Novela da minha vida

Hoje faz sete dias que iniciei meu processo de virar jacaré. Tomei a vacina do meme e até agora tudo o que senti foi preguiça desse meu Brasil. A conjuntura política no país parece aquela piada do passarinho sem cu, e entre as notícias mais comentadas há um fulano que agrediu a mulher na frente da filha e de mais pessoas que eu não sei quem são, porque registros assim me perturbam. E o bizarro é que o sujeito ganhou milhares de seguidores nas redes sociais depois da “notoriedade”. Ou seja, vamos de mal a pior.

Meu pai se mostrou preocupado esses dias, quando reclamei que continuamos aqui, num mundo cheio de gente escrota, enquanto quem é legal está morrendo. Ele falou que não é bem assim, que estou sendo pessimista, que tenho que ver as coisas de outro jeito. Às vezes sinto que choco um pouco com a minha sinceridade, mas o que posso fazer, se a inspiração só me leva ao precipício desse mundão?

Tento me focar na rotina aqui em casa, nos afazeres domésticos, nos meus dramas diários porque se olho um pouco mais para tudo o que está acontecendo lá fora eu fico com vontade de montar um movimento armado e revolucionário e aí dar motivos reais para minha família ficar em choque.

Tá. Foco.

Hoje a Novela da Minha Vida é sobre o suporte da tevê. Uma história longa que se arrasta pelas últimas semanas e que já deixou a minha vizinha cansada de escutar os meus lamentos. Por isso resolvi escrever. Você ainda não ouviu meus loopings de assuntos constantes que viram novela. Como a calça de moletom presa nas minhas canela de Lérigou que eu nunca compro, porque fico sempre na dúvida entre comprar uma de R$ 80 ou duas por R$ 95; ou o jogo do LEGO do videogame, que meu sobrinho de quatro anos e eu adoramos, e que minha irmã emprestou para a amiga e nunca mais devolveu, e eu paguei 500 conto no conserto do videogame e não joguei; ou meus pensamentos constantes de mudança de um vaso de planta de lá para cá. Amo falar disso, amo!

Tenho uma vizinha que cola aqui em casa todo dia na hora do almoço. Eu brinco falando que ela come aqui “de favor”, mas a gente divide as compras, e quando rola marmita é ela que paga (porque ela é riquíssima). Então todo dia mais ou menos meio-dia, uma hora (eu sinto que venci na vida quando consigo almoçar antes de tomar o remédio às 13h48), ela chega aqui e eu despejo em cima dela os lamentos que estavam acumulados desde o dia anterior. E não tem como não falar da caralha do suporte da tevê porque faz semanas que a sala está toda desmontada, revirada, a televisão em cima do sofá nem lembro desde quando. Tudo isso porque eu fui burra e comprei um suporte que não aguentou o peso da elefanta da televisão, depois que ganhei um rack daqueles com painel (que nem é rack, que é o que eu tinha até então, daqueles bem anos 90 – tinha até os espaços para por CD! Onde se ouve CD??).

Enfim, primeiro desmontei o rack velho no chute. Foi uma delícia, até postei no Facebook, recomendando que as pessoas façam isso. Depois montei sozinha o painel, que antes tirei foto das madeiras já na posição, quando meu cunhado me explicou sobre a montagem. Nesse meio-tempo chegou pelo Correio o suporte, o que fez “crec”. Mas nesse momento eu ainda não sabia, e seguia feliz.

Foi uma semana até o Chimmy Churri Cara de Riso vir aqui com a furadeira. Podia ter falado com ele do sifão do tanque, entupido, e/ou da portinha do armário do banheiro que caiu (outros dois dramas na vida desta que vos escreve), mas eu só queria ajeitar a sala, peloamordeDeus. A ideia do suporte era fazer a televisão (que pesa mais que a catiora, que já é pesada) se movimentar para os lados. Minha sala é muito pequena e não consegui jogar nada com o Kinect do videogame ainda (e olha que desembolsei essa grana do conserto no começo do ano!).

Jimmi (sem máscara!) furou o suporte, fodeu o painel porque o suporte teria que ficar por cima, penduramos a tevê, a tevê quase caiu, fiquei triste, desmontei a porra toda e foram mais 15 dias de lamento (pobre vizinha!) porque aí fiquei indecisa sobre qual suporte comprar: o mais TOP (como dizem os caras que usam sapatênis), ou outro, mediano, com preço mais acessível.

Nesse período, a televisão primeiro ficou em cima da prateleira do painel, até fazer um estalo numa noite em que estava tudo quieto, quando daí ela foi transferida para o sofá (onde desde então periga ser esbarrada pela Nani, que fica feliz e comumente pula ali).

Mas tudo pareceu mudar na última sexta, quando fui em uma loja daquelas enormes de coisas de reforma de casa (amo!), e comprei simplesmente o melhor suporte das galáxias! Paguei uma fortuna! O dobro do que eu pretendia, quase metade do que eu tinha na conta. Ele é incrível, com ótimo acabamento, aguenta até 40 quilos, gira para todos os lados, e se duvidar até me coça, se eu pedir.

Cheguei da rua felizona, sorrindo por debaixo da máscara, parei na portaria e combinei com o Jimmy de ele vir furar a parede, de novo, na segunda. Um fim de semana inteiro controlando a ansiedade, que já superei. A duras penas, porque sábado começou um quebra-quebra aqui no prédio às 7h45 da madrugada, e todos os apartamentos com final 1 (inclusive o meu) ficaram sem água. Vieram na segunda, terminar o serviço.

Jimmys, O Faz-Tudo que Sabe de Todos, disse que ia só esperar o encanador chegar, umas dez, e viria. Mandei um zap para ele não era nem oito horas direito, agora tenho o número dele, ninguém me segura. Passei o dia esperando. Passei o dia sem água. Ele me interfonou no fim do dia, contou que quando foi abrir o registro o remendo estourou.

Novela, eu disse.

Hoje acordei e antes de lavar o rosto mandei mensagem de bom dia. Ele disse que só ia terminar não sei o que e subia para furar. Já faz umas quatro horas isso. Daqui a pouco a vizinha chega com a marmita e vai ter sua dose de drama com arroz e feijão, ainda sem fim.

Eu sonho com um mundo onde eu tenho uma furadeira, e uma tevê presa na parede, que se move. Um jogo de LEGO, uma calça de moletom quentinha para dormir e um ralo de tanque livre e desentupido – tão desimpedido quanto o armarinho do banheiro, amém.

 

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