Garota dos sinais (conto)

Cada uma das bilhares de pessoas ao redor do mundo possui uma capacidade específica, cognitiva, emocional, e isso faz de cada um de nós responsável por algum grande feito neste planeta, enquanto cá estamos. Ou pelo menos era nisso que Verônica acreditava. Ela acreditava em muitas coisas, a começar de que era dotada de um entendimento acima da média que a fazia ver sinais em tudo. Até onde não havia.

Mas ela via. Tudo à sua volta era um emaranhado de interrogações que Verônica fazia questão de desenrolar, se apegando a indícios que, muitas vezes, a maior parte dos seres mortais não enxergava – ou sequer dava importância. Seu nome já era um grande sinal, que piscava: Vê, rônica. E ela vivia atenta, queria ver. Se focava nas entrelinhas, em especial.

Verônica vivia acreditando que o universo era um reloginho que ela sabia ler os ponteiros. Por causa disso sua vida mudava bruscamente. Já tinha mudado de casa, de carro e até de profissão por causa dos “sinais”. Aos poucos que lhe davam importância ela afirmava que tinha deixado algumas dicas para si mesma, antes de embarcar nessa viagem. Ninguém perguntava quais seriam essas dicas, ou a que viagem a mulher se referia.

Quando a quarentena começou Verônica achou que era um sinal. No caso, do fim dos tempos. Se isolou dentro de casa e, como muitos, estocou papel higiênico. No primeiro mês, nem saiu. No segundo, foi ao mercado. No terceiro visitou a mãe, que era idosa. No quarto mês foi à casa de uma colega, que ficou doente, e se recuperou. No quinto acreditou que já tinha até contraído a doença – provavelmente foi uma das tantas assintomáticas. No sexto mês Verônica se esquecia já de sair de máscara. Achava um sinal o fato de não adoecer. Morreu em outubro.


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