Credo, que delícia

Encontrei com a crush. A história vai ser essa.

Por que será a gente fica meio boba quando esbarra com certas pessoas? Bom, acontece comigo. Coração dispara, a mão fica suada, até treme um pouco. São várias manobras que faço, para disfarçar. Difícil! É nível ninja!

E essa mulher a quem me refiro nesta crônica tem o agravante de já ter se relacionado comigo antes. Tenso, foi tenso. O encontro e o relacionamento.

Sou bem dedicada ao meu isolamento nessa quarentena eterna que já ultrapassou a marca de quatro meses. Não saio de casa nem para comprar comida, quase. Não faz muita diferença, não ando sentindo muita fome, as coisas têm durado dentro do armário, ou na geladeira. Esses dias achei lá dentro uma pizza, dessas congeladas. Nem me lembrava dela!

Vontade de beijar na boca quase todo mundo tem; em mim dá e passa. Tem que passar! E as gotículas?

Veja: meu medo nunca foi morrer. De coração eu acredito que morrer, às vezes, é lucro. O duro é ficar doente, no hospital, em coma induzido, de bruços, com tubos enfiados na garganta. Tô de boa!

Saí ontem numa missão e aí encontrei a diaba (sim, é a mesma do sonho! Maldita!). Eu estava de máscara (sou consciente, mesmo quando o tesão lateja), e nos abraçamos.

Me julgue.

Abracei uma mulher em plena pandemia e não foi um abraço breve.

Porque a gente se encaixa.

Talvez por causa desse encaixe no abraço, inclusive, que a gente começou a se pegar, lá no passado. Nunca foi um abraço como os outros. Vou te dizer que desde a primeira vez, mas aí vai de você querer acreditar.

Inicialmente, e depois constatei que foi sem pensar (afinal, a regra é clara! Não pode contato!!), eu só ofereci o lado do rosto, num beijinho simples, amistoso, inocente. Ela que me abraçou. Sou apenas uma moçoila ingênua que se viu arrebatada pelos braços tatuados daquela loira. Pobre de mim!

Os meus braços, por sua vez, estavam inicialmente retraídos; têm mais juízo que a minha pepeka. Segurei só na sua cintura, minhas mãos saudosas daquele contato (de qualquer contato, é verdade, mas aquele sempre foi um bem gostoso). E nossos corpos se encaixaram, mesmo com a minha quase inexistente resistência. Assim: pá. A gente tinha um esquema para encaixar os seios nos abraços, tipo tetris, e há coisas que se reproduzem mesmo depois de tempos. Mesmo (e principalmente!) num abraço proibido, de covid.

Senti sua boca (sem máscara! Incrível como isso soa sexy atualmente!) bem pertinho do meu ouvido, e registrei sua voz dizendo: “que saudades!”. Tão clichê! Mas aquilo me destravou e fez meus braços escorregarem, no mesmo instante, rendidos, sentindo o tecido da sua camiseta, bem justo àquele corpo que o meu tanto gosta, e aí nos abraçamos mesmo. Não houve nenhuma parte nossa que não tenha se encostado. De cima a baixo, era eu e a crush coladas num abraço. Nossas meninas, mesmo separadas pelas roupas, também aproveitaram o contato. A minha deu até uma piscadinha.

Isso tudo durou, sei lá, um minuto, um minuto e meio. O que em termos de abraço é bastante tempo.

Agora me vejo recorrendo àquela cena toda hora, e me desconcentro.


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