A vizinha nua

Viver em sociedade é um desafio, mas um desafio curioso. Especialmente quando se mora em apartamento, e mais ainda quando se tem prédios em volta. Dá para acompanhar parte da rotina das pessoas: que horas assistem tevê, qual horário acordam, quando saem para fumar.

Os prédios se assemelham a organismos vivos: são luzes que se acendem e apagam, pessoas que surgem e desaparecem da vista. Ele pulsa, de dentro para fora.

E lá sempre tem aquela pessoa mais desinibida – ou mais à vontade, afinal, ela está em casa.

Sim, estamos falando da “vizinha nua”, aquela que basta uma espichadinha de pescoço e, pronto. Já viu tudo.

Ela vive pelada; dança, varre, molha as plantas, tudo sem roupa. Não se importa que estão olhando, mas talvez porque não perceba. Quando pensa a respeito ela até fecha as cortinas ou a veneziana da janela.

Mas em geral não está nem aí. Só está ali, na sua casa. Errados são os outros que olham para as suas intimidades.

Eu adoraria ter uma vizinha nua. Mas nessa vida sou protagonista.



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