Quarentena

Se esquivou durante dias. Às vezes de maneira sorrateira; outras nem tanto. O trabalho, impassível, a aguardava. Em algum momento ela cederia.

Mundo afora se liam dicas de produtividade, de melhor proveito do tempo, de cursos gratuitos e on-line. Relatos apontavam casos de sucesso: rotinas modificadas, dietas maravilhosas, atividades que enriqueciam. Sua vontade, porém, era honestamente não fazer nada. No máximo mergulhar em si mesma – ou apenas molhar as pontinhas dos pés. Não porque houvesse preguiça; o que havia era a sincera falta de vontade de sequer considerar pensar em fazer algo.

Não queria. E havia quem engrossasse esse coro e dizia que esta não é mesmo uma época para cobranças. “Pega leve” era o conselho que ela mais gostava. Não tinha outras pandemias para se valer como comparação e aquela era uma boa dica.

Em realidades paralelas (em outros países também) a quarentena já terminou. E em breve, se dermos sorte, essa será mais uma página virada de nossas histórias. Fico pensando como vai ser retomar uma rotina sendo uma pessoa tão modificada.

Estou cada vez mais fechada – comigo e em mim.


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