Teletransporte (Conto)
Há muitas maneiras
de se estar longe das pessoas. Podemos estar a quilômetros de distância, com
cidades entre um ponto e outro, às vezes até oceanos, continentes!, como também
podemos estar ao lado de alguém, mas com a distância de uma parede de frieza ou
indiferença, por exemplo. Distância não é apenas física, sabemos. Há abismos
que nem pontes resolvem (mesmo as aéreas)!
Mas este é um
conto curto, então vamos nos focar naquelas distâncias que nos obrigam a usar
de meios de transporte (talvez as mais transponíveis das mencionadas,
certamente as mais românticas). Para ilustrar, neste momento há muitas pessoas
afastadas, fisicamente, mas conectadas por cordões energéticos, invisíveis e poderosos!
Elas não se perdem enquanto não desistem umas das outras (olha que bonito!). É
uma conexão que une corações que não batem juntos nesse instante apenas porque
estão impossibilitados de estarem próximos. Como Rafa e Lígia.
Elas são daquelas
sapatão que se conhece por acaso e aí o papo flui, começa a trocar ideia como
quem não quer nada, de repente é de manhã até a noite em contato, e uma série
de coincidências as mantêm próximas, aí a brasa inicial vira fogo, ppks ficam em
chamas, mas paulatinamente, um pouco a cada dia, e quando se percebe (bastam
poucos dias, que ninguém se iluda!) parece que foi feitiço, que rolou alguma
oferenda em encruzilhada porque só o que explica o que se passa é um boneco de
vodu molhado entre as pernas e comandado por alguma tarada.
Alguém se
identifica?
Normalmente o
que ocorre em casos assim no mundo sapatônico é as mina se encontrarem o mais rápido
possível porque tesão é uma coisa doida, às vezes até doída, se a gente se
demora muito a se aliviar. Mas veja só você que as personagens desta história
tinham que ter uma história toda delas, tipo um conto de fadas moderno (talvez
uma delas seja até ogra) e elas foram se “encontrar” em plena pandemia! Num
momento em que até mesmo a mais tradicional das caminhão se contém no
isolamento e passa alquinho na mão.
O engraçado
dessa história (que só a gente se diverte; elas mesmo detestam) é que as duas
estão em contato, têm essa linha que varia de cor conforme o humor delas, ambas
detêm informações que apenas elas sabem (são vários segredos compartilhados),
mas ainda assim elas não se conhecem. Não da maneira tradicional, que ao
encontrar dá um beijinho (dois, se for no Rio), e diz “olá, prazer em conhecê-la!”.
O prazer, no caso, é real, mas se assemelha a uma névoa que vagueia numa dimensão
paralela – quase futurística.
Ainda assim há também
entre as mulheres mais um tipo de conexão. No caso, da internet. As duas têm
sorte de serem essas pessoas que contam com a facilidade da era moderna, onde
fios igualmente invisíveis fazem vibrar aparelhos eletrônicos, a milhas de
distância. Parece bruxaria, mas é só século 21. Mais moderno que isso só se eu
escrevesse usando máscara!
Rafa e Lígia
evitavam falar sobre sexo, porque já era castigo demais não poderem se tocar, e
sentirem o cheiro uma da outra, o gosto (que dava até água na boca, só de
imaginar!), mas invariavelmente as conversas desembocavam em putarias variadas,
apesar dos cuidados. Ou passavam pelos arredores (é incrível como tudo parece safadeza
quando se está na tara!). E aí ficavam as duas em ponto de bala – literalmente.
Ficava até quente. Calcinha até molhava.
Numa dessas
conversas o tesão bateu mais forte, e teve até horário: 20h20, horário oficial
da casa de uma delas. Rafa desejou, com todas as forças (até se contraiu um
pouco) estar com Lígia naquele momento, que tinha enviado um áudio meio que miando.
Ela se teletransportaria, se fosse possível. Se desintegraria na sua casa e se
reintegraria na casa de Lígia. Escorregaria no acento do seu nome, direto no
seu colo, assentando-se nela. Queria sentar ali, de preferência nua, de frente
para ela, braços e pernas se entrelaçando, como duas peças completas, duas
máquinas funcionais que ainda assim se completam quando unidas, e passam a ter
novas funções, acionadas por comandos novos. Tocaria com seu corpo no corpo de
Lígia, satisfazendo as vontades ainda concentradas apenas na mente, que
equivalia às vezes a uma fábrica de pensar sacanagem. Aquela sentada mesmo já
tinha acontecido na fantasia das duas, e mesmo ali nem guindaste tirava.
O desejo foi tão
profundo que se realizou, via internet, que era via rádio (mas essa informação
nem é tão relevante!). Ela se teletransportou via modem. Rafa percebeu quando
se desvaneceu, deixando sobre sua cama as roupas que usava. Retomou a
consciência cinco milésimos de segundos depois (menos que um piscar de olhos),
num ambiente que já era novo para ela, apesar de familiar. Reconheceu na cor daquela
única parede diferente o ambiente que tanto desejava estar. Se sentiu piscar ao
sentir a piscada de Lígia, tão perto (tanto que dava para sentir o seu calor –
quase um vapor que saía por entre as suas pernas).
Era uma noite
abafada, dessas que chove só um pouco e só deixa o clima mais sufocante do que
antes da chuva só que, mesmo calor, Lígia estava de meias. Dois pares, e eles
nem eram parzinhos, originalmente. Rafa veio dali, como uma onda crescente,
circundando primeiro as pernas, reconhecendo nessa subida as cicatrizes antigas,
as pintinhas todas e um arranhão mais recente, perto do joelho. Lígia sorria,
identificando já com o primeiro contato a energia daquela que vinha sendo a dona
da sua cabeça (mais bonita que a do Geraldo Azevedo).
Rafa contornou
as coxas da mulher, que se arrepiaram com a passagem, e se demorou no vale logo
ali embaixo, que era sedento apesar de molhado. Que era doce apesar de salgado.
Que era uma perdição apesar de fazê-la querer se encontrar ali todos os dias,
para sempre.
Lígia era muito
cheirosa. Uma delícia de tão gostosa. Rafa se materializava ali inebriada,
entorpecida, extasiada. Ela tinha uma buceta tão linda que parecia uma obra de
arte. Dessas interativas, que pode tocar, experienciar. Rafa quis se enrolar
nos pelos, deslizar nas curvinhas e nas grandes descidas, e depois cavalgar
montada no clitóris usando apenas um chapéu e botas.
Foi subindo,
reconhecendo, fazendo uma varredura, quase. Perpassou pelo umbigo, resvalou nas
costelas, escapuliu para as costas, subindo os ossinhos da coluna de dois em
dois, e se arrebatou na sequência naquele ponto específico entre os seios –
aquele, de onde saem os cheiros todos de uma pessoa. Lígia tinha um aroma
maravilhoso, que nem os pensamentos mais criativos de Rafa seriam um dia
capazes de conceber. Ela respirou fundo ali, embalada pelo som do coração de
Lígia, agitado com aquilo tudo.
O encontro das
bocas selou o encontro das duas, no momento em que finalmente ficaram frente a
frente, como desejavam. Pele na pele, pelo no pelo. No prelo, carimbaram-se, no
grelo. Entrelaçaram suas línguas, como em comum acordo. No frenesi, embalado
por suspiros apaixonados e gemidos enamorados, fundiram-se. Viraram uno. Unas
(porque são meninas).
Hoje Lígia e
Rafa podem ser encontradas, juntas, no emoji de safadeza (aquele, da carinha).
A cada vez que se envia 😏 evoca-se o tesão sapatão.
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