O tanque

 

De todos os problemas que eu poderia enfrentar, na lida com o meu lar, meu drama doméstico envolve um tanque entupido. Há diversas armadilhas numa casa, estamos sujeitas a confrontar intempéries de todos os tipos, porque há sempre uma possibilidade à espreita de algo acontecer, e pode dar ruim em todos os cômodos. No meu caso, minha treta é o tanque.

Sempre fui do tipo que resolve as coisas sozinha (o que não necessariamente significa que conserto!) e há um ano mais ou menos enfrento essa questão que, só com minhas mãos, não consigo sanar. Porque aquela peça que sai do tanque, que em teoria desrosqueia, está enferrujada. Dura demais para quem sempre abriu seus potes sozinha.

Já taquei água quente, diabo verde, coca-cola. Já cutuquei com pau, com arame, vergalhão. Nada, entope cada vez mais, e piora quando lavo pano de chão.

Aí acontece que uma simples lavagem de roupa demora horas, porque invariavelmente me distraio e esqueço lá, a roupa de molho. Não adianta nem deixar a tampa aberta, porque se não vou lá, não vejo.

São duas etapas para cada uma das cuspidas de água que a máquina dá. Vai bem uma meia hora para esvaziar cada baciada de tanque, nesses momentos. Hoje, enquanto esperava, até arrumei os temperos nos potinhos, recortei as embalagens e colei como identificação, ficou uma graça. Seria ótimo se eu não estivesse trabalhando antes disso.

Aqui vale dizer que sou daquelas pessoas que fazem 20 coisas ao mesmo tempo, e só metade sai bem-feita. O resto eu sempre briso. Paro de fazer o que preciso porque mudo minhas prioridades muito rapidamente, e isso se intensifica quando lavo roupa (toda sexta, sou metódica). Fico toda hora interrompendo o que quer que esteja fazendo, para cuidar de um tanque que não pode transbordar – deixo o ralo lacrado, então quando vaza molha tudo e aí sou obrigada a, também, lavar o chão. Ou seja, mais uma atividade não programada, que corre o risco de não ser concluída (a sorte é que com o tempo seca).

Tô até vendo que em breve vou precisar me render e pedir ajuda para o Jimmy Churry, o porteiro, que não tem esse nome, que é meio que um faz-tudo aqui no prédio. Fico sempre meio assim porque ele tem cara de riso, mas agora que a gente usa máscara até dentro da casa dos outros, acho que vai ser tranquilo. Duro mesmo é ceder, nesse mundo machista e patriarcal, e declarar publicamente que preciso de ajuda de macho para abrir cano de um tanque, que entope.

Mas até lá, fico aqui, na espera, aguardando o tanque esvaziar.


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