Idosinha

Tenho duas características genéticas que me definem, até certo ponto. A primeira é que não tenho mais do que 1,60m. A segunda é que achei o primeiro fio de cabelo branco na minha cabeça quando tinha uns 18 anos. É um contraste interessante porque do alto (!) dos meus 1,57m eu tenho cara de menina, e essa é uma época que estou sem pintar o cabelo (estava rosa da última vez).

Nasci naquela que considero como uma das melhores décadas (para a música, em especial): os anos 80. Olhando assim, cronologicamente, foi no século passado e o Brasil ainda vivia sob o regime da ditadura. Observando sob outro prisma, o interno, são só alguns anos pisando nesta Terra. Trinta e sete, para ser exata.

Me sinto, realmente, uma menininha (uma tratorzinha, vai!). No sentido de que me sinto jovem, tenho saúde e certa disposição para determinadas coisas (porque se eu disser que é para tudo estarei mentindo).

Pois bem.

Estou travada, com dor nas costas.

Fico nesse pensamento de que sou uma jovenzinha e sento sem postura, trabalho toda torta e agora estou que mal consigo andar sem sentir dor. É uma fisgada que me faz gemer a cada levantada, e me sinto aquelas pessoas mais velhas que rangem a qualquer movimento.

Virei essas pessoas.

Claro que isso em breve vai passar, mas o que realmente me faz refletir, sentada aqui toda mocinha, bem retinha, é perceber que minha mente é jovem, mas meu corpo já começa a dar alguns sinais de desgaste. Normal, quase 40, né.

Não me incomodo com as rugas (algumas são até sexy, por exemplo, as dos sorrisos), mas me chateia um pouco quando minha mobilidade eventualmente é afetada. Por sorte, uma das coisas que aprendi nessa caminhada (a passos curtos, mas corajosos) é a ser grata. E sou grata por ser apenas um mal jeito o que me trava no momento (não é nada terminativo).

Sim, porque a parte boa é essa: o corpo vai se deteriorando à medida em que vamos acumulando conhecimentos. Eu tento absorver o máximo possível, porque algo me diz que, um dia, essas serão as boias que irei me agarrar para não me afogar em mim mesma na velhice.


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