Continho
Subiram no elevador em silêncio.
Ela era encanada com as câmeras instaladas dentro daquela caixa – sempre ficava
pensando que um dia aquelas seriam as suas últimas imagens, exibidas em alguma
reportagem sensacionalista na tevê. Por isso, nunca espremia espinhas na frente
daquele enorme espelho (mesmo que a luz fosse ótima para isso).
Havia muita expectativa entre
elas mesmo assim. Imagine só se instigar por mensagens, videochamada e sessões
de sexo virtual durante semanas e depois, finalmente, acaba a quarentena e é
possível colocar aquilo tudo em prática. Merecido! O mundo merecia se livrar de
covid e elas mereciam se livrar daquelas roupas.
Foi quase uma viagem até o topo do
prédio. Os solavancos só não eram mais intensos que o latejar de certas partes
do corpo daquelas duas mulheres confinadas na caixa espelhada, que rangia e
subia, e só parou quando parecia não haver mais para onde se elevar.
Era a primeira vez que a outra vinha
ali. Tinha querido vir antes, mas aquela mulher era muito bitolada, preocupada
em ficar doente (quase neurótica). Por sorte, se aliviaram de outras formas,
mas talvez por isso havia muita vontade e desejo contidos.
Sentiu cheiro de cigarro no
corredor. Achou fofo que na porta da casa dela havia uma placa com o seu nome
(só depois descobriu que aquele mesmo adorno enfeitava a porta do seu quarto
quando ela era bebê). Considerou prático e seguro o fato de ela ter um extintor
de incêndio bem ali, ao seu alcance.
Ao entrar, parecia acessar um
outro mundo, quase uma outra realidade. Ali dentro tudo era mais calmo (mil vasos
de plantas), e perfumado (27 cheiros de incensos diferentes), e quando insinuou
formular um pensamento a respeito ouviu o clique da porta se fechando às suas
costas, e a mão dela em sua cintura, a puxando, virando-a.
Um arrepio percorreu sua espinha
(de cima a baixo, e depois no sentido oposto) quando seus corpos se uniram
naquele primeiro beijo. Havia pressa ali; quase afobação. Os dentes chegaram a
bater umas duas vezes. Elas sorriram, mas não saíram uma da boca da outra.
As mãos se puxavam, se apertavam,
se alisavam. Duas delas já estavam tateando um dos corpos por debaixo da
camiseta, ansiosas pelo contato com aquela pele desejada ao longo de quase uma
quarentena inteira. E quanto mais intenso o toque, mais rápido era o beijo e
mais apressada ficava a respiração, a esta altura bem entrecortada.
Foram alguns minutos da sala até
o quarto – apesar de a distância ser relativamente curta. Não havia barreiras:
a dificuldade era se desgrudarem e caminharem como mulheres normais. A cama, propícia,
ficava apoiada sobre pallets (molas ensacadas à altura do chão). Caíram uma
sobre a outra, mas revezavam quem ficava por cima e quem ficava por baixo.
As roupas foram caindo conforme aumentava
a expectativa e o tesão. Seios à mostra, cheiro de sexo, gosto de mulher. As
duas usavam cueca e não poderia haver nada de mais sexy e feminino naquela cena.
Se lambiam, se beijavam, se sentiam e eram tantas sensações que aquilo tudo
quase doía. Também por isso gemiam.
O orgasmo veio longe de qualquer
risco de se contaminarem com algo que não fosse o próprio gozo. Valeu a pena
esperar!
Marcaram de se encontrar de novo, depois da próxima pandemia.
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