culpo o clima porque é mais fácil.
Ontem teria sido um dia perfeito para fazer esses corre, e eu deveria também
ter andado com a cã porque aparentemente o tempo vai se manter fechado assim
pelos próximos dias, e não sou besta de colocar meu nariz cheio de piercing
para fora de casa. A questão foi só que listei as responsabilidades a serem
cumpridas, e eram várias, mas no fim escrevi (o que não estava planejado
inicialmente) e depois mudei toda a organização do meu quarto (que também não
estava nos planos). Me sinto pronta para a maior frente fria dos últimos
tempos, ainda que munida apenas de Ifood e edredom limpo.
No fim de semana passado minha namorada veio me ver, depois de quase três
meses afastadas por cem quilômetros, avançando lentamente no calendário de
vacinação da Covid. Foi a primeira vez que nos encontramos imunizadas com a
primeira dose, e a primeira vez que foi preciso tirar do armário o edredom
grande que não cabe na minha máquina de lavar, muito menos no meu varal. Fazia
dias que eu torcia pelo reencontro e também por noites frias, só para gente
dormir quentinha. Ela sabe que sou meio excêntrica (e usa até outros adjetivos,
que prefiro nem mencionar), mas não sei se esse afastamento a fez se esquecer,
ou se foi a combinação frio e edredom, mas o fato é que ela me achou maluca por
ter feito setas para indicar a direção certa na hora de me cobrir. Ainda falou “imagina
as pessoas da lavanderia vendo isso”.
Lembrei da atendente pedindo doação com roupa imprópria. O que são setas
perto disso?
Pelo menos não corro o risco de colocar meu rostinho numa uma parte que
ficou nos pés na noite anterior. Problema resolvido, próximo.
Agora, o x da questão: eu decidi um tempo atrás lançar um livro de
coletânea de crônicas, e quis, para isso, escrever pelo menos uma crônica com
cada letra do alfabeto, para colocar tudo bem bonitinho, em ordem alfabética.
Faltava o x.
Cumpri minha meta. Posso procrastinar sem culpa agora.
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