Feliz aniversário atrasado

Numa tarde de tédio, naqueles dias onde o mundo lá fora me chama, mas o isolamento igualmente clama, sinto o celular vibrar. Uma mensagem, de um número desconhecido, dizia: “feliz aniversário atrasado”. Isso, e alguns emojis: palminhas, coração, lacinho, bolo com velinha, presentinho, palminhas de novo.

Olho o DDD – bem distante de mim. Sem foto no perfil, nenhuma informação que ajude.

Sou sagitariana do primeiro decanato: nasci em novembro.

Fico apreensiva. Teria a quarentena ido longe demais, levando embora o resto do ano inteiro sem que eu nem escrevesse a respeito?

Tiro os olhos da tela e olho ao meu redor, estarrecida. O relógio marca quatro e pouco, há uma névoa de incenso (que não sai porque a janela, fechada, impede o som da obra de entrar) e aquela luz típica desse horário: o que ilumina é a parede bem embaixo da janela, que nem pega sol, mas reflete a luz do espelho, que reflete o sol refletido nas janelas do prédio lá fora.

Um jogo de luzes moderno, sim.

Consulto o calendário, apenas para desencargo. Não, estamos em julho ainda.

Que curioso!

Respondi a mensagem agradecendo, disse que tudo bem, o atraso tinha sido só de alguns meses (quem liga para isso, né). “Quem é?”, quis saber. “Sua prima!”, foi a resposta.

Na minha cabeça a história já estava toda pronta: uma mina se confunde na hora de salvar o contato da prima, manda mensagem para mim sem querer, a gente se conhece, ela mora longe, me apaixono, um novo drama para a sapatão com S de “saudades da cheirosa”. Quando perguntassem, diríamos que o destino nos quis juntas. Mas não sei onde.

Minha visão desse futuro durou, sei lá, dois, três segundos. Quando voltei a olhar para o celular, vi que era realmente uma prima minha (que devia estar bêbada).


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