A história do vibrador

Na primeira semana da quarentena, ainda sem saber ao certo quanto tempo duraria, como seria (estou em isolamento sozinha, em companhia apenas de uma vira-lata), tomei uma decisão importante que certamente afetará inclusive todo o resto da minha vida (que profundo!). Eu disse: “vou comprar um vibrador”.

Veja, não estou falando de “consolo”, aqueles de borracha. Me refiro àqueles motorzinhos, clássicos, do tipo “encostou, gozou”. Vibrador de clitóris, vamos ser bem claras.

Eu tive um durante uma época da minha vida, lá pelos 20 e poucos anos, que foi meu melhor amigo durante quase uma década. Juro, e olha que ele nem era dos mais modernos, e tinha uma estampa duvidosa, de oncinha. Me desfiz dele quando me despedi de todos os meus brinquedos que ficavam no “saquinho da alegria”. Essa é uma história triste que sinceramente não quero contar.

Foco no vibrador.

Foram mais de 20 dias analisando se deveria mesmo fazer esse investimento. Vivemos épocas duvidosas, de pandemia, que provavelmente acarretarão recesso econômico e os caraio, e sempre fico pensando duas vezes (e três, e quatro, e cinco...) antes de gastar um real que seja. Para ilustrar: todas as noites, entediada, entro no aplicativo do Ifood, vejo os cupons, as promoções, monto meu carrinho e fecho. Fecho o aplicativo, desligo o celular. Vou fazer outra coisa. Às vezes nem janto.

Quando deliberadamente acatei a compra do vibrador, após análises (da conjuntura, do meu tédio e do meu tesão), entrei no site do sex shop (que é ótimo, foi indicação de uma amiga e os preços são super acessíveis) e para meu espanto, e pavor, e decepção, o vibrador tinha se esgotado.

Há vários lá, claro, mas eu tinha gostado daquele. Super discreto, 20 velocidades, à prova d’água, controle sem fio, wireless, parece um ipod. Era rosa, mas era bonitinho.

No final do mês passado saí do Ifood e entrei no site do sex shop.

Sim, essa história tem um final feliz, mas calma que não é agora.

O vibrador não só estava de volta, como agora tinha também na cor preta. Lindo. Seja meu até quebrar.

Comprei e nem pisquei. Ou, se pisquei, foi na hora de colocar o CEP (tem muitos 13). E desde então venho acompanhando o seu progresso (aquela expectativa deliciosa de quando a gente compra algo pela internet). E aí faz uma semana que me cobro de sair de casa para comprar uma pilha palito (vou comprar logo quatro, óbvio).

Eu sou do time que respeita a quarentena até agora. Saio de casa porque sou obrigada mesmo, e apenas para ir quase sempre à quitanda (sou vegetariana). Me obriguei hoje a ir até o mercado. Detesto o mercado, mas ao menos agora está mais tolerável porque posso falar sozinha dentro da máscara e ninguém nem me olha. Olham só quando canto.

Tinha que comprar uma lâmpada para o quarto. Fui daqui até lá falando “lâmpada e pilha, lâmpada e pilha, lâmpada e pilha”. O mercado estava vazio, comprei coca, chocolate, biscoito e duas pizzas, que estavam na promoção. As lâmpadas estavam custando um rim cada uma, e nem tinha aquele bagulho de testar. Foda comprar algo que depois não funciona.

Saí do mercado e fui na loja de material para construção (adoro!). Antes parei na farmácia. Na loja aproveitei e comprei uma lâmpada nova para a cozinha (a que tinha era muito fraquinha, à noite até desanimava assaltar a geladeira). Comprei também uma fita isolante (que aqui em casa tem mil e uma utilidades).

Na volta para casa venho ensaiando o pedido para o porteiro. Precisava da escada emprestada. Sempre fico achando que ele não vai com a minha cara; ele tem cara de riso. Ainda na calçada lembrei da pilha.

Lembrei que não comprei. Lembrei que esqueci.

Só não estou mais frustrada porque agora tenho luzes novas na casa, e o vibrador chega só amanhã. 

Eu disse que o final feliz não era agora!


Clique aqui para acessar o menu completo com todas as histórias.

Ajude esta escritora independenteclique aqui e faça uma doação
Você não precisa se identificar, se não quiser! 💙


Postagens mais visitadas